Pesquisas reunidas em livro evidenciam heterogeneidade de periferias

São Carlos
Obra da EdUFSCar discute vida social, política, econômica e subjetiva a partir de Sapopemba, distrito da cidade de São Paulo

Sapopemba, distrito na zona Leste da cidade de São Paulo, espalha-se por uma área de aproximadamente 13 km2, onde vivem cerca de 300 mil pessoas em 50 bairros. Dele parte o livro "Espaços periféricos: política, violência e território nas bordas da cidade", recém-lançado pela EdUFSCar, em parceria com o Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Mas o alcance da obra, uma coletânea de pesquisas realizadas na região, vai muito além de Sapopemba, discutindo a vida social, política, econômica e subjetiva nas periferias e, assim, destacando a heterogeneidade do espaço periférico, a evolução do conceito de periferia ao longo do tempo e o impacto desta trajetória nas políticas públicas.

A gênese do livro está intimamente relacionada à trajetória de pesquisa de Gabriel de Santis Feltran, docente do Departamento de Sociologia da UFSCar que há mais de 15 anos iniciou pesquisas em Sapopemba. Quando integrava o CEM, Feltran foi supervisor do estágio de pós-doutorado de três dos organizadores do livro, contexto em que propôs a realização de um projeto coletivo de investigação no território. A partir do relato dos resultados deste trabalho, bem como do convite a outras pessoas que realizaram pesquisas em Sapopemba, surgiu o livro, organizado por Matthew Aaron Richmond, Moisés Kopper, Valéria Cristina de Oliveira e Jaqueline Garza Placencia.

Feltran destaca como Sapopemba é um lugar de extremos e desigualdades, em que a pobreza convive com condomínios e avenidas e a proximidade de um dos polos industriais mais importantes no mundo, no ABC paulista. "Temos ali, ao mesmo tempo, um polo de altíssimo desenvolvimento industrial e as moradias populares, de operários, e dos que tentaram ser, que foram atraídos pelo sonho operário mas ficaram longe de viver o trabalho estável e as garantias de um emprego industrial. Ali se gestou, como no ABC, o sonho de um Brasil inclusivo, que trouxesse os trabalhadores à integração social, trouxesse a mobilidade social, a melhoria de vida", situa Feltran.

"Sapopemba fala muito do que é o Brasil. Um lugar periférico, mas que sonha se integrar e vive todas as contradições dessas tentativas de integração. Como o Brasil no mundo, é Sapopemba em São Paulo, e é este povo migrante em uma sociedade mais ampla", avalia o docente da UFSCar. "Nosso objetivo com esta publicação foi reunir um conjunto de pesquisas que possibilita identificar as formas de heterogeneidade que existem na periferia hoje em dia. Sapopemba, embora não seja uma periferia extrema no sentido geográfico e em relação a alguns indicadores, como o de violência, por exemplo, é um microcosmo que pode revelar aspectos mais gerais das periferias", reforça Richmond.

Com 270 páginas, o livro é estruturado em três grandes seções: Estado e Políticas Públicas; Crime e Violência; e Transformações Socioespaciais. As pesquisas relatadas, muitas conduzidas por pesquisadores vinculados ao CEM, em sua grande maioria tiveram trabalhos de campo realizados entre 2016 e 2018. "Temos diversos pesquisadores olhando para diferentes problemas de pesquisa, fazendo uso de diferentes repertórios teórico-metodológicos, para construir uma compreensão de uma mesma região", descreve Oliveira.

Na primeira parte, o interesse principal está, segundo os organizadores, em "explorar as complexas trocas entre operadores locais do Estado e de habitantes de espaços periféricos para apreender os modos diversos através dos quais políticas públicas são territorializadas e adquirem consistência nas vidas das populações periféricas". Embora a violência, em suas diversas formas de expressão, perpasse muitos dos capítulos da obra, na segunda parte do livro estão reunidos trabalhos em que ela é o elemento central de investigação. E, na terceira parte, busca-se compreender as transformações espaciais pelas quais o distrito tem passado.

Para lançamento do livro, a EdUFSCar promove live com os organizadores no dia 3 de março, a partir das 16 horas, no Facebook da Editora. A obra pode ser adquirida no site da EdUFSCar e nas principais livrarias. O livro é o quinto volume da Coleção Marginália de Estudos Urbanos, voltada à difusão de pesquisas empíricas sobre temas urbanos contemporâneos.

01/03/2021
11:20:00
10/05/2021
23:59:00
Mariana Pezzo
Não
Não
Estudante
Obra terá live de lançamento com organizadores no dia 3/3 (Imagem: Divulgação)
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