Pesquisa analisa política externa dos Estados Unidos no pós-Guerra Fria

São Carlos
Estudo venceu o prêmio Fulbright-Capes de Tese 2018 e recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2018
O período pós-Guerra Fria confirmou os Estados Unidos como potência mundial hegemônica politica e economicamente, no mundo capitalista. A partir desse momento, como se comportaram os dois grandes partidos norte-americanos - Democrata e Republicano? Esta foi a pergunta feita por Flávio Contrera em sua tese intitulada "Política externa americana no pós-Guerra Fria: como se posicionam democratas e republicanos?", defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política (PPGPol) da UFSCar, sob orientação da professora Maria do Socorro Sousa Braga, do Departamento de Ciências Sociais (DCSo) da Universidade.

O principal argumento do trabalho é que, depois da Guerra Fria, a política externa dos Estados Unidos se configurou como uma espécie de jogo em um espaço de competição partidária. "A partir disso, verifiquei em quais contextos políticos os posicionamentos dos dois partidos resultaram no emprego de estratégias centrípetas/moderadas ou centrífugas/ideológicas com o intuito de conquistar vitórias", explica o pesquisador. 

Como contextos políticos para a análise, ele considerou os seguintes itens: a variação na percepção sobre a existência de uma ameaça externa aos Estados Unidos (papel representado pela União Soviética durante a Guerra Fria); a taxa de aprovação presidencial; o grau de controle do Executivo sobre o Legislativo; a composição do gabinete de política externa no Executivo; e o alinhamento ideológico da opinião pública. Segundo Contrera, as ações dos partidos políticos decorrem de suas interações com a opinião pública e com seus militantes. "O emprego de estratégias centrípetas se caracteriza pelo fato de o político ter como único objetivo colher as recompensas de um cargo público - as ideologias, portanto, são vistas apenas como um meio de os políticos chegarem ao poder", explica ele. Já a estratégia centrífuga mostra que a obtenção de cargos é apenas um dos objetivos dos políticos, que dispõem de preferências e valores e lutam, de fato, por questões públicas.

Partindo dessas definições, o autor da tese confirmou suas hipóteses de que ambos os partidos utilizam as duas estratégias - o que varia é justamente a situação para cada uma. Os partidos tendem a empregar estratégias centrípetas em contextos caracterizados pela alta percepção de ameaça aos Estados Unidos no exterior, pelo elevado índice de aprovação presidencial, pelo controle do partido no Executivo sobre o Legislativo, pela indicação de uma maioria de pessoas cujo perfil não seja partidário ou ideológico para compor o gabinete de política externa do Executivo e pelo baixo alinhamento ideológico da opinião pública. Já as estratégias centrífugas são empregadas em contextos opostos - marcados pela baixa percepção de ameaças externas, baixo índice de aprovação presidencial, por um Legislativo não controlado pelo Executivo, pela indicação de uma maioria de pessoas com perfil partidário ou ideológico para compor o gabinete da política externa do Executivo e por um alto alinhamento ideológico da opinião pública.

Dentre os principais resultados da pesquisa, Contrera destaca, também, a comprovação da relevância dos partidos na política externa, ainda que exercida indiretamente - através do Presidente e dos ocupantes de cargos de confiança no Executivo e dos legisladores no Congresso. "Esse achado é significativo na medida em que os partidos políticos não são considerados atores tradicionais na política externa, por estarem vinculados à esfera doméstica de poder. Com efeito, os partidos não são recipientes sem conteúdo; eles se caracterizam por ideologias consistentes que se manifestam em suas posições sobre política externa", explica. Além disso, o estudo demonstrou que o emprego de estratégias aparentemente subótimas - que, fazendo alusão aos jogos, consiste em ações que podem variar de acordo com a situação predominante, não sendo necessariamente ótima em todas as esferas - expressam racionalmente as funções que os partidos assumem em cada arena, sendo uma resposta otimizada à interação estratégica e ao contexto político.

A partir dos resultados, Contrera acredita que, no presente e no futuro, os partidos americanos continuarão a atuar neste chamado jogo político. "A pesquisa forneceu elementos para que a política externa pudesse ser compreendida como um jogo em que os partidos empregam determinadas estratégias para conquistar vitórias. Nesse sentido, variações nas posições de política externa dos partidos analisados continuarão a ser estimuladas por variações na taxa de apoio popular ao Presidente, no grau de apoio dos partidos no Congresso ao Executivo e na percepção de existência de uma ameaça externa à segurança nacional", prevê.

Em novembro de 2018, a tese venceu o prêmio Fulbright-Capes de Tese 2018, que elege o melhor trabalho de doutorado sobre a amplitude e a profundidade das relações Brasil-Estados Unidos. Defendida em 2017, a pesquisa também recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2018. Contrera, que conquistou uma bolsa de pós-doutorado nos Estados Unidos, é atual pós-doutorando do PPGPol e dá continuidade ao trabalho, com foco na investigação do impacto do desenho dos sistemas políticos de Brasil e Estados Unidos sobre a ratificação de tratados multilaterais. 

Para o pesquisador, os prêmios representam o reconhecimento de um trabalho sério, desenvolvido ao longo de quatro anos. "Receber essa premiação é muito satisfatório, tendo em vista a superação dos desafios que se colocaram ao longo do caminho. Conquistar o Prêmio Fulbright por meio do PPGPol também sinaliza o ótimo trabalho que vem sendo desenvolvido no âmbito do Programa", finaliza.
22/01/2019
13:00:00
22/02/2019
23:59:00
Adriana Arruda
Não
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Estudante, Docente/TA, Pesquisador, Visitante
Professora Maria do Socorro Braga e aluno Flávio Contrera na entrega dos prêmios (Foto: Divulgação)
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