Professor do DS lança livro em que explora os ideais de masculinidade e branquitude no Brasil do final do século 19
São Carlos
Publicação é resultado de dez anos de pesquisas e explora como um novo discurso sobre o desejo e a sexualidade emergiu no País
No dia 21 de outubro, foi lançado em Águas de Lindóia (SP), durante o 36º encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), o livro "O desejo da nação: masculinidade e branquitude no Brasil de fins do XIX". A publicação, de autoria de Richard Miskolci, professor do Departamento de Sociologia (DS) da UFSCar, é resultado de quase dez anos de pesquisas e explora como um novo discurso sobre o desejo e a sexualidade emergiu no Brasil, associado ao projeto nacional que pautou a transição da Monarquia à República, do escravagismo ao regime de trabalho livre implementado em meio à intensa imigração europeia e abandono estatal da população negra.
Os argumentos do autor em torno da temática são desenvolvidos por meio da análise de três romances do fim do século XIX: O Ateneu (1888), Bom Crioulo (1895) e Dom Casmurro (1900). Com o objetivo de resgatar uma parte ignorada da história do Brasil, Miskolci reconstitui os ideais acionados pelo desejo de criar uma nação "branca". Com isso, revela o autor, ele pretende colocar em cena o medo das elites com relação ao povo e seu erotismo. "Em uma época que compreendia o desejo como instinto, nossas elites associavam a sexualidade ao reino da natureza e clamavam por seu controle e moralização visando seu agenciamento em favor do projeto de 'branquear' o País", enfatiza Miskolci, que afirma ainda que, com isso, percebe-se como o desejo da nação não era um trivial objetivo político, "pois materializou medidas governamentais e de Estado que podem ser compreendidas como uma biopolítica. Além disso, também influenciou os valores e a moralidade vigentes constituindo um regime erótico ideal que deixou marcas na sociedade brasileira atual", ressalta o pesquisador.
Em sua obra, Miskolci articula discussões políticas e econômicas frequentemente vistas como relacionadas apenas a classe e "raça" ou à classe ou "raça" com íntimas transformações na esfera do erotismo e da sexualidade. Segundo ele, assim são articuladas a história pública e privada, demonstrando conexões profundas entre esferas frequentemente analisadas como separadas. "O desejo da nação explora as relações entre nacionalidade, raça, gênero e sexualidade reconstituindo em termos históricos e analisando sociologicamente como em nosso país foram criadas formas particulares de masculinidade e branquitude", explica o autor.
Partindo do final do XIX, Miskolci termina seu livro com a criação do Serviço Militar Obrigatório em 1916, evento considerado por ele como culminante do projeto nacional da República Velha, que transformava o projeto biopolítico de criar uma população branca em uma tecnologia de adestramento corporal e subjetivo que via no soldado o homem disciplinado e preparado para a guerra, o ideal de cidadão. "Um ideal que permanecia assombrado pelos desejos homoeróticos criados em contextos de sociabilidade masculina como o exército e as escolas", finaliza.
Publicado pela Editora Annablume, o livro tem prefácio de Margareth Rago, apresentação de Mariza Corrêa e capa de Mário Pizzignacco. Mais informações também podem ser obtidas no site do Grupo de Pesquisa Corpo, Identidades e Subjetivações.
Os argumentos do autor em torno da temática são desenvolvidos por meio da análise de três romances do fim do século XIX: O Ateneu (1888), Bom Crioulo (1895) e Dom Casmurro (1900). Com o objetivo de resgatar uma parte ignorada da história do Brasil, Miskolci reconstitui os ideais acionados pelo desejo de criar uma nação "branca". Com isso, revela o autor, ele pretende colocar em cena o medo das elites com relação ao povo e seu erotismo. "Em uma época que compreendia o desejo como instinto, nossas elites associavam a sexualidade ao reino da natureza e clamavam por seu controle e moralização visando seu agenciamento em favor do projeto de 'branquear' o País", enfatiza Miskolci, que afirma ainda que, com isso, percebe-se como o desejo da nação não era um trivial objetivo político, "pois materializou medidas governamentais e de Estado que podem ser compreendidas como uma biopolítica. Além disso, também influenciou os valores e a moralidade vigentes constituindo um regime erótico ideal que deixou marcas na sociedade brasileira atual", ressalta o pesquisador.
Em sua obra, Miskolci articula discussões políticas e econômicas frequentemente vistas como relacionadas apenas a classe e "raça" ou à classe ou "raça" com íntimas transformações na esfera do erotismo e da sexualidade. Segundo ele, assim são articuladas a história pública e privada, demonstrando conexões profundas entre esferas frequentemente analisadas como separadas. "O desejo da nação explora as relações entre nacionalidade, raça, gênero e sexualidade reconstituindo em termos históricos e analisando sociologicamente como em nosso país foram criadas formas particulares de masculinidade e branquitude", explica o autor.
Partindo do final do XIX, Miskolci termina seu livro com a criação do Serviço Militar Obrigatório em 1916, evento considerado por ele como culminante do projeto nacional da República Velha, que transformava o projeto biopolítico de criar uma população branca em uma tecnologia de adestramento corporal e subjetivo que via no soldado o homem disciplinado e preparado para a guerra, o ideal de cidadão. "Um ideal que permanecia assombrado pelos desejos homoeróticos criados em contextos de sociabilidade masculina como o exército e as escolas", finaliza.
Publicado pela Editora Annablume, o livro tem prefácio de Margareth Rago, apresentação de Mariza Corrêa e capa de Mário Pizzignacco. Mais informações também podem ser obtidas no site do Grupo de Pesquisa Corpo, Identidades e Subjetivações.
30/10/2012
13:00:00
16/11/2012
10:00:00
Rodrigo Botelho
Não
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