Hashtag #EleNão inspira estudo de como discurso digital estimula à ação
São Carlos
Livro da EdUFSCar sobre ressignificação no contexto digital tem lançamento em 15 de outubro, a partir das 16 horas
Criado em 2018, o movimento #EleNão surgiu como protesto contra a candidatura à Presidência da República de Jair Bolsonaro e seu discurso insultuoso direcionado, principalmente, às mulheres, aos negros e à comunidade LGBTQIAPN+.
Iniciado nos meios digitais, o protesto tomou grandes proporções, com ações presenciais de movimentos sociais, grupos feministas, partidos e outros coletivos. A hashtag traz, em sua construção linguística, palavras de negação e de um sujeito claro, que caracterizam uma resposta imediata e a ressignificação da sociedade perante as declarações do candidato e, mais do que isso, de ameaças à democracia.
Análises de ressignificações do discurso digital como esta compõem o lançamento da Editora da UFSCar (EdUFSCar) "Ressignificação em contexto digital", de Marie-Anne Paveau, docente de Ciências da Linguagem na Université Sorbonne Paris Nord (França); Julia Lourenço Costa, pesquisadora de pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL) da UFSCar e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp); e Roberto Leiser Baronas, docente do Departamento de Letras (DL), também da UFSCar.
A publicação é fruto de diálogos e estudos dos três pesquisadores, em parceria acadêmica e interinstitucional que se iniciou em 2016 entre o PPGL e a Unidade de Pesquisa Pluridisciplinar Pléiade, da instituição francesa.
O livro apresenta a Internet como um espaço de reinvenção das relações sociais, entendendo o discurso digital como algo que pode se opor à violência e ser um lugar de memória, luta e resistência.
O entendimento de ressignificação no discurso digital proposto pelos autores se volta às ações de grupos comumente atingidos por discursos de ódio, sobretudo na Internet - como os homossexuais, as mulheres e a comunidade negra -, que buscam defender suas pautas e identidades, reivindicar direitos e se fortalecer socialmente.
A ressignificação, portanto, surge a partir deste movimento de violência, para contra-argumentá-la. "Não se trata de simplesmente ?devolver? o insulto a quem o proferiu; o discurso digital se torna ação por se transformar em bandeira de luta de coletivos minorizados, invisibilizados e discriminados na sociedade", expõe Baronas.
Com isso, os grupos tentam propor um espaço de pautas sociais que não é, necessariamente, de conflito, e que pode fomentar diálogos políticos e efetivos. "Também visa práticas no mundo físico - ir para as ruas, carregar cartazes, propor coletivos que debatam temas de forma eficaz. Trata-se de uma primeira forma de agrupamento, que pode derivar em mudanças práticas e efetivas na vida destes sujeitos", complementa o docente da UFSCar.
#EleNão e hashtag salamandra
Ao longo de 132 páginas, a obra, dividida em introdução, dois capítulos e uma parte final, além de prefácio e posfácio, objetiva descrever e interpretar a ressignificação do discurso digital. O primeiro capítulo - "A ressignificação na web social: princípios teóricos-metodológicos" - se dedica ao quadro conceitual da análise do discurso digital, trazendo suas principais definições e características.
O segundo - "#EleNão: a hashtag salamandra nos entremeios da política brasileira" - traz a aplicação prática dessa ressignificação digital para a realidade brasileira. A análise destaca justamente que uma das formas de promover a ressignificação no discurso digital é por meio das hashtags, que movimentam e unem determinados grupos. "A hashtag, quando criada e compartilhada, é um modo rápido de as pessoas clicarem e terem acesso ao debate atual e à troca de informações sobre determinado tema nas redes sociais. Ela também pode ganhar força fora do ambiente digital, como aconteceu com a #EleNão", situa Lourenço.
A partir deste fio condutor, os autores avançam na teoria e trazem, na obra, o conceito de "hashtag salamandra", expressão criada por Paveau em alusão a este animal que, quando ferido, tem a capacidade biológica de regenerar o membro que foi mutilado, reabilitando seu poder de ação.
Assim, a partir da hashtag - #EleNão -, surgem as mais diversas possibilidades de reconstrução, tal como ocorre com a salamandra. "Tivemos o surgimento da #EleSim, que algumas pessoas usaram de contra-argumento à #EleNão, em defesa de Bolsonaro; outras, no entanto, usaram para se referir à imagem do outro candidato à Presidência. Surgiram, também #EleNunca, #EleJamais, reforçando a hashtag de origem; e, do outro lado, #EleSempre", registra a pesquisadora.
Assim, o conceito de "hashtag salamandra" propõe um movimento sinuoso, de argumento e contra-argumento, réplica e tréplica. "É infinito, se as pessoas se sentirem impelidas a produzirem cada vez mais repostas em torno da hashtag inicial. São formas de linguagem que mostram o movimento de recomposição e de confronto entre dois posicionamentos na política brasileira", pontua Lourenço.
Por fim, o livro traz, na parte dedicada à conclusão - "Ressignificação: do cedilha intruso a dispositivos tecnodiscursivos culturais de memória e resistência" -, outros exemplos do Brasil que foram ressignificados e sua relação com a política, bem como com novos meios de resistência.
Lançamento
O lançamento da obra acontece - virtualmente - no dia 15 de outubro, a partir das 16 horas, na programação da série de eventos "EdUFSCar no ar", iniciativa da EdUFSCar em parceria com Instituto da Cultura Científica e a Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da Universidade.
A mediação do encontro será de Wilson Alves-Bezerra, docente do DL e Diretor da EdUFSCar, com a participação dos autores. A transmissão será feita via Facebook - nas páginas UFSCar Oficial e EdUFSCar - e YouTube (em UFSCar Oficial), com participação aberta às pessoas interessadas, que poderão apresentar questões aos convidados.
O livro "Ressignificação em contexto digital" está disponível para compra no site da Editora, e, até 16 de outubro, tem desconto de 30%.
Iniciado nos meios digitais, o protesto tomou grandes proporções, com ações presenciais de movimentos sociais, grupos feministas, partidos e outros coletivos. A hashtag traz, em sua construção linguística, palavras de negação e de um sujeito claro, que caracterizam uma resposta imediata e a ressignificação da sociedade perante as declarações do candidato e, mais do que isso, de ameaças à democracia.
Análises de ressignificações do discurso digital como esta compõem o lançamento da Editora da UFSCar (EdUFSCar) "Ressignificação em contexto digital", de Marie-Anne Paveau, docente de Ciências da Linguagem na Université Sorbonne Paris Nord (França); Julia Lourenço Costa, pesquisadora de pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL) da UFSCar e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp); e Roberto Leiser Baronas, docente do Departamento de Letras (DL), também da UFSCar.
A publicação é fruto de diálogos e estudos dos três pesquisadores, em parceria acadêmica e interinstitucional que se iniciou em 2016 entre o PPGL e a Unidade de Pesquisa Pluridisciplinar Pléiade, da instituição francesa.
O livro apresenta a Internet como um espaço de reinvenção das relações sociais, entendendo o discurso digital como algo que pode se opor à violência e ser um lugar de memória, luta e resistência.
O entendimento de ressignificação no discurso digital proposto pelos autores se volta às ações de grupos comumente atingidos por discursos de ódio, sobretudo na Internet - como os homossexuais, as mulheres e a comunidade negra -, que buscam defender suas pautas e identidades, reivindicar direitos e se fortalecer socialmente.
A ressignificação, portanto, surge a partir deste movimento de violência, para contra-argumentá-la. "Não se trata de simplesmente ?devolver? o insulto a quem o proferiu; o discurso digital se torna ação por se transformar em bandeira de luta de coletivos minorizados, invisibilizados e discriminados na sociedade", expõe Baronas.
Com isso, os grupos tentam propor um espaço de pautas sociais que não é, necessariamente, de conflito, e que pode fomentar diálogos políticos e efetivos. "Também visa práticas no mundo físico - ir para as ruas, carregar cartazes, propor coletivos que debatam temas de forma eficaz. Trata-se de uma primeira forma de agrupamento, que pode derivar em mudanças práticas e efetivas na vida destes sujeitos", complementa o docente da UFSCar.
#EleNão e hashtag salamandra
Ao longo de 132 páginas, a obra, dividida em introdução, dois capítulos e uma parte final, além de prefácio e posfácio, objetiva descrever e interpretar a ressignificação do discurso digital. O primeiro capítulo - "A ressignificação na web social: princípios teóricos-metodológicos" - se dedica ao quadro conceitual da análise do discurso digital, trazendo suas principais definições e características.
O segundo - "#EleNão: a hashtag salamandra nos entremeios da política brasileira" - traz a aplicação prática dessa ressignificação digital para a realidade brasileira. A análise destaca justamente que uma das formas de promover a ressignificação no discurso digital é por meio das hashtags, que movimentam e unem determinados grupos. "A hashtag, quando criada e compartilhada, é um modo rápido de as pessoas clicarem e terem acesso ao debate atual e à troca de informações sobre determinado tema nas redes sociais. Ela também pode ganhar força fora do ambiente digital, como aconteceu com a #EleNão", situa Lourenço.
A partir deste fio condutor, os autores avançam na teoria e trazem, na obra, o conceito de "hashtag salamandra", expressão criada por Paveau em alusão a este animal que, quando ferido, tem a capacidade biológica de regenerar o membro que foi mutilado, reabilitando seu poder de ação.
Assim, a partir da hashtag - #EleNão -, surgem as mais diversas possibilidades de reconstrução, tal como ocorre com a salamandra. "Tivemos o surgimento da #EleSim, que algumas pessoas usaram de contra-argumento à #EleNão, em defesa de Bolsonaro; outras, no entanto, usaram para se referir à imagem do outro candidato à Presidência. Surgiram, também #EleNunca, #EleJamais, reforçando a hashtag de origem; e, do outro lado, #EleSempre", registra a pesquisadora.
Assim, o conceito de "hashtag salamandra" propõe um movimento sinuoso, de argumento e contra-argumento, réplica e tréplica. "É infinito, se as pessoas se sentirem impelidas a produzirem cada vez mais repostas em torno da hashtag inicial. São formas de linguagem que mostram o movimento de recomposição e de confronto entre dois posicionamentos na política brasileira", pontua Lourenço.
Por fim, o livro traz, na parte dedicada à conclusão - "Ressignificação: do cedilha intruso a dispositivos tecnodiscursivos culturais de memória e resistência" -, outros exemplos do Brasil que foram ressignificados e sua relação com a política, bem como com novos meios de resistência.
Lançamento
O lançamento da obra acontece - virtualmente - no dia 15 de outubro, a partir das 16 horas, na programação da série de eventos "EdUFSCar no ar", iniciativa da EdUFSCar em parceria com Instituto da Cultura Científica e a Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da Universidade.
A mediação do encontro será de Wilson Alves-Bezerra, docente do DL e Diretor da EdUFSCar, com a participação dos autores. A transmissão será feita via Facebook - nas páginas UFSCar Oficial e EdUFSCar - e YouTube (em UFSCar Oficial), com participação aberta às pessoas interessadas, que poderão apresentar questões aos convidados.
O livro "Ressignificação em contexto digital" está disponível para compra no site da Editora, e, até 16 de outubro, tem desconto de 30%.
12/10/2021
12/10/2021
18:00:00
18/10/2021
23:59:00
Adriana Arruda
Sim
Não
Estudante
Livro tem lançamento em 15 de outubro, a partir das 16 horas (Imagem: Luana de Souza)
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