UFSCar desenvolve ações de sustentabilidade e educação ambiental

São Carlos
Práticas desenvolvidas na UFSCar promovem a sustentabilidade e preservação ambiental nas atividades de graduação e pós-graduação e também no cotidiano das pessoas que frequentam o Campus São Carlos. Ações como coleta seletiva e uso de canecas como forma de reduzir o descarte de materiais plásticos possibilitam a utilização racional de produtos e o correto descarte de resíduos. Além disso, os projetos de extensão ampliam o conhecimento acadêmico e permitem que as pessoas desenvolvam um olhar mais crítico acerca da conservação do meio ambiente.

Formada no curso de Ciências Biológicas na UFSCar, a professora Haydée Torres de Oliveira, do Departamento de Ciências Ambientais explica que os primeiros debates sobre educação ambiental surgiram no campus a partir da iniciativa dos próprios estudantes. “A educação ambiental é muito recente no âmbito acadêmico, esse processo foi iniciado no final da década de 1970 e inicio dos anos de 1980. O primeiro minicurso de educação ambiental no Campus São Carlos aconteceu em 1982, na época que eu era estudante na universidade. Até então as iniciativas eram organizadas pela militância do movimento ambientalista”, conta a professora.

Em 1995, a professora Haydée ingressa no corpo docente da UFSCar e, desde então, desenvolve diversos projetos, como disciplinas nos cursos de graduação, atividades de extensão e Atividades Curriculares de Integração entre Ensino, Pesquisa e Extensão, além de pesquisas ligadas à pós-graduação, organização de eventos e divulgação dos conhecimentos relacionados a educação ambiental. A docente salienta que a aprovação a lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que estabelece a política nacional de educação ambiental em todos os níveis de ensino foi positiva para a ampliação de medidas educacionais de preservação ambiental. “No mesmo ano, criamos na UFSCar uma disciplina optativa nos cursos de licenciaturas. Avaliamos que os professores formados na Universidade não tinham preparo para atuar com educação ambiental nas escolas. Embora tenham projetos nas escolas, muitas vezes por iniciativa dos próprios educadores, ainda falta uma política nacional de formação de professores nessa área”, avalia Haydée. Para preencher essa lacuna, os projetos de extensão desenvolvidos na UFSCar atuam em diversos locais de São Carlos que divulgam a educação ambiental e possibilitam um olhar mais crítico e reflexivo acerca da preservação e sustentabilidade.

Lançado em 2000 pelo Ministério do Meio Ambiente, o projeto “Sala Verde” articula iniciativas de divulgação e formação em educação ambiental. A unidade em São Carlos foi inaugurada em 2005, instalada na Biblioteca Municipal Amadeu Amaral, no Centro da cidade, e conta com um acervo de livros, vídeos e materiais lúdicos para a educação ambiental. O projeto é uma iniciativa da Rede de Educação Ambiental de São Carlos, em parceria com a Prefeitura Municipal da cidade, o Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da Universidade de São Paulo (USP) e a Associação para a Proteção Ambiental de São Carlos (Apasc).

A Sala Verde em São Carlos conta com a participação de estudantes de graduação da UFSCar que atuam como monitores, como é o caso do estudante Danilo Periotto, graduando em Química. Para o estudante, a divulgação de informações relacionadas às práticas de preservação ambiental deve estar presente na formação da cidadania. “A educação ambiental deve estar presente primeiramente em todas as escolas públicas e privadas, seja de forma diluída na programação de ensino das disciplinas curriculares ou em intervenções recorrentes e cotidianas no ambiente escolar, a fim de que se tenha contato com os diversos conceitos que a permeiam, desde os primeiros momentos da formação do cidadão. A educação ambiental deve fazer parte do ambiente de trabalho, fazendo com que cada funcionário perceba o quão importante é seu papel perante todos os seus atos durante o período em que atua na empresa, a fim de garantir que trabalhe sempre de forma responsável visando o menor impacto ambiental possível”, defende o estudante.

Outro projeto coordenado pela professora Haydée é o Pólo Ecológico de São Carlos, desenvolvido inicialmente em 2001 e intensificado a partir de 2008. O Pólo organiza ações em espaços educadores que possibilitam a realização de atividades educativas em locais relacionados aos estudos ambientais, como a “Trilha da Natureza” do Campus São Carlos da UFSCar, que conta com trecho de Cerrado; a Trilha Canchim da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - Unidade Pecuária Sudeste; Estação de Captação do Espraiado do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de São Carlos; as hortas e hortos municipais; e o Parque Ecológico de São Carlos.  

No âmbito da pesquisa, a professora Haydée compõe o grupo de pesquisadores do Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade (SISBIOTA), com o projeto “Educação Ambiental para a Conservação da Biodiversidade: o papel dos predadores de topo de cadeia”, com  trabalhos de iniciação científica e pós-graduação que atuam com a biodiversidade e a preservação de aves e mamíferos.

Criticidade
A professora Haydée explica que para muitas pessoas as questões ambientais se restringem às relações ecológicas de fauna e flora e as discussões se limitam à preservação dos ecossistemas. A docente explica que a preservação do meio-ambiente envolve também aspectos econômicos, sociais e políticos, além das inúmeras relações existentes entre animais, vegetais e os ecossistemas em que estão inseridos.

As discussões e práticas de preservação ambiental devem estar presentes no cotidiano das pessoas, pois englobam desde os hábitos de consumo da sociedade urbanizada até a ocupação territorial, com impactos no consumo de recursos naturais, redução das reservas naturais e geração e descarte de resíduos. “Trabalhamos na perspectiva da Educação Ambiental crítica, na formação de pessoas questionadoras, que atuam em dimensões políticas, econômicas, sociais e éticas e o entrelaçamento de tudo isso nos âmbitos biológico e ecológico. Incentivar ações como economia de energia elétrica e recursos hídricos são importantes, mas queremos ir além. Queremos formar pessoas que questionem, por exemplo, os hábitos de consumo e seus impactos nos recursos naturais e a sustentabilidade do planeta. Hoje a conscientização é maior, mas podemos avançar”, analisa Haydée.

Periotto acredita que a adoção de medidas educativas pode resultar em uma geração mais consciente acerca do seu papel na preservação do meio ambiente. “No meu ponto de vista, a educação ambiental é uma ferramenta de sensibilização e desenvolvimento crítico de extrema importância para a formação do cidadão, seja uma criança, adolescente ou adulto. Além desses aspectos, a educação ambiental se apresenta como condição necessária para que possamos viver e sobreviver perpetuando novas gerações nesta sociedade que aplica um sistema de produção e consumo de recursos naturais de forma pouco responsável, colocando a necessidade acima de qualquer outro interesse”, defende. Periotto salienta que são diversas as possibilidades de práticas de desenvolvimento sustentável, que incluem desde a implementação de políticas públicas de valorização de agricultura de subsistência e hortas comunitárias, como também projetos de arborização urbana, recuperação de córregos e mananciais, preservação de ecossistemas.

Sustentabilidade no campus
No Campus São Carlos, iniciativas como a utilização de canecas duráveis, em substituição aos copos descartáveis, o tratamento de substâncias químicas utilizadas em laboratório, a coleta seletiva de lixo, por exemplo, contribuem para que os conceitos de sustentabilidade e educação ambiental sejam aplicados no cotidiano da comunidade acadêmica. Somente no Restaurante Universitário do Campus São Carlos, por exemplo, são servidas em média quatro mil refeições por dia. Como explica a bióloga Liane Printes, da Secretaria Geral de Gestão Ambiental e Sustentabilidade da UFSCar (SGAS), a utilização de canecas contribui para a redução de resíduos sólidos e nas despesas com armazenamento e descarte de copos descartáveis. Segundo Liane, se cada usuário utilizasse um copo por refeição, seriam  descartados quatro mil copos por dia e ao longo de um mês seriam de 80 a 100 mil copos por mês. Segundo a bióloga, embora os copos descartáveis sejam potencialmente recicláveis, o custo do processo é relativamente caro, pois é necessário um volume muito grande de copos plásticos para a produção de um material novo. "O processo de reciclagem também envolve grande consumo de água e energia. O descarte em aterros sanitários envolve gastos com transporte e consumo de recursos naturais. Ou seja, investir na redução do consumo dos copos plásticos é a alternativa mais sustentável ambientalmente", avalia Liane.

No início do ano letivo, os calouros dos cursos de graduação, ingressos nos programas de pós-graduação, além de técnicos-administrativos e docentes recém contratados, participam de atividades que apresentam as ações de educação ambiental e sustentabilidade na UFSCar e recebem as canecas da Universidade. A iniciativa foi originalmente concebida pelo Grupo Ambiental Ipê Amarelo (GAIA) em 2003 e, desde 2010, passou a ser uma atividade de extensão institucional, com apoio da Pró-Reitoria de Extensão (ProEx) e da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (ProACE) e coordenada pelo Programa de Educação Ambiental (PEAm) da SGAS. “Hoje estamos procurando por canecas que sejam produzidas em processos mais sustentáveis e livres de contaminantes”, aponta Liane.

Demandas
O Departamento de Gestão de Resíduos (DeGR) da UFSCar, vinculado à SGAS, também atua no descarte correto de materiais que podem oferecer riscos à saúde, como lâmpadas fluorescentes, pilhas não-alcalinas e baterias, lixo eletrônico, tintas e solventes, medicamentos vencidos, inseticidas, embalagens de agrotóxicos, além de substâncias químicas, biológicas e radioativas. Apesar das iniciativas já implementadas, existe a necessidade de compreender as demandas da comunidade acadêmica e a realização de projetos que possibilitem a sustentabilidade nas atividades da UFSCar e outras instituições, além de contribuir na geração de conhecimento e tecnologias.

Em atividades de laboratório, por exemplo, é comum a utilização de solventes orgânicos e alguns compostos possuem elevada toxidade para os seres humanos e para o meio ambiente. Segundo a Química do DeGR, Ana Marta Machado, o manuseio incorreto desses produtos, mesmo em baixa concentração, pode oferecer riscos à saúde e danos ao meio ambiente. "Qualquer um destes resíduos, se descartados sem tratamento, mesmo em pequenas quantidades, representam um significativo impacto ambiental, devido ao nível de contaminação e persistência no meio ambiente", salienta Ana Marta.

O DeGR desenvolveu um banco de informações que possibilita o intercâmbio interno de dados sobre reagentes químicos em estoque, vencidos ou em desuso, além de reaproveitamento de substâncias recuperadas, minimizando gastos com compras de novos produtos e com o descarte correto das soluções. “Controlando o estoque, evitamos que os os produtos passem da data de validade e a compra de reagentes que não sejam utilizados. Antes cada laboratório fazia o controle no papel e o DeGR recebia muitos produtos químicos que não tinham rótulos legíveis e estavam com a data de validade vencida. Então, com o desenvolvimento de um programa de computador, pudemos  fazer o compartilhamento de reagentes químicos entre os laboratórios e evitar desperdício”, revela Ana.

Recentemente, foi desenvolvido um processo de purificação de misturas químicas em destilação passivos com baixo custo e utilização da energia solar. Segundo Ana Marta, os três campi da UFSCar gastam juntos cerca de 100 mil reais com o descarte de reagentes químicos por ano. “Procuramos tratar e recuperar os resíduos, pois o descarte desse tipo de material, além trazer gastos, também é um problema ambiental”, conta Ana. O projeto é desenvolvido pela equipe do DeGR e por estagiários do curso de Engenharia Química da UFSCar, sob supervisão do professor Luiz Fernando de Moura, do Departamento de Engenharia Química (DEQ). Como explica o professor Moura, o processo de destilação demanda energia para a vaporização e condensação que provocam a separação dos componentes. Os componentes da mistura são separados por causa das diferenças temperaturas de ebulição. Assim, a uma certa temperatura, enquanto um reagente vaporiza, outro continua na fase líquida.  “A operação das colunas de destilação são complexas e exigem energia elétrica para o aquecimento de óleo térmico. Além disso, muitos usuários misturam reagentes que resultam em incrustações na coluna que diminuem o rendimento ao longo do tempo”, revela Moura.

Para o professor Moura, a conscientização ambiental exige uma postura crítica e necessita de uma abordagem multidisciplinar, com envolvimento de diversos profissionais. Na opinião do docente, no próprio exercício profissional é possível aplicar ações de sustentabilidade, como, por exemplo, o desenvolvimento de equipamentos que tenham melhor produtividade, com menor perda energética e, consequentemente, consumo de combustíveis. No caso da destilação passiva, o aquecimento é provocado pela energia solar, sem a necessidade da queima de combustíveis que, além de custos para a Universidade, causam a emissão de gases carbônicos. Esse processo já é utilizado, por exemplo, para a separação de sais com a evaporação da água do mar. O sistema é desenvolvido na UFSCar e permite a separação da água e de reagentes orgânicos, como o diclorometano que é muito utilizado em atividades de laboratório nos cursos de graduação.

Segundo o professor Moura, o reaproveitamento de reagentes possibilita redução de gastos com transporte, descarte e incineração de compostos orgânicos e evita compra de novos materiais.
O docente salienta ainda que para maior efetividade dos programas de gestão de reagentes e resíduos é necessário o comprometimento da comunidade acadêmica, principalmente na destinação correta de resíduos. “A educação do usuário é primordial para os processos”, aponta Moura. Atualmente, a equipe do professor Moura e o DeGR desenvolvem trabalhos de recuperação e purificação de água. “O desenvolvimento tecnológico não se faz individualmente. A ciência ambiental permite a união de pesquisadores e profissionais. Queremos divulgar os projetos para que os projetos sejam implantados em outros lugares”, afirma o docente.

Conscientização
Apesar da atuação de técnico-administrativos, docentes e estudantes de graduação e pós-graduação em pesquisas e projetos de extensão, Liane acredita que ainda é necessário um comprometimento maior, principalmente no correto descarte de resíduos recicláveis em suportes espalhados pelo Campus São Carlos. Os estudantes de graduação e pós-graduação também participam de palestras que informam os procedimentos em laboratórios, que abordam a utilização de equipamentos de proteção ambiental e o correto descarte de resíduos produzidos em atividades práticas.

Liane salienta que o desenvolvimento de práticas de sustentabilidade resultam em, pelo menos, impactos positivos para o meio ambiente e também a redução de gastos. “Não menos importante é o efeito indireto destas ações na formação da comunidade universitária, há o desenvolvimento de uma cultura que valoriza e estimula ações de sustentabilidade ambiental", conclui Liane.

Foto: Ana Marta, Liane e Moura desenvolvem projetos de sustentabilidade na UFSCar. Crédito: Enzo Kuratomi
22/08/2013
13:00:00
04/09/2013
22:00:00
Enzo Kuratomi
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