Aluno do curso de Letras da UFSCar é o primeiro graduando indígena a desenvolver Projeto de Iniciação Científica com apoio da Fapesp

Araras, Sorocaba, São Carlos
O aluno do terceiro ano do curso de Letras da UFSCar, Luciano Ariabo Quezo, é o primeiro graduando indígena a desenvolver projeto de Iniciação Científica com bolsa Fundação de Amparo á Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). O projeto é orientado pela docente do Departamento de Letras da UFSCar, Maria Sílvia Cintra Martins, e visa à construção de um livro didático na língua indígena Umutina, para ser utilizado nas séries iniciais do Ensino Fundamental da aldeia Umutina, que é comunidade de origem do pesquisador.

A comunidade indígena Umutina, localizada no Estado de Mato Grosso (MT), no município de Barra dos Bugres, conta com aproximadamente 600 pessoas, sendo que 130 são alunos indígenas da escola estadual Julá Paré. Com seu projeto, Luciano pretende contribuir para fortalecer a formação dos profissionais da educação básica intercultural indígena e para a revitalização da cultura indígena local.

O aluno irá produzir e acompanhar a aplicação de material didático bilingue a ser utilizado no quarto ano do Ensino Fundamental de escola indígena diferenciada localizada na aldeia Umutina.

Luciano explica que a iniciativa do projeto surgiu a partir da execução de outro projeto de Iniciação Científica, do CNPq, com o tema "A importância da língua Umutina na escola Umutina". O povo Umutina está passando por um processo de revitalização de vários itens e componentes da cultura Umutina e, principalmente, a língua. "No primeiro projeto realizei um levantamento das condições e de como é trabalhada a questão da língua na escola, já refletindo também na minha contribuição para o fortalecimento da mesma. Percebi então que, a escola necessitava de ferramentas para auxiliar o professor e o aluno, por isso, a ideia de se construir um livro didático bilingue", explica Luciano. Ele está montando esse material pensando no envolvimento do professor, aluno, pais e dos membros mais velhos da comunidade e acredita que o envolvimento de todos fará com que a produção tenha sucesso.

A metodologia utilizada será a qualitativa, participativa e colaborativa, e de acordo com a orientadora Maria Sílvia, parte do projeto vem sendo desenvolvida no campus São Carlos da UFSCar, através das sessões de orientação e de pesquisa bibliográfica, particularmente no que concerne aos livros didáticos utilizados no Ensino Fundamental. Outra parte é desenvolvida nas visitas à aldeia, feitas pela orientadora e pelo pesquisador. "Nas idas a campo, temos conversado com diversos sujeitos indígenas como professores, coordenadores e diretores de escola, anciãos e crianças. Temos mostrado a eles os resultados parciais da pesquisa, ou seja, as primeiras partes que vêm sendo redigidas para o livro. Eles têm opinado e fornecido sugestões valiosas que têm contribuído para o redirecionamento e aprimoramento da proposta inicial", afirma Maria Sílvia.

A adaptação e tradução para a língua indígena Umutina não será um problema para Luciano, que é profundo conhecedor da língua e, além disso, de acordo com a orientadora, como a pesquisa é eminentemente colaborativa, as questões linguísticas vêm sendo discutidas com outros sujeitos da comunidade, processo que, por si só, já vem contribuindo para a revitalização da língua indígena Umutina, dentro do espírito próprio da pesquisa-ação.

O projeto já está no seu oitavo mês de execução e Luciano afirma que o material poderá na maioria das vezes ser entendido até por crianças, ou pessoas que não tem o contato com a língua Umutina.

Atualmente, o pesquisador reflete também sobre a possibilidade da utilização do material em outras escolas, mesmo não indígenas, valendo-se da existência da Lei 11.645, que prevê a inclusão de elementos da cultura e da história indígena nos currículos de todas as escolas brasileiras.

Na UFSCar o ingresso de graduandos indígenas vem se dando desde 2008. No Departamento de Letras, a professora e orientadora Maria Sílvia, desenvolve, desde 2009, atividades de extensão (ACIEPEs) voltados para um acesso mais pleno à modalidade acadêmica por parte desses estudantes. "Centramo-nos no estudo da Língua Portuguesa, mas também na realização de uma diversidade de atividades que sejam motivadoras para a própria convivência dentro do ambiente acadêmico, como quando realizamos a II Mostra de Cultura Indígena na Biblioteca Comunitária", declara Maria Sílvia. Também são estabelecidas relações com escolas da rede municipal de ensino, propiciando o diálogo de vários graduandos indígenas com jovens e crianças do Ensino Fundamental de São Carlos.
22/03/2012
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12/04/2012
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Patrícia Lelli
Não
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