Acervos históricos e biológicos promovem preservação da memória
Araras, Lagoa do Sino, Sorocaba, São Carlos
Temática foi abordada no primeiro encontro da série Convergências, da UFSCar, que estreou no dia 10 de junho
O que uma coleção de animais das cavernas brasileiras e um acervo de mapas, recortes de jornais, peças de artesanato e outros materiais relacionados à memória histórica e cultural do nosso país têm em comum? Muita coisa, tanto em termos de potencial quanto de desafios, como revelou o primeiro encontro da série de eventos "Convergências", iniciativa em parceria da Pró-Reitoria de Pesquisa (ProPq) com a Assessoria para Comunicação Científica da UFSCar.
Com o tema "Acervos e coleções: do passado na memória a futuros diversos pela pesquisa e formação", o evento, realizado remotamente no dia 10 de junho, partiu de apresentações dos acervos do Laboratório de Estudos Subterrâneos (LES), vinculado ao Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva (DEBE), e da Unidade Especial de Informação e Memória (UEIM), vinculada ao Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH).
Maria Elina Bichuette, docente do DEBE e coordenadora do LES, contou que a coleção de biota subterrânea - de cavernas e outros ambientes subterrâneos - do Laboratório teve início em 2006. "O Brasil tem mais de 150 mil cavernas cadastradas, e a coleção do LES é uma das principais no País, construída por material coletado em projetos de pesquisa em diferentes regiões", contextualizou a docente. São cerca de 17 mil lotes de diversos grupos, como esponjas de água doce, peixes cavernícolas, invertebrados, morcegos, anfíbios, aracnídeos, dentre outros.
"A ideia é que ela conte a história da fauna, em geral, e que cada grupo ali conte uma história única. Além de ter um espaço físico, o LES também está migrando para uma versão online, como mais uma forma de disseminar o conhecimento científico", enfatizou Bichuette.
João Roberto Martins Filho, professor aposentado junto ao Departamento de Ciências Sociais (DCSo) da UFSCar, apresentou a UEIM, criada em 1998 e dirigida pelo pesquisador entre 2007 e 2013. A Unidade é voltada à conservação da memória histórica e cultural regional e nacional, abrigando documentos privados e públicos, mapas e plantas históricas, cartazes, folhetos, almanaques, fotografias, obras de arte e de artesanato, filmes, microfilmes, discos de vinil, partituras e coleções de periódicos, além de cerca de 40 mil livros. Possui arquivos datados desde o século XIX.
"Há documentos restaurados inéditos, como cartas de Monteiro Lobato ao fazendeiro Nhonhô Magalhães", contou Martins Filho, falando de raridade descoberta em 2011, pela equipe da UEIM, ao organizar exposição sobre o fazendeiro.
Após apresentação dos acervos, a primeira convergência surgiu do fato de ambos os locais guardarem muitos objetos que preservam memórias.
"Os materiais se perpetuam por centenas de anos. Muitas ciências dependem deles, e serão utilizados para contar histórias antigas - de ambientes que até não existem mais. O guardar conta a história para daqui 100, 200, 300 anos", expressou Bichuette. Os acervos, portanto, não são simples depósitos, já que existe uma curadoria e todo um trabalho de identificação, organização e produção de conhecimento e, além disso, oportunidades de abertura ao público. "É um guardar precioso", sintetizou a coordenadora do LES.
Martins Filho corroborou essa ideia e reforçou a importância dos materiais guardados na UEIM para a fundamentação histórica, principalmente considerando a situação política do Brasil à época da ditadura militar e atualmente. "Promover o acesso às coleções é uma forma de disseminar fatos e conhecimentos. Este, inclusive, é um papel importante da Universidade", registrou.
Outra convergência entre o LES e a UEIM é que tanto os espécimes da biodiversidade quanto os documentos e outros materiais históricos precisam de cuidados especiais de armazenamento e manutenção. Bichuette explicou que, no caso dos animais, a maneira de guardá-los depende muito da espécie - por exemplo, uns, a seco; outros, por via úmida. Os cuidados se mantêm no momento de expor os itens, pois é necessária, por exemplo, iluminação especial, dentre outros detalhes voltados à conservação.
O mesmo ocorre com documentos, especialmente os impressos, que precisam de cuidados para serem armazenados e, às vezes, restaurados. Por isso, os docentes ressaltaram a importância de ter profissionais especializados atuantes nos acervos.
Atualmente, os acervos contam com o envolvimento de pesquisadores, estudantes e servidores docentes e técnico-administrativos da Universidade. No entanto, a falta de cargos para curadoria é uma preocupação. "Especialmente na área de Ciências Humanas, nós temos cada vez menos verbas disponíveis, inclusive para a preservação. No entanto, estamos em um momento de resistência, e nossos esforços para a disseminação desses espaços históricos é essencial", pontuou Martins Filho.
Bichuette complementou, mencionando que, ao levar essas coleções ao conhecimento público, é possível incentivar novos pesquisadores a dar continuidade aos estudos e pesquisas ali preservados e sensibilizar as pessoas em relação à importância da conservação de materiais históricos.
Com mediação da jornalista Mariana Pezzo, da Assessoria de Comunicação Científica, e comentários da Pró-Reitora de Pesquisa Adjunta, Diana Junkes Bueno Martha, o encontro foi gravado e está disponível nos canais da UFSCar no YouTube e no Facebook. Sugestões de temas para próximos encontros podem ser encaminhadas ao e-mail convergencias.ufscar@gmail.com.
"Convergências" objetiva valorizar e arejar os debates na e a partir da diferença, em busca de caminhos para o pensamento, acessos aos sentidos e promoção de uma sociedade mais justa, digna e democrática, com a participação dos vários conhecimentos nas discussões.
Com o tema "Acervos e coleções: do passado na memória a futuros diversos pela pesquisa e formação", o evento, realizado remotamente no dia 10 de junho, partiu de apresentações dos acervos do Laboratório de Estudos Subterrâneos (LES), vinculado ao Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva (DEBE), e da Unidade Especial de Informação e Memória (UEIM), vinculada ao Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH).
Maria Elina Bichuette, docente do DEBE e coordenadora do LES, contou que a coleção de biota subterrânea - de cavernas e outros ambientes subterrâneos - do Laboratório teve início em 2006. "O Brasil tem mais de 150 mil cavernas cadastradas, e a coleção do LES é uma das principais no País, construída por material coletado em projetos de pesquisa em diferentes regiões", contextualizou a docente. São cerca de 17 mil lotes de diversos grupos, como esponjas de água doce, peixes cavernícolas, invertebrados, morcegos, anfíbios, aracnídeos, dentre outros.
"A ideia é que ela conte a história da fauna, em geral, e que cada grupo ali conte uma história única. Além de ter um espaço físico, o LES também está migrando para uma versão online, como mais uma forma de disseminar o conhecimento científico", enfatizou Bichuette.
João Roberto Martins Filho, professor aposentado junto ao Departamento de Ciências Sociais (DCSo) da UFSCar, apresentou a UEIM, criada em 1998 e dirigida pelo pesquisador entre 2007 e 2013. A Unidade é voltada à conservação da memória histórica e cultural regional e nacional, abrigando documentos privados e públicos, mapas e plantas históricas, cartazes, folhetos, almanaques, fotografias, obras de arte e de artesanato, filmes, microfilmes, discos de vinil, partituras e coleções de periódicos, além de cerca de 40 mil livros. Possui arquivos datados desde o século XIX.
"Há documentos restaurados inéditos, como cartas de Monteiro Lobato ao fazendeiro Nhonhô Magalhães", contou Martins Filho, falando de raridade descoberta em 2011, pela equipe da UEIM, ao organizar exposição sobre o fazendeiro.
Após apresentação dos acervos, a primeira convergência surgiu do fato de ambos os locais guardarem muitos objetos que preservam memórias.
"Os materiais se perpetuam por centenas de anos. Muitas ciências dependem deles, e serão utilizados para contar histórias antigas - de ambientes que até não existem mais. O guardar conta a história para daqui 100, 200, 300 anos", expressou Bichuette. Os acervos, portanto, não são simples depósitos, já que existe uma curadoria e todo um trabalho de identificação, organização e produção de conhecimento e, além disso, oportunidades de abertura ao público. "É um guardar precioso", sintetizou a coordenadora do LES.
Martins Filho corroborou essa ideia e reforçou a importância dos materiais guardados na UEIM para a fundamentação histórica, principalmente considerando a situação política do Brasil à época da ditadura militar e atualmente. "Promover o acesso às coleções é uma forma de disseminar fatos e conhecimentos. Este, inclusive, é um papel importante da Universidade", registrou.
Outra convergência entre o LES e a UEIM é que tanto os espécimes da biodiversidade quanto os documentos e outros materiais históricos precisam de cuidados especiais de armazenamento e manutenção. Bichuette explicou que, no caso dos animais, a maneira de guardá-los depende muito da espécie - por exemplo, uns, a seco; outros, por via úmida. Os cuidados se mantêm no momento de expor os itens, pois é necessária, por exemplo, iluminação especial, dentre outros detalhes voltados à conservação.
O mesmo ocorre com documentos, especialmente os impressos, que precisam de cuidados para serem armazenados e, às vezes, restaurados. Por isso, os docentes ressaltaram a importância de ter profissionais especializados atuantes nos acervos.
Atualmente, os acervos contam com o envolvimento de pesquisadores, estudantes e servidores docentes e técnico-administrativos da Universidade. No entanto, a falta de cargos para curadoria é uma preocupação. "Especialmente na área de Ciências Humanas, nós temos cada vez menos verbas disponíveis, inclusive para a preservação. No entanto, estamos em um momento de resistência, e nossos esforços para a disseminação desses espaços históricos é essencial", pontuou Martins Filho.
Bichuette complementou, mencionando que, ao levar essas coleções ao conhecimento público, é possível incentivar novos pesquisadores a dar continuidade aos estudos e pesquisas ali preservados e sensibilizar as pessoas em relação à importância da conservação de materiais históricos.
Com mediação da jornalista Mariana Pezzo, da Assessoria de Comunicação Científica, e comentários da Pró-Reitora de Pesquisa Adjunta, Diana Junkes Bueno Martha, o encontro foi gravado e está disponível nos canais da UFSCar no YouTube e no Facebook. Sugestões de temas para próximos encontros podem ser encaminhadas ao e-mail convergencias.ufscar@gmail.com.
"Convergências" objetiva valorizar e arejar os debates na e a partir da diferença, em busca de caminhos para o pensamento, acessos aos sentidos e promoção de uma sociedade mais justa, digna e democrática, com a participação dos vários conhecimentos nas discussões.
14/06/2021
18:30:00
15/07/2021
23:59:00
Adriana Arruda
Sim
Não
Estudante
Convergências estreou em 10/6, abordando acervos e coleções (Imagem: Reprodução YouTube)
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