De Pitágoras aos Problemas do Milênio: o que a Matemática investiga?
Sem a Matemática não haveria pirâmides no Egito. Apreciadores da geometria, os egípcios dedicavam-se com afinco ao cálculo de áreas e volumes, o que foi essencial para a edificação dessas edificações, que são maravilhas do Mundo Antigo. Da Grécia são muitas as contribuições. Há Pitágoras, famoso por seu teorema, que estabelece a relação entre os lados de um triângulo retângulo; Euclides, que escreveu "Os Elementos", obra seminal que sistematizou a geometria e definiu axiomas e postulados básicos; e Arquimedes, com os avanços na geometria, cálculo e física, conhecido por suas contribuições à teoria das alavancas. E podemos remontar à Babilônia, civilização que prosperou entre os séculos 18 e 6 a.C., território onde hoje é o sul do Iraque, e que introduziu um sistema de numeração baseado em 60, inspiração para a criação das medidas de tempo que usamos hoje (como 60 segundos em um minuto e 60 minutos em uma hora).
Mas a Matemática não é coisa do passado. Ela está no presente e no futuro - na condição de área do conhecimento que se dedica à construção, justificativa e análise dos métodos em si, o que denominamos de matemática pura, e na compreensão de fenômenos, resolução de problemas e previsão de acontecimentos relacionados a diferentes áreas do conhecimento, o que chamamos de matemática aplicada.
Por exemplo, o texto grafado aqui, nesta plataforma web, não existiria sem matemática. O processo de acionamento de tecla e a correspondência, no visor, da letra acionada, é possível por meio de uma linguagem matemática, que assegura o processo de reconhecimento de tecla, denominada comunicação binária, com a utilização de 0's e 1's.
É também por meio da matemática que se espera encontrar a solução para os Problemas do Milênio, estabelecidos pelo Clay Mathematics Institute (Instituto Clay de Matemática, em português), fundação privada sem fins lucrativos, baseada em Cambridge, Massachusetts. A correta solução de qualquer um deles resulta em um prêmio de um milhão de dólares entregues pelo Instituto. "Até o momento somente um dos sete problemas foi resolvido, em 2003, pelo matemático Grigori Perelman", destaca Francisco Vanderson Moreira de Lima, pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Hoje em dia, analisa o docente, a pesquisa em matemática é bem vasta e está em um período de absurda expansão. "Em boa parte isso se deve a maior internacionalização deste campo de conhecimento e à tecnologia. A existência do repositório de preprints [artigos científicos ainda não publicados], nomeado arXiv, é um marco para a área, pois democratiza o acesso à pesquisa realizada". Na plataforma do arXiv (https://arxiv.org), é possível encontrar, de forma gratuita e com acesso livre, aproximadamente 2,4 milhões de artigos científicos nos campos da Física, Matemática, Ciência da Computação, entre outras áreas.
Vitrine da Matemática
Na XI Bienal de Matemática, que acontece no Campus São Carlos da UFSCar, de 28 de julho a 2 de agosto, muitos debates têm sido realizados para tentar a solução de grandes problemas, entre eles "como desmistificar a aprendizagem da Matemática?", tema abordado na reportagem de João Eduardo Justi.
Outro mito, segundo Moreira de Lima, é que "para fazer matemática, uma pessoa precisa ter um talento nato. Na verdade, isto está longe da realidade". Para o professor e pesquisador, as principais características para se dar bem na área são a dedicação, a vontade de aprender e a disposição para pensar bastante. "Os bons pesquisadores que eu conheço todos têm isso em comum. Além disso, durante a minha trajetória eu conheci muitas pessoas com personalidades e histórias de vida bem distintas. Então o que eu vejo é um grande potencial para a diversidade na área, e precisamos nos esforçar para que esta aumente cada vez mais".
"A Matemática se divide em várias subáreas, como Análise, Álgebra, Geometria etc., e dentro destas existem vários subtópicos. Os interesses vão desde de propriedades dos números primos até modelagem de problemas da natureza", completa. "De fato, qualquer questão que possa ser formulada em linguagem matemática pode gerar um problema interessante dentro da área. Além disso, é frequente que a solução a um problema gere novas perguntas e problemas a serem solucionados", completa o docente.
Acompanhe os principais assuntos debatidos na XI Bienal de Matemática em https://sbm.org.br/xi-bienal.