Problemas da indústria brasileira são anteriores à pandemia
Araras, Lagoa do Sino, Sorocaba, São Carlos
Segundo encontro da série Ciência UFSCar falou de desindustrialização, reforma tributária e indústria 4.0
Com o tema "Indústria brasileira e pandemia: fragilidades, desafios e potenciais", ocorreu em 29 de abril o segundo encontro da série de eventos "Ciência UFSCar". O debate, virtual, teve a presença de Mário Sacomano Neto e Marcelo Silva Pinho, ambos docentes do Departamento de Engenharia de Produção (DEP) do Campus São Carlos da UFSCar, e José Eduardo de Salles Roselino Júnior, do Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades do Campus Sorocaba (DGTH-So).
Na ocasião, os pesquisadores abordaram características da indústria brasileira ao longo das últimas décadas e no âmbito da pandemia de Covid-19. Já no início da conversa, Marcelo Pinho expôs gráficos de evolução da produção industrial mês a mês e, também, na comparação com anos anteriores, para evidenciar como os impactos conjunturais da pandemia, embora grandes nos primeiros meses, tiveram recuperação já no final de 2020. A intenção foi evidenciar que os maiores problemas enfrentados pela indústria nacional são, sobretudo, de natureza estrutural, e que a grande queda na produção aconteceu, na realidade, após a crise de 2015.
"O nível de produção industrial, hoje, está no patamar de 2004. É como se tivéssemos perdido 20 anos de desenvolvimento, o que não é resultado só da pandemia", analisou o pesquisador.
Nas últimas décadas, o Brasil passa por um processo de desindustrialização, ou seja, redução de sua capacidade industrial e, assim, da participação da produção industrial no PIB. Os participantes resgataram aspectos históricos que contribuíram para essa desindustrialização, especialmente a diminuição de investimentos e de estímulos, por parte do Estado, ao setor, deixando o País sem preparo para concorrência externa e com extrema dificuldade de ser competitivo. Fatores como estes se relacionam diretamente, destacaram os debatedores, com as escolhas políticas do País ao longo dessa história.
Para uma possível recuperação econômica, fala-se muito em reforma tributária, ou seja, reformulação do sistema tributário brasileiro, de processos de arrecadação de taxas, impostos e outras contribuições - algo que os pesquisadores da UFSCar reconhecem como importante, enfatizando, no entanto, a multiplicidade de formas que pode tomar a sua implementação. "Na prática, a reforma tributária é definida de acordo com as perspectivas políticas de cada pessoa. No Governo Federal, ela é debatida no âmbito de um conjunto de reformas, todas elas de cunho liberal", registrou Pinho.
Para Sacomano Neto, só a reforma tributária não é suficiente para alavancar a economia. É preciso, também, uma convergência de forças, entre diversos atores, em torno da política industrial brasileira, aumentando a sua competitividade. As características dessa competitividade, conforme complementou Pinho, não se restringem aos custos; envolvem, principalmente, a diferenciação do produto, a consistência na produção, a inovação e a introdução de novos processos, o que implica em investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação e, consequentemente, na interação entre indústria e universidade.
Outro conceito explicado pelos pesquisadores no encontro foi o de indústria 4.0, cada vez mais utilizado. Roselino Júnior explicou que o termo, criado na Alemanha, surge como uma reação do mundo desenvolvido em defesa de suas estruturas produtivas frente à ascensão da China, e se refere a aplicações avançadas de novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). "Ele traz a concepção de uma possível Quarta Revolução Industrial, mas não aposto nesta ideia; estamos, ainda, em uma Terceira Revolução Industrial, que foca no surgimento e expansão de sistemas da Tecnologia da Informação, de telecomunicações e transportes", analisou o docente.
Trabalho
Voltando à pandemia, embora os pesquisadores tenham convergido para a ideia de que o cenário só agravou um quadro econômico já devastado no Brasil, Sacomano Neto refletiu também sobre alguns possíveis impactos positivos. Com as atividades remotas, por exemplo, as empresas aproveitaram para investir em plataformas e em modernização, o que dinamizou o trabalho contemporâneo. No entanto, também aí há impactos negativos, com intensificação da precariedade no trabalho, geralmente com diminuição de equipes e cumprimento de jornadas ainda mais exaustivas pelos trabalhadores.
Em relação à recuperação industrial do País no pós-pandemia, os pesquisadores defendem que o Estado deve assumir a centralidade nas questões industriais, controlar grandes grupos políticos e pensar em políticas redistributivas, para diminuir a desigualdade e aumentar a renda, para que o Brasil possa prosperar. De modo geral, eles expressam otimismo, em longo prazo, com a indústria brasileira, mas necessariamente com uma mudança na visão dos governantes atuais do País.
O "Ciência UFSCar" contou com cobertura ao vivo no Twitter @ciencia_ufscar, e o debate, gravado, está disponível nos canais da UFSCar no YouTube e no Facebook. Sugestões de temas para próximos encontros, bem como solicitações de apoio na divulgação de resultados de pesquisa, podem ser encaminhadas ao e-mail culturacientifica@ufscar.br.
A iniciativa, promovida pela Assessoria de Comunicação Científica da UFSCar, tem o intuito de democratizar o acesso ao conhecimento e colocá-lo em diálogo com outros saberes e com as principais demandas, desafios e problemas da sociedade.
Na ocasião, os pesquisadores abordaram características da indústria brasileira ao longo das últimas décadas e no âmbito da pandemia de Covid-19. Já no início da conversa, Marcelo Pinho expôs gráficos de evolução da produção industrial mês a mês e, também, na comparação com anos anteriores, para evidenciar como os impactos conjunturais da pandemia, embora grandes nos primeiros meses, tiveram recuperação já no final de 2020. A intenção foi evidenciar que os maiores problemas enfrentados pela indústria nacional são, sobretudo, de natureza estrutural, e que a grande queda na produção aconteceu, na realidade, após a crise de 2015.
"O nível de produção industrial, hoje, está no patamar de 2004. É como se tivéssemos perdido 20 anos de desenvolvimento, o que não é resultado só da pandemia", analisou o pesquisador.
Nas últimas décadas, o Brasil passa por um processo de desindustrialização, ou seja, redução de sua capacidade industrial e, assim, da participação da produção industrial no PIB. Os participantes resgataram aspectos históricos que contribuíram para essa desindustrialização, especialmente a diminuição de investimentos e de estímulos, por parte do Estado, ao setor, deixando o País sem preparo para concorrência externa e com extrema dificuldade de ser competitivo. Fatores como estes se relacionam diretamente, destacaram os debatedores, com as escolhas políticas do País ao longo dessa história.
Para uma possível recuperação econômica, fala-se muito em reforma tributária, ou seja, reformulação do sistema tributário brasileiro, de processos de arrecadação de taxas, impostos e outras contribuições - algo que os pesquisadores da UFSCar reconhecem como importante, enfatizando, no entanto, a multiplicidade de formas que pode tomar a sua implementação. "Na prática, a reforma tributária é definida de acordo com as perspectivas políticas de cada pessoa. No Governo Federal, ela é debatida no âmbito de um conjunto de reformas, todas elas de cunho liberal", registrou Pinho.
Para Sacomano Neto, só a reforma tributária não é suficiente para alavancar a economia. É preciso, também, uma convergência de forças, entre diversos atores, em torno da política industrial brasileira, aumentando a sua competitividade. As características dessa competitividade, conforme complementou Pinho, não se restringem aos custos; envolvem, principalmente, a diferenciação do produto, a consistência na produção, a inovação e a introdução de novos processos, o que implica em investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação e, consequentemente, na interação entre indústria e universidade.
Outro conceito explicado pelos pesquisadores no encontro foi o de indústria 4.0, cada vez mais utilizado. Roselino Júnior explicou que o termo, criado na Alemanha, surge como uma reação do mundo desenvolvido em defesa de suas estruturas produtivas frente à ascensão da China, e se refere a aplicações avançadas de novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). "Ele traz a concepção de uma possível Quarta Revolução Industrial, mas não aposto nesta ideia; estamos, ainda, em uma Terceira Revolução Industrial, que foca no surgimento e expansão de sistemas da Tecnologia da Informação, de telecomunicações e transportes", analisou o docente.
Trabalho
Voltando à pandemia, embora os pesquisadores tenham convergido para a ideia de que o cenário só agravou um quadro econômico já devastado no Brasil, Sacomano Neto refletiu também sobre alguns possíveis impactos positivos. Com as atividades remotas, por exemplo, as empresas aproveitaram para investir em plataformas e em modernização, o que dinamizou o trabalho contemporâneo. No entanto, também aí há impactos negativos, com intensificação da precariedade no trabalho, geralmente com diminuição de equipes e cumprimento de jornadas ainda mais exaustivas pelos trabalhadores.
Em relação à recuperação industrial do País no pós-pandemia, os pesquisadores defendem que o Estado deve assumir a centralidade nas questões industriais, controlar grandes grupos políticos e pensar em políticas redistributivas, para diminuir a desigualdade e aumentar a renda, para que o Brasil possa prosperar. De modo geral, eles expressam otimismo, em longo prazo, com a indústria brasileira, mas necessariamente com uma mudança na visão dos governantes atuais do País.
O "Ciência UFSCar" contou com cobertura ao vivo no Twitter @ciencia_ufscar, e o debate, gravado, está disponível nos canais da UFSCar no YouTube e no Facebook. Sugestões de temas para próximos encontros, bem como solicitações de apoio na divulgação de resultados de pesquisa, podem ser encaminhadas ao e-mail culturacientifica@ufscar.br.
A iniciativa, promovida pela Assessoria de Comunicação Científica da UFSCar, tem o intuito de democratizar o acesso ao conhecimento e colocá-lo em diálogo com outros saberes e com as principais demandas, desafios e problemas da sociedade.
06/05/2021
18:10:00
24/06/2021
23:59:00
Adriana Arruda
Sim
Não
Estudante
Debate evidenciou problemas estruturais da indústria brasileira (Imagem: Reprodução YouTube)
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