Grupo Olhares realiza teatro sensorial com atores deficientes visuais
São Carlos
Imagine assistir uma peça de teatro sem vê-la, apenas senti-la. Na UFSCar, o Núcleo Ouroboros de Divulgação Científica, do Departamento de Química (DQ), organiza, desde 2009, o grupo de teatro com artistas cegos "Grupo Olhares", com apresentações de peças sensoriais. A iniciativa do projeto de extensão surgiu após a realização da exposição de 200 anos de Louis Braille, em 2009. O grupo já se apresentou em vários lugares, como na Biblioteca Comunitária (BCo) da UFSCar e no Maranhão, e conta atualmente com a participação de cerca de 10 pessoas.
Com a ideia de ser totalmente inclusivo, o Grupo Olhares iniciou suas atividades com a peça de teatro sensorial "Um novo sentido", em homenagem a Louis Braille, criador do sistema braille de leitura para cegos. Nas apresentações, os atores vendavam os olhos dos espectadores e estimulavam outros sentidos das pessoas, como a audição e o olfato. Rosemeire da Silva, uma das participantes do grupo, diz que sua maior dificuldade são as expressões corporais por nunca tê-las visto antes. "Eu não sabia que tinha talento para atuar, até o dia em que a coordenadora do grupo nos chamou para fazermos uma peça sobre a deficiência visual", conta ela.
A coordenadora do grupo, Karina Lupetti, diz que os integrantes sempre mantêm contato com o Espaço Braille, da cidade de São Carlos, onde conhecem novas pessoas interessadas em participar e ajudam a dar suporte a outros deficientes visuais e seus familiares. Além de oferecer atividades diversificadas aos cegos, o Grupo Olhares desenvolve contato com suas diferentes necessidades, auxiliando os participantes a lidar com elas de forma mais comprometida e efetiva, como a locomoção e os modos de se expressar. O Grupo também realiza atividades de extensão, como, por exemplo, a elaboração de material didático para ensino de Química para alunos cegos, utilizado em escolas públicas, e a produção de um programa transmitido pela Rádio UFSCar, chamado "Sentidos Diferentes", que surgiu do interesse dos participantes do grupo em divulgar para a sociedade suas necessidades e situações do dia-a-dia, unindo músicas, histórias e realidade, inclusive com o desenvolvimento de uma rádio-novela.
Os participantes do projeto o conheceram a partir de outros projetos de inclusão, como o Espaço Braille de São Carlos e o ProVer (UFSCar) - programa destinado à acessibilidade de pessoas cegas à informática e aos livros. O ProVer, programa da BCo, um dos locais que melhor atende os cegos na Universidade, tanto em estrutura, quanto em acervo de livros em braille e em áudio, colaborou para que Rosemeire aprendesse a usar o computador e a internet. Seu professor, Ailton Guimarães, também é cego e participa do Grupo Olhares. Ailton não atua, mas ajuda no Grupo, sendo um dos mais ativos. Participou de reuniões na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para o desenvolvimento de normas inclusivas aos deficientes visuais e foi vice-presidente do Conselho Municipal de Pessoas com Deficiência (Condef). Sua experiência e engajamento estimula outros colegas a perderem o medo e se tornarem mais ativos, como Antônio Brambila. Antônio perdeu a visão aos 16 anos, em um acidente de trabalho, e ficou até os 30 anos sem realizar muitas atividades. Ao conhecer os projetos realizados na UFSCar com foco nos deficientes visuais, passou a integrar o grupo de forma ativa, sendo um dos atores. Antônio ainda é inseguro para realizar algumas atividades, mas já vai sozinho a alguns lugares, apenas com sua bengala.
Rosemeire está, desde 2009, envolvida com o Grupo Olhares e ainda tem medo de andar sozinha pelas ruas, mas esse não é seu maior desafio. Rose luta desde cedo por inclusão na sociedade. "Quando eu era criança não fui aceita em uma escola pública por ser cega e quando vou a lojas, os vendedores não falam diretamente comigo, falam com meus pais, como se eu não pudesse escolher o que eu quero sozinha", relata, explicando que o grupo de teatro a ajuda a lidar com essas situações.
Os roteiros das peças são passados em braille para os atores. Rosemeire, por exemplo, conta com o apoio do computador para decorar suas falas. Para ela, o teatro a ajuda a aprender cada vez mais sobre o que é real e o que é ficção, porque mesmo sendo ficção, alguns fatos acontecem de verdade. "Quando fizemos uma oficina, nos deram um monólogo no qual pedíamos uma pizza e o rapaz da pizzaria não entendia nada, e isto aconteceu comigo na vida real", conta Rosemeire. Para Tiago Botassin, bolsista do projeto e estudante do curso de Educação Especial da UFSCar, o Grupo Olhares o faz conhecer um lado diferente da vida dos deficientes visuais que o curso não mostraria. Ele conta que a relação com os participantes é mais de coleguismo do que profissional, sem deixar o objetivo do projeto de lado. "Está sendo de grande valor pra minha formação participar do projeto, estou vivendo coisas que até hoje apenas havia lido".
Apesar das atividades auxiliarem na adaptação dos deficientes visuais nas várias situações do dia a dia, muitos ainda se sentem inseguros. Por esse motivo, o Grupo Olhares promove outras atividades com os deficientes visuais estendidas também aos seus familiares e amigos, como passeios, visitas a museus e exposições e oficinas. Os participantes do Grupo acreditam que projetos como o Grupo Olhares e outros que estão sendo desenvolvidos pela Universidade colaboram para ajudar as famílias dos deficientes visuais a terem mais informações sobre suas dificuldades e o que podem fazer para superá-las. Atualmente, alunos do quarto ano do curso de Imagem e Som da UFSCar estão produzindo o curta-metragem "No seu lugar". O filme conta a história de Laura e seu avô, Nico, que está perdendo a visão e seu objetivo é discutir a cegueira e sua relação com a família. O filme, inclusive, será finalizado com legendas para surdos e audiodescrição, recurso que permite a inclusão de pessoas com deficiência visual em cinema, teatro e programas de televisão.
Atualmente, o Grupo Olhares está refazendo a peça "Um Novo Sentido" e tem apresentação marcada para o dia 17 de setembro, às 9h30, durante a realização da III Semana de Educação Especial da UFSCar. Mais informações sobre o Grupo Olhares e suas peças podem ser acessadas neste site.
Foto: Apresentação de teatro do Grupo Olhares. Crédito/Foto: Divulgação Ouroboros.
Com a ideia de ser totalmente inclusivo, o Grupo Olhares iniciou suas atividades com a peça de teatro sensorial "Um novo sentido", em homenagem a Louis Braille, criador do sistema braille de leitura para cegos. Nas apresentações, os atores vendavam os olhos dos espectadores e estimulavam outros sentidos das pessoas, como a audição e o olfato. Rosemeire da Silva, uma das participantes do grupo, diz que sua maior dificuldade são as expressões corporais por nunca tê-las visto antes. "Eu não sabia que tinha talento para atuar, até o dia em que a coordenadora do grupo nos chamou para fazermos uma peça sobre a deficiência visual", conta ela.
A coordenadora do grupo, Karina Lupetti, diz que os integrantes sempre mantêm contato com o Espaço Braille, da cidade de São Carlos, onde conhecem novas pessoas interessadas em participar e ajudam a dar suporte a outros deficientes visuais e seus familiares. Além de oferecer atividades diversificadas aos cegos, o Grupo Olhares desenvolve contato com suas diferentes necessidades, auxiliando os participantes a lidar com elas de forma mais comprometida e efetiva, como a locomoção e os modos de se expressar. O Grupo também realiza atividades de extensão, como, por exemplo, a elaboração de material didático para ensino de Química para alunos cegos, utilizado em escolas públicas, e a produção de um programa transmitido pela Rádio UFSCar, chamado "Sentidos Diferentes", que surgiu do interesse dos participantes do grupo em divulgar para a sociedade suas necessidades e situações do dia-a-dia, unindo músicas, histórias e realidade, inclusive com o desenvolvimento de uma rádio-novela.
Os participantes do projeto o conheceram a partir de outros projetos de inclusão, como o Espaço Braille de São Carlos e o ProVer (UFSCar) - programa destinado à acessibilidade de pessoas cegas à informática e aos livros. O ProVer, programa da BCo, um dos locais que melhor atende os cegos na Universidade, tanto em estrutura, quanto em acervo de livros em braille e em áudio, colaborou para que Rosemeire aprendesse a usar o computador e a internet. Seu professor, Ailton Guimarães, também é cego e participa do Grupo Olhares. Ailton não atua, mas ajuda no Grupo, sendo um dos mais ativos. Participou de reuniões na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para o desenvolvimento de normas inclusivas aos deficientes visuais e foi vice-presidente do Conselho Municipal de Pessoas com Deficiência (Condef). Sua experiência e engajamento estimula outros colegas a perderem o medo e se tornarem mais ativos, como Antônio Brambila. Antônio perdeu a visão aos 16 anos, em um acidente de trabalho, e ficou até os 30 anos sem realizar muitas atividades. Ao conhecer os projetos realizados na UFSCar com foco nos deficientes visuais, passou a integrar o grupo de forma ativa, sendo um dos atores. Antônio ainda é inseguro para realizar algumas atividades, mas já vai sozinho a alguns lugares, apenas com sua bengala.
Rosemeire está, desde 2009, envolvida com o Grupo Olhares e ainda tem medo de andar sozinha pelas ruas, mas esse não é seu maior desafio. Rose luta desde cedo por inclusão na sociedade. "Quando eu era criança não fui aceita em uma escola pública por ser cega e quando vou a lojas, os vendedores não falam diretamente comigo, falam com meus pais, como se eu não pudesse escolher o que eu quero sozinha", relata, explicando que o grupo de teatro a ajuda a lidar com essas situações.
Os roteiros das peças são passados em braille para os atores. Rosemeire, por exemplo, conta com o apoio do computador para decorar suas falas. Para ela, o teatro a ajuda a aprender cada vez mais sobre o que é real e o que é ficção, porque mesmo sendo ficção, alguns fatos acontecem de verdade. "Quando fizemos uma oficina, nos deram um monólogo no qual pedíamos uma pizza e o rapaz da pizzaria não entendia nada, e isto aconteceu comigo na vida real", conta Rosemeire. Para Tiago Botassin, bolsista do projeto e estudante do curso de Educação Especial da UFSCar, o Grupo Olhares o faz conhecer um lado diferente da vida dos deficientes visuais que o curso não mostraria. Ele conta que a relação com os participantes é mais de coleguismo do que profissional, sem deixar o objetivo do projeto de lado. "Está sendo de grande valor pra minha formação participar do projeto, estou vivendo coisas que até hoje apenas havia lido".
Apesar das atividades auxiliarem na adaptação dos deficientes visuais nas várias situações do dia a dia, muitos ainda se sentem inseguros. Por esse motivo, o Grupo Olhares promove outras atividades com os deficientes visuais estendidas também aos seus familiares e amigos, como passeios, visitas a museus e exposições e oficinas. Os participantes do Grupo acreditam que projetos como o Grupo Olhares e outros que estão sendo desenvolvidos pela Universidade colaboram para ajudar as famílias dos deficientes visuais a terem mais informações sobre suas dificuldades e o que podem fazer para superá-las. Atualmente, alunos do quarto ano do curso de Imagem e Som da UFSCar estão produzindo o curta-metragem "No seu lugar". O filme conta a história de Laura e seu avô, Nico, que está perdendo a visão e seu objetivo é discutir a cegueira e sua relação com a família. O filme, inclusive, será finalizado com legendas para surdos e audiodescrição, recurso que permite a inclusão de pessoas com deficiência visual em cinema, teatro e programas de televisão.
Atualmente, o Grupo Olhares está refazendo a peça "Um Novo Sentido" e tem apresentação marcada para o dia 17 de setembro, às 9h30, durante a realização da III Semana de Educação Especial da UFSCar. Mais informações sobre o Grupo Olhares e suas peças podem ser acessadas neste site.
Foto: Apresentação de teatro do Grupo Olhares. Crédito/Foto: Divulgação Ouroboros.
27/06/2013
13:00:00
10/07/2013
22:00:00
Cecília Mazetto
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