UFSCar é a primeira a implantar as Comunidades de Aprendizagem no Brasil

São Carlos
O "Comunidades de Aprendizagem", projeto de pesquisa e extensão da UFSCar, está sendo implantado em mais uma instituição de ensino de São Carlos. Depois das escolas municipais Antônio Stella Moruzzi, Dalila Galli e Janete Martinelli Lia, chegou a vez da Escola Estadual Alice Madeira, do distrito de Santa Eudóxia, ser transformada social e culturalmente, pelos próprios funcionários, alunos e seus familiares.

Elaborado na Universidade de Barcelona, na década de 1990, e há 10 anos no Brasil, sendo desenvolvido pelo Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa (Niase) da UFSCar em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, o "Comunidades de Aprendizagem", tem o objetivo de discutir a relação família-escola e, através da democratização do conhecimento, solucionar problemas como a dificuldade dos profissionais da educação em dialogar com a comunidade, além do próprio fracasso escolar dos estudantes.

Segundo Roseli de Mello, professora do Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas da UFSCar e responsável pelo projeto, costuma-se culpar as famílias pelo baixo desempenho acadêmico dos estudantes, porém a disputa que se estabelece entre familiares e professores em torno dos alunos é o fator principal que impossibilita esse avanço: "É fundamental estabelecer comunicação produtiva com as famílias. Profissionais e familiares podem consensuar ações que favoreçam as aprendizagens e a escola pode ganhar mais vida e riqueza de interações se for aberta para a comunidade", alerta Mello. E é isso que a proposta de Comunidades de Aprendizagem faz, oferece o caminho teórico-metodológico para efetivar essa ação educativa.

Roseli explica que o programa tem a intenção de alcançar a aprendizagem de máxima qualidade para todas as crianças, jovens e adultos que estudam na escola, por meio de uma convivência respeitosa. Para isso, se faz necessário o compromisso e a implicação de todos os envolvidos, além de ação comunicativa e aprendizagem dialógica. A partir desses conceitos, um processo de mudanças acontece, principalmente, por conta das interações entre as pessoas e da reflexão gerada a partir do diálogo entre elas. Por meio de uma conversa igualitária, na qual cada pessoa faz sua própria contribuição e as falas não são classificadas como melhores ou piores, mas apreciadas como diferentes, a relação entre as pessoas e o seu entorno, e o conceito que têm de si mesmas e das instituições em que vivem começa a ser transformado.

O processo de implantação do "Comunidades de Aprendizagem" passa por várias fases. A Escola Estadual Alice Madeira está passando pela primeira delas, a fase de sensibilização, em que acontece a apresentação do contexto atual e das novas necessidades formativas. Após tomar conhecimento de como funciona o programa, crianças, professores, pais, familiares, comunidade do bairro e equipe de direção da escola decidirão se querem ou não iniciar um processo de transformação e, se a resposta for sim, passam a idealizar a escola dos seus sonhos. A partir dos meios e os recursos com os quais a escola já conta, planos a curto, médio e longo prazos são traçados e prioridades estabelecidas. Depois, na etapa de planejamento, a escola traça um plano de transformação e estabelece a melhor maneira de concretizá-lo. As fases seguintes dizem respeito ao processo de consolidação da proposta, no qual todo o esforço se dá no sentido de fomentar a aceleração das aprendizagens, buscando mudanças nos processos educativos, sendo que, para isso, são desenvolvidas atividades com voluntários, tanto em sala de aula como em outros espaços da escola.

No "Comunidades de Aprendizagem", cursos de formação como cursinho pré-vestibular, aulas de Informática, Inglês, Espanhol, Leitura, Escrita e Dança também são oferecidos aos familiares dos alunos. Roseli de Mello conta que essas formações também são essenciais para o projeto e devem ser pensadas constantemente, de acordo com as necessidades da comunidade. "A escola deve ser um espaço aberto às diversas necessidades formativas contando com voluntários para uma ampliação constante da oferta de formação. Além disso, a aprendizagem das pessoas adultas potencializa a aprendizagem dos alunos da escola", destaca Mello.

Ao todo existem hoje 76 Comunidades de Aprendizagem no mundo, sendo duas em escolas de Educação Infantil; 64 em escolas de Educação Infantil e ensino primário; sete escolas de Ensino Médio; e três escolas de pessoas adultas. No Brasil, além de São Carlos, onde mais de 3.500 pessoas, entre alunos e familiares, já participaram do projeto, apenas uma escola no Mato Grosso do Sul vivencia o programa. São Carlos foi a primeira cidade a implantar o projeto e possui o maior número de Comunidades de Aprendizagem do Brasil.

Flavia Belo, diretora da Escola Municipal Antônio Stella Moruzzi, primeira Comunidade de Aprendizagem brasileira, afirma que houve grande melhora no ensino e na convivência na escola. "Desde então, temos passado por muitos momentos de reflexão sobre a escola que queremos, sobre nossa prática pedagógica, a qualidade de ensino oferecida e o que necessitamos investir e melhorar. Ao longo destes anos, temos feito boas parcerias com familiares, funcionários da escola, estudantes mais velhos atuando com estudantes mais novos, ex-alunos que hoje são voluntários e professores de universidades públicas e privadas do município", relata a diretora.

Roseli de Mello finaliza dizendo que não é possível transformar uma escola sem que os profissionais que ali trabalham queiram que ela aconteça. Ter uma secretaria de educação que apoie e confie nas escolas, como acontece em São Carlos, também é fundamental. "Uma escola fechada em si mesma, com profissionais que não se abrem à comunicação com seu entorno é uma escola que não é boa para ninguém, nem para os próprios profissionais", aponta Mello.

Para participar do "Comunidades de Aprendizagem" não há seleção para as escolas. As próprias instituições devem pedir para conhecer o projeto e, pelo menos, 80% de seus profissionais aprovarem a proposta. Em maio, Roseli de Mello, em coautoria com Fabiana Braga e Vanessa Gabassaa, lançam o livro "Comunidades de Aprendizagem - Outra escola é possível", pela EdUFSCar. A obra oferecerá dados e instrumentos para quem tem interesse em desenvolver uma "Comunidade de Aprendizagem". Mais informações podem ser obtidas no Niase, pelo telefone (16) 3351-8277 ou pelo site www.comunidadesdeaprendizagem.ufscar.br.

23/04/2012
16:35:20
01/05/2012
23:59:00
Eduardo Sotto Mayor
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