Destruição da política é tema de livro digital de professor da UFSCar

Araras, Sorocaba, Lagoa do Sino, São Carlos
Obra, com acesso gratuito, aborda fenômeno no cenário global e nacional

Foi lançado em agosto o livro "A destruição da política", de Vinício Carrilho Martinez, professor do Departamento de Educação (DEd) da UFSCar. A obra, em formato digital, tem acesso gratuito pelo site da Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB), em eduepb.uepb.edu.br/e-books, e reflete sobre a ideia de um projeto político de destruição da política.

Esse projeto de destruição da política, segundo o professor, "consiste em modelos, formas, sistemas autoritários, autocráticos que se destinam ao controle social, a tipos variados de aniquilação do espaço público. Da Turquia e da Hungria, atuais, ao 8 de janeiro de 2023, à Lava Jato. De Gedeão ao Golpe civil/empresarial-militar de 1964; da 'Batalha de Argel' (um filme clássico neste gênero) a todos os golpes sangrentos na América Latina. A chamada fase de 'generalíssima' de Gabriel Garcia Márquez é um primor dessa doença política que nunca cessa".

Segundo o professor, esse projeto de destruição da política é um fenômeno internacional, e tem longa data. "A 'Sociedade de Controle' já era apontada na década de 1970, por Deleuze. O fascínio técnico do Nazismo foi reportado por Marcuse. Vemos acontecer, neste exato momento, a extrema direita ganhar muita força na Argentina; na Itália, subiu ao poder com o Partido Fascista. Na África, há uma sequência de golpes, contragolpes. A Ucrânia tinha um grande agrupamento militar nazista (Batalhão Azov), a Rússia também tem (ou tinha) o seu: o Wagner Group. É um fenômeno globalizado, apresentando variações maiores ou menores, mais claras ou difusas, mais ou menos militarizadas, do que se chamou juridicamente de Estado de Exceção (ou exception), com uso de todos os mecanismos possíveis para se tomar o poder ou ali se manter", resgata o professor, que mostra como o fenômeno também atingiu o Brasil. "A indústria de fake news, o controle econômico e elitista das mídias oficiais, o envolvimento do Judiciário (na Lava Jato, no golpe de Estado de 2016), de partes significativas dos setores políticos e militares, são recursos presentes", explica o docente. Martinez mostra que, historicamente, "o caso mais antigo dessa forma-Estado dissolutiva da política ou de outros Estados e comunidades é o cerco total de Troia, na 'Ilíada' de Homero. Há um Cervantes também: 'El Cerco a Numancia'. Albert Camus tem dois clássicos justapostos: 'A Peste' e 'Estado de Sítio'. Ou passagens bíblicas em que se destacam técnicas militares de guerra assimétrica, dissuasivas, disruptivas: Juízes 7: 15-21 (Gedeão)", complementa.

A ideia do livro, segundo o autor, nasceu de um conjunto de disciplinas que ele oferece no Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PPGCTS) da UFSCar e, mais recentemente, foi produzido um livro a partir de uma disciplina nova: "Sociedade de Controle". Ele explica que "no início, era um punhado de verbetes, a própria ideia originária de Sociedade de Controle, capitalismo de vigilância, vigilância líquida, império da vigilância. Porém, como trabalho com uma metodologia dinâmica nos cursos, na segunda oferta da disciplina os verbetes aumentaram - obviamente, incluímos o Fascismo Nacional, o Golpe de Estado (de 2016, por exemplo), o que chamei de Necrofascismo (diagnosticado em outros três livros) e outros. Hoje, são praticamente 40 verbetes sobre formas de ataque à República, à Federação, ao Estado Democrático de Direito, a exemplo dos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023".

Na obra, além de explicitar o projeto de destruição da política, Martinez ainda busca pactuar a experiência da Política como construtora de sociabilidade. "Resumidamente, entendo que somos 'animais políticos' (é a nossa própria condição humana, como ensinou a filósofa Hannah Arendt, e muito antes dela o filósofo grego Aristóteles). Dessa condição de habitação na política, vem todo o nosso 'fazer-se política' e é isso que nos transforma, dando-se formas enquanto seres sociais. Em suma, da política inerente designamos as formações sociais que nos imprimem mais ou menos empatia, interação. A política é, assim, a origem da inteligência social", declara o autor.

Leia na íntegra a entrevista com o professor Vinício Carrilho Martinez no site Gente de Opinião. Dúvidas podem ser esclarecidas pelo e-mail vicama@uol.com.br.

28/09/2023
8:30:00
03/11/2023
23:55:00
Denise Britto
Sim
Não
Estudante
Obra, com acesso gratuito, aborda fenômeno no cenário global e nacional (Imagem: Divulgação)
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