Obesidade abdominal aumenta risco de baixa concentração de vitamina D
Araras, Lagoa do Sino, Sorocaba, São Carlos
Estudo da UFSCar destaca resultado em pessoas a partir de 50 anos e reforça a importância da prevenção
Um estudo realizado por pesquisadores dos departamentos de Gerontologia (DGero) e Fisioterapia (DFisio) da UFSCar identificou que a obesidade abdominal aumenta o risco de desenvolver insuficiência e deficiência de vitamina D em pessoas com 50 anos ou mais. A pesquisa analisou dados de mais de 2,4 mil pessoas e acompanhou os casos por quatro anos.
O trabalho integra o projeto de Iniciação Científica de Thaís Barros Pereira da Silva, graduada em Gerontologia pela UFSCar, sob orientação de Tiago da Silva Alexandre, docente do DGero, coordenador do Grupo de Pesquisa em Epidemiologia e Envelhecimento (GEPEN) e do International Collaboration of Longitudinal Studies of Aging (InterCoLAging), um consórcio de estudos longitudinais que conta com o Estudo ELSA (English Longitudinal Study of Ageing). Foi a partir de dados do ELSA, que possui uma amostra representativa de adultos residentes da comunidade inglesa com 50 anos ou mais, que a pesquisa foi desenvolvida. O estudo contou, também, com a coorientação de Mariane Marques Luiz, doutoranda em Fisioterapia pela UFSCar, e com a participação de pesquisadores da University College London (UCL), de Londres, na Inglaterra.
A vitamina D tem como principal função a regulação do metabolismo do cálcio no organismo e, por ser considerada um pré-hormônio, também possui uma importante atuação em várias funções vitais do organismo. Sua principal forma de obtenção é através da luz solar. Nas camadas mais profundas da pele há o armazenamento de uma substância precursora da vitamina D que tem sua estrutura modificada quando a pele é exposta ao sol. Em seguida, através de vários processos metabólicos, a vitamina D é convertida na sua forma ativa e passa a circular pelo organismo.
De acordo com Thaís Barros, pessoas idosas representam um grupo de risco para a diminuição das concentrações séricas de vitamina D. Com o avanço da idade, é comum que haja uma diminuição da espessura da pele, o que acarreta uma menor disponibilidade da substância precursora da vitamina D na epiderme, bem como uma menor capacidade de síntese da forma ativa dessa vitamina. Também há uma diminuição do número de receptores de vitamina D nos tecidos corporais, o que dificulta a captação dessa vitamina circulante no organismo. Sendo assim, muitos sistemas são afetados, como, por exemplo, o imunológico, o cardiovascular e o musculoesquelético, pois são dependentes do metabolismo da vitamina D e contam com a presença de receptores de vitamina D, sinalizando a atuação dessa vitamina em suas funções.
Além do avanço da idade, estudos têm demonstrado que a obesidade, uma condição altamente prevalente em pessoas idosas, parece estar associada com a diminuição das concentrações sanguíneas de vitamina D. No entanto, esses estudos avaliaram a obesidade pelo índice de massa corporal (IMC), uma ferramenta não tão adequada para a população idosa.
A autora do estudo explica que "o envelhecimento é seguido de uma série de mudanças na composição corporal, como a diminuição da gordura subcutânea e aumento do depósito de gordura na região abdominal. Contudo, quase sempre essas duas mudanças ocorrem mantendo um peso corporal estável. O problema é que o depósito de gordura abdominal é muito inflamatório para o organismo e está associado com maior risco de doenças cardiovasculares e mortalidade. Portanto, como o IMC não é capaz de indicar o local do depósito de gordura e não faz a distinção entre gordura e músculo, é um recurso pouco sensível às alterações da composição corporal em pessoas idosas".
De acordo com Barros, além da falta de estudos com foco na obesidade abdominal, os poucos trabalhos envolvendo essa temática apontam a obesidade como uma consequência da deficiência de vitamina D e não como a possível condição causadora da redução de suas concentrações no sangue. Por esse motivo, a pesquisadora explica que "o estudo teve como objetivo investigar se a obesidade abdominal seria um fator de risco para o desenvolvimento da insuficiência e deficiência de vitamina D em pessoas com mais de 50 anos".
Pesquisa e resultados
Para conduzir o trabalho, foram incluídas 2.459 pessoas residentes na Inglaterra com 50 anos ou mais e com concentrações sanguíneas de vitamina D maiores do que 50 nmol/L (nível considerado normal ou suficiente). Esses indivíduos foram então classificados quanto à ausência ou presença de obesidade abdominal, definida pela medida da circunferência de cintura > 102 cm em homens e > 88 cm em mulheres.
Após quatro anos de acompanhamento, os indivíduos tiveram suas concentrações séricas de vitamina D medidas novamente para verificar se elas permaneciam suficientes ou se as pessoas avaliadas tinham desenvolvido quadros de insuficiência (> 30 e ? 50 nmol/L) ou de deficiência (? 30 nmol/L). Dessa forma, foi possível verificar que os indivíduos que apresentavam obesidade abdominal tiveram um risco 36% maior de desenvolverem insuficiência e 64% maior de desenvolverem deficiência de vitamina D quando comparados aos indivíduos que não tinham obesidade abdominal.
Tiago Alexandre explica que a presença do receptor de vitamina D, denominado VDR, no tecido adiposo justifica os resultados encontrados pelo estudo. De acordo com ele, "as enzimas que estão envolvidas no processo de metabolização da vitamina D encontram-se em menor número no tecido adiposo e, como forma de compensar esse desequilíbrio, o VDR captura a vitamina D circulante no organismo e a retém nesse tecido. Esse mecanismo implica a diminuição da biodisponibilidade da vitamina no organismo e repercute no quadro de insuficiência e deficiência de vitamina D".
O docente acrescenta que "os resultados deste estudo reforçam a necessidade do planejamento de estratégias de prevenção e enfrentamento da obesidade e da deficiência de vitamina D a fim de reduzir suas complicações, bem como apontam o uso da circunferência de cintura como uma forma de triagem efetiva de indivíduos obesos e com potencial risco de desenvolver insuficiência e deficiência de vitamina D".
O estudo teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Recentemente, a pesquisa foi publicada na Nutrients, uma das revistas mais conceituadas na área de Nutrição, e pode ser acessada neste link.
O trabalho integra o projeto de Iniciação Científica de Thaís Barros Pereira da Silva, graduada em Gerontologia pela UFSCar, sob orientação de Tiago da Silva Alexandre, docente do DGero, coordenador do Grupo de Pesquisa em Epidemiologia e Envelhecimento (GEPEN) e do International Collaboration of Longitudinal Studies of Aging (InterCoLAging), um consórcio de estudos longitudinais que conta com o Estudo ELSA (English Longitudinal Study of Ageing). Foi a partir de dados do ELSA, que possui uma amostra representativa de adultos residentes da comunidade inglesa com 50 anos ou mais, que a pesquisa foi desenvolvida. O estudo contou, também, com a coorientação de Mariane Marques Luiz, doutoranda em Fisioterapia pela UFSCar, e com a participação de pesquisadores da University College London (UCL), de Londres, na Inglaterra.
A vitamina D tem como principal função a regulação do metabolismo do cálcio no organismo e, por ser considerada um pré-hormônio, também possui uma importante atuação em várias funções vitais do organismo. Sua principal forma de obtenção é através da luz solar. Nas camadas mais profundas da pele há o armazenamento de uma substância precursora da vitamina D que tem sua estrutura modificada quando a pele é exposta ao sol. Em seguida, através de vários processos metabólicos, a vitamina D é convertida na sua forma ativa e passa a circular pelo organismo.
De acordo com Thaís Barros, pessoas idosas representam um grupo de risco para a diminuição das concentrações séricas de vitamina D. Com o avanço da idade, é comum que haja uma diminuição da espessura da pele, o que acarreta uma menor disponibilidade da substância precursora da vitamina D na epiderme, bem como uma menor capacidade de síntese da forma ativa dessa vitamina. Também há uma diminuição do número de receptores de vitamina D nos tecidos corporais, o que dificulta a captação dessa vitamina circulante no organismo. Sendo assim, muitos sistemas são afetados, como, por exemplo, o imunológico, o cardiovascular e o musculoesquelético, pois são dependentes do metabolismo da vitamina D e contam com a presença de receptores de vitamina D, sinalizando a atuação dessa vitamina em suas funções.
Além do avanço da idade, estudos têm demonstrado que a obesidade, uma condição altamente prevalente em pessoas idosas, parece estar associada com a diminuição das concentrações sanguíneas de vitamina D. No entanto, esses estudos avaliaram a obesidade pelo índice de massa corporal (IMC), uma ferramenta não tão adequada para a população idosa.
A autora do estudo explica que "o envelhecimento é seguido de uma série de mudanças na composição corporal, como a diminuição da gordura subcutânea e aumento do depósito de gordura na região abdominal. Contudo, quase sempre essas duas mudanças ocorrem mantendo um peso corporal estável. O problema é que o depósito de gordura abdominal é muito inflamatório para o organismo e está associado com maior risco de doenças cardiovasculares e mortalidade. Portanto, como o IMC não é capaz de indicar o local do depósito de gordura e não faz a distinção entre gordura e músculo, é um recurso pouco sensível às alterações da composição corporal em pessoas idosas".
De acordo com Barros, além da falta de estudos com foco na obesidade abdominal, os poucos trabalhos envolvendo essa temática apontam a obesidade como uma consequência da deficiência de vitamina D e não como a possível condição causadora da redução de suas concentrações no sangue. Por esse motivo, a pesquisadora explica que "o estudo teve como objetivo investigar se a obesidade abdominal seria um fator de risco para o desenvolvimento da insuficiência e deficiência de vitamina D em pessoas com mais de 50 anos".
Pesquisa e resultados
Para conduzir o trabalho, foram incluídas 2.459 pessoas residentes na Inglaterra com 50 anos ou mais e com concentrações sanguíneas de vitamina D maiores do que 50 nmol/L (nível considerado normal ou suficiente). Esses indivíduos foram então classificados quanto à ausência ou presença de obesidade abdominal, definida pela medida da circunferência de cintura > 102 cm em homens e > 88 cm em mulheres.
Após quatro anos de acompanhamento, os indivíduos tiveram suas concentrações séricas de vitamina D medidas novamente para verificar se elas permaneciam suficientes ou se as pessoas avaliadas tinham desenvolvido quadros de insuficiência (> 30 e ? 50 nmol/L) ou de deficiência (? 30 nmol/L). Dessa forma, foi possível verificar que os indivíduos que apresentavam obesidade abdominal tiveram um risco 36% maior de desenvolverem insuficiência e 64% maior de desenvolverem deficiência de vitamina D quando comparados aos indivíduos que não tinham obesidade abdominal.
Tiago Alexandre explica que a presença do receptor de vitamina D, denominado VDR, no tecido adiposo justifica os resultados encontrados pelo estudo. De acordo com ele, "as enzimas que estão envolvidas no processo de metabolização da vitamina D encontram-se em menor número no tecido adiposo e, como forma de compensar esse desequilíbrio, o VDR captura a vitamina D circulante no organismo e a retém nesse tecido. Esse mecanismo implica a diminuição da biodisponibilidade da vitamina no organismo e repercute no quadro de insuficiência e deficiência de vitamina D".
O docente acrescenta que "os resultados deste estudo reforçam a necessidade do planejamento de estratégias de prevenção e enfrentamento da obesidade e da deficiência de vitamina D a fim de reduzir suas complicações, bem como apontam o uso da circunferência de cintura como uma forma de triagem efetiva de indivíduos obesos e com potencial risco de desenvolver insuficiência e deficiência de vitamina D".
O estudo teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Recentemente, a pesquisa foi publicada na Nutrients, uma das revistas mais conceituadas na área de Nutrição, e pode ser acessada neste link.
17/04/2023
8:30:00
01/05/2023
23:55:00
Gisele Bicaletto
Sim
Não
Estudante
Pesquisa analisou dados de mais 2,4 mil pessoas e as acompanhou por quatro anos (Foto: Pixabay)
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