Pesquisa indica segurança e benefícios do exercício na doença falciforme
São Carlos
Parceria entre UFSCar e Unesp desenvolveu protocolo para realização da atividade física em casa
A doença falciforme - cujo quadro mais grave é chamado de anemia falciforme - é a doença hereditária de maior prevalência no Brasil, atingindo sobretudo a população negra. A estimativa é de 60 mil pessoas vivendo com a doença no País, segundo o Ministério da Saúde. Cerca de três mil crianças por ano nascem com doença falciforme, e o diagnóstico precoce, no chamado "teste do pezinho", é fundamental para o tratamento e melhor qualidade de vida dessas pessoas.
Pacientes com doença falciforme precisam de acompanhamento médico ao longo de toda a vida e, até bem pouco tempo atrás, conviviam, dentre outras limitações, com a impossibilidade de praticar atividades físicas. Agora, um estudo em parceria entre a UFSCar e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) mostrou não só que o exercício é seguro, mas também que traz importantes benefícios cardiovasculares a esses pacientes.
"Como são comuns os relatos de crises dolorosas após atividade física, como, por exemplo, depois de uma criança brincar muito, nós sempre tivemos medo do exercício", conta o hematologista Newton Key Hokama, professor da Faculdade de Medicina da Unesp, campus de Botucatu. "No entanto, lidamos com um universo de pessoas muito diferentes, com quadros distintos da doença, e isso nos fez pensar sobre a pertinência de proibir a atividade física de forma igual para todas", compartilha Hokama, que atua no atendimento de pacientes com doença falciforme no ambulatório de Hematologia do Hospital das Clínicas de Botucatu.
Com a questão em mente e buscando as condições seguras para a realização de atividades físicas por esses pacientes, Hokama uniu a cardiologista Meliza Goi Roscani - então vinculada à Unesp e, hoje, docente do Departamento de Medicina (DMed) da UFSCar - ao educador físico Jonas Alves de Araújo Júnior, seu personal trainer à época. Araújo Júnior transformou o desafio em sua pesquisa de doutorado, realizada no Faculdade de Medicina de Botucatu, sob a orientação de Roscani e coorientação de Hokama. Ao chegar à UFSCar, a pesquisadora envolveu no trabalho também as docentes do Departamento de Fisioterapia (DFisio) da Universidade Aparecida Maria Catai e Tatiana de Oliveira Sato.
"É uma quebra de paradigma, como a que aconteceu com a hipertensão. No passado, também se dizia à pessoa com doença cardiovascular para ficar quieta, pois o exercício iria prejudicá-la. O mesmo acontecia com a doença falciforme", compara Araújo Júnior.
A pesquisa avaliou o impacto de um programa de exercícios físicos para realização em casa junto a um grupo de 27 pacientes com doença falciforme atendidos no ambulatório do Hospital das Clínicas, sendo 14 no grupo que realizou as atividades e 13 em um grupo controle que não recebeu a prescrição. A escolha pelo programa domiciliar levou em consideração a realidade desses pacientes, muitos não residentes em Botucatu - já que o ambulatório é um centro de referência que recebe pacientes de cerca de 30 cidades da região - e também sem tempo ou recursos para frequentar uma academia, por exemplo.
"Nós optamos por uma situação realística, a mais próxima possível do cotidiano desses pacientes. Se fizéssemos o exercício no laboratório, todo supervisionado, seria ruim, pois depois, em casa, uma prática diferente poderia resultar na crise dolorosa, por exemplo", esclarece Roscani.
Os pacientes passaram por avaliação clínica inicial, teste ergométrico e ecocardiograma, para comparação com os mesmos parâmetros após oito semanas de atividades. Cada paciente no grupo experimental recebeu orientações detalhadas em fichas impressas e acompanhamento semanal pelo telefone, além dos momentos em que voltavam ao ambulatório para as consultas de rotina.
O programa consistia em um momento inicial de aquecimento e exercícios de alongamento, seguido de um período de caminhada de intensidade variável, calculada sobre a frequência cardíaca máxima medida na esteira no início do processo. "Não adianta só caminhar. Se não há variações de intensidade, volume, ou a combinação dos dois, o corpo se acomoda. Por isso, é necessário ir variando o estímulo, e fizemos isso tanto no volume, ou seja, no tempo de caminhada, quanto na intensidade, medida pelas porcentagens da frequência", explica Araújo Júnior.
O teste na esteira realizado após as oito semanas indicou os impactos na capacidade funcional, com aumento significativo na distância percorrida, que praticamente dobrou entre os pacientes que fizeram as atividades. O ecocardiograma também indicou ganhos na função cardiopulmonar, e nenhum paciente teve crise desencadeada pelo programa de exercícios. Além disso, embora não tenha sido realizada medida objetiva do parâmetro, alguns pacientes relataram inclusive diminuição nas dores articulares provocadas pela doença falciforme.
Assim, os resultados do estudo reforçam que a prática de exercícios físicos - com seus benefícios amplamente conhecidos - é uma possibilidade para pessoas com doença falciforme, desde que com prescrição e monitoramento adequados. Mais do que isso, os responsáveis pela pesquisa indicam que esses benefícios levam, inclusive, ao entendimento do exercício como possível tratamento adjuvante no acompanhamento desses pacientes.
A pesquisa levou à elaboração do artigo intitulado "Cardiovascular benefits of a home-based exercise program in patients with sickle cell disease", publicado hoje na revista "PLOS ONE", prestigiado periódico internacional.
Pacientes com doença falciforme precisam de acompanhamento médico ao longo de toda a vida e, até bem pouco tempo atrás, conviviam, dentre outras limitações, com a impossibilidade de praticar atividades físicas. Agora, um estudo em parceria entre a UFSCar e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) mostrou não só que o exercício é seguro, mas também que traz importantes benefícios cardiovasculares a esses pacientes.
"Como são comuns os relatos de crises dolorosas após atividade física, como, por exemplo, depois de uma criança brincar muito, nós sempre tivemos medo do exercício", conta o hematologista Newton Key Hokama, professor da Faculdade de Medicina da Unesp, campus de Botucatu. "No entanto, lidamos com um universo de pessoas muito diferentes, com quadros distintos da doença, e isso nos fez pensar sobre a pertinência de proibir a atividade física de forma igual para todas", compartilha Hokama, que atua no atendimento de pacientes com doença falciforme no ambulatório de Hematologia do Hospital das Clínicas de Botucatu.
Com a questão em mente e buscando as condições seguras para a realização de atividades físicas por esses pacientes, Hokama uniu a cardiologista Meliza Goi Roscani - então vinculada à Unesp e, hoje, docente do Departamento de Medicina (DMed) da UFSCar - ao educador físico Jonas Alves de Araújo Júnior, seu personal trainer à época. Araújo Júnior transformou o desafio em sua pesquisa de doutorado, realizada no Faculdade de Medicina de Botucatu, sob a orientação de Roscani e coorientação de Hokama. Ao chegar à UFSCar, a pesquisadora envolveu no trabalho também as docentes do Departamento de Fisioterapia (DFisio) da Universidade Aparecida Maria Catai e Tatiana de Oliveira Sato.
"É uma quebra de paradigma, como a que aconteceu com a hipertensão. No passado, também se dizia à pessoa com doença cardiovascular para ficar quieta, pois o exercício iria prejudicá-la. O mesmo acontecia com a doença falciforme", compara Araújo Júnior.
A pesquisa avaliou o impacto de um programa de exercícios físicos para realização em casa junto a um grupo de 27 pacientes com doença falciforme atendidos no ambulatório do Hospital das Clínicas, sendo 14 no grupo que realizou as atividades e 13 em um grupo controle que não recebeu a prescrição. A escolha pelo programa domiciliar levou em consideração a realidade desses pacientes, muitos não residentes em Botucatu - já que o ambulatório é um centro de referência que recebe pacientes de cerca de 30 cidades da região - e também sem tempo ou recursos para frequentar uma academia, por exemplo.
"Nós optamos por uma situação realística, a mais próxima possível do cotidiano desses pacientes. Se fizéssemos o exercício no laboratório, todo supervisionado, seria ruim, pois depois, em casa, uma prática diferente poderia resultar na crise dolorosa, por exemplo", esclarece Roscani.
Os pacientes passaram por avaliação clínica inicial, teste ergométrico e ecocardiograma, para comparação com os mesmos parâmetros após oito semanas de atividades. Cada paciente no grupo experimental recebeu orientações detalhadas em fichas impressas e acompanhamento semanal pelo telefone, além dos momentos em que voltavam ao ambulatório para as consultas de rotina.
O programa consistia em um momento inicial de aquecimento e exercícios de alongamento, seguido de um período de caminhada de intensidade variável, calculada sobre a frequência cardíaca máxima medida na esteira no início do processo. "Não adianta só caminhar. Se não há variações de intensidade, volume, ou a combinação dos dois, o corpo se acomoda. Por isso, é necessário ir variando o estímulo, e fizemos isso tanto no volume, ou seja, no tempo de caminhada, quanto na intensidade, medida pelas porcentagens da frequência", explica Araújo Júnior.
O teste na esteira realizado após as oito semanas indicou os impactos na capacidade funcional, com aumento significativo na distância percorrida, que praticamente dobrou entre os pacientes que fizeram as atividades. O ecocardiograma também indicou ganhos na função cardiopulmonar, e nenhum paciente teve crise desencadeada pelo programa de exercícios. Além disso, embora não tenha sido realizada medida objetiva do parâmetro, alguns pacientes relataram inclusive diminuição nas dores articulares provocadas pela doença falciforme.
Assim, os resultados do estudo reforçam que a prática de exercícios físicos - com seus benefícios amplamente conhecidos - é uma possibilidade para pessoas com doença falciforme, desde que com prescrição e monitoramento adequados. Mais do que isso, os responsáveis pela pesquisa indicam que esses benefícios levam, inclusive, ao entendimento do exercício como possível tratamento adjuvante no acompanhamento desses pacientes.
A pesquisa levou à elaboração do artigo intitulado "Cardiovascular benefits of a home-based exercise program in patients with sickle cell disease", publicado hoje na revista "PLOS ONE", prestigiado periódico internacional.
12/05/2021
15:50:00
13/07/2021
23:59:00
Mariana Pezzo
Sim
Não
Estudante
Participantes fizeram caminhada e alongamentos (Foto: jcomp, via Freepik)
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