Teste diagnóstico criado na UFSCar vence Prêmio Dasa de Inovação Médica
Um teste inovador para diagnóstico de hanseníase desenvolvido na UFSCar, em parceria com a Universidade Federal do Paraná, acaba de ser anunciado vencedor do Prêmio Dasa-Veja Saúde de Inovação Médica 2021, na categoria Medicina Diagnóstica. A premiação, conduzida por júri técnico formado por profissionais que são referências na Medicina brasileira, busca, segundo os organizadores, reconhecer projetos, instituições e profissionais de Saúde "que fazem a diferença nas áreas científica, clínica e assistencial". Além de Medicina Diagnóstica, há as categorias de inovação em Prevenção e Promoção da Saúde; Genômica; Tratamento; Medicina Social; e Healthtech.
"Foi com muita satisfação que recebemos a notícia da premiação. Entendemos que é um reconhecimento do nosso trabalho, do esforço que temos dispendido em pesquisa ao longo dos anos. Temos conseguido obter resultados bastante interessantes em termos de diagnóstico e, especificamente este para hanseníase, que é uma doença negligenciada, é algo que é motivo de muito orgulho e de muita alegria", compartilha Ronaldo Censi Faria, docente do Departamento de Química (DQ) da UFSCar e coordenador do Laboratório de Bioanalítica e Eletroquímica.
O teste vem se somar a uma série de outros dispositivos desenvolvidos pelo grupo de Faria, como os dispositivos para diagnóstico precoce de Alzheimer, alguns tipos de câncer e, mais recentemente, também Covid-19. Essas plataformas, dentre outras características, funcionam a partir de mecanismo chave-fechadura entre duas moléculas - no caso, peptídeo presente no bacilo causador da hanseníase e anticorpo - que, quando se ligam, emitem sinal eletroquímico que pode ser lido nos dispositivos desenvolvidos. No teste para diagnóstico da hanseníase, quanto mais bacilos presentes no paciente, mais anticorpos ele desenvolve e, quanto mais anticorpos, maior o sinal eletroquímico medido.
Hanseníase
A eliminação da hanseníase está no horizonte da Organização Mundial da Saúde (OMS) para os próximos 10 anos. No Brasil, no entanto, a doença persiste como problema de saúde pública. Na estratégica global de combate elaborada pela OMS, um dos aspectos centrais é justamente a detecção ativa e precoce de novos casos, para interrupção da cadeia de transmissão. O diagnóstico precoce também é importante para que o tratamento comece o mais rapidamente possível e, assim, sejam evitados danos permanentes às pessoas acometidas.
No entanto, hoje, o diagnóstico ainda é sobretudo clínico, ou seja, apenas após o aparecimento dos sintomas, o que pode demorar anos desde a infecção, e o desenvolvimento de testes para uso na comunidade ou no local do primeiro atendimento é, inclusive, um dos grandes desafios elencados entre as prioridades de pesquisa na estratégia de OMS.
A solução premiada foi desenvolvida em uma parceria da UFSCar com a Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Quando as pessoas com hanseníase procuram atendimento, é muito comum que o comprometimento já seja grande. Em 2019, por exemplo, 10% dos novos casos no Brasil, cerca de duas mil pessoas, já tinha o chamado comprometimento de grau dois, com perda de acuidade visual e dificuldade, por exemplo, de segurar um copo. Por isso também a relevância do diagnóstico precoce", complementa Juliana Ferreira de Moura, docente do Departamento de Patologia Básica da UFPR que, junto com Faria, orienta os trabalhos que resultaram no teste patenteado e, agora, premiado. Além deles, são titulares da patente Cristiane Zocatelli Ribeiro e Sthéfane Valle de Almeida, estudantes de doutorado orientadas, respectivamente, por Moura e Faria.
Mais informações sobre a nova tecnologia e seu processo de desenvolvimento podem ser conferidas em matéria publicada recentemente no Portal da UFSCar. Moura e Faria também falaram sobre o assunto no episódio #7 do podcast Ciência UFSCar.
Os estudos e esforços de pesquisa que resultaram no teste contaram com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O processo de registro da patente teve apoio da Agência de Inovação (AIn) da UFSCar.