Pesquisa inédita investiga relações da democracia britânica com o Brasil ditatorial
São Carlos
Investigação visa preencher lacuna no estudo das relações entre o Brasil ditatorial e as democracias ocidentais
Visando preencher lacuna importante no estudo das relações entre o Brasil ditatorial e as democracias ocidentais que, até o momento, focou apenas as relações com os Estados Unidos , o professor João Roberto Martins Filho, do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar, está realizando pesquisa inédita sobre as relações entre o governo democrático do Reino Unido e o Brasil no período mais agudo da Ditadura Militar, que vai do Golpe de 64 à decretação da Anistia, em 1979. Para a realização da pesquisa, Martins Filho foi contemplado com a Cátedra Rio Branco em Relações Internacionais, concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Instituto Rio Branco (vinculado ao Ministério das Relações Internacionais brasileiro) e o Kings College London, universidade britânica fundada em 1829 e, desde 1836, parte da Universidade de Londres. Hoje, o Kings College é um dos 18 colleges e 10 institutos da Universidade de Londres, que conta com 170 mil alunos.
Para a realização da pesquisa, Martins Filho trabalhará com documentação diplomática dos anos 1970 somente recentemente liberada para consulta pelo governo britânico. O estudo acontece no marco dos 50 anos do Golpe de 1964. "Minhas pesquisas sobre o período militar datam de minha dissertação de mestrado, defendida em 1986. Estudei o tema por cerca de 15 anos, mas nunca o abandonei completamente. Nos anos seguintes, dediquei-me mais a estudar as Forças Armadas depois da Guerra Fria. Nos últimos anos, estudei a trajetória da Marinha brasileira, em sua eterna luta por se manter atualizada tecnologicamente. Nessas pesquisas, coletei muito material diplomático britânico referente ao Brasil. Então pensei: por que não aproveitar o aniversário do Golpe e voltar ao período ditatorial, desta vez estudando as relações entre Brasil e Reino Unido, uma ditadura e uma democracia?", relata o pesquisador. "Na pesquisa sobre a influência britânica sobre a Marinha brasileira depois da Segunda Guerra Mundial, encontrei nos Arquivos Nacionais britânicos os documentos diplomáticos recém-liberados, que abordam temas-chave como a política nuclear e política de armamentos. O prazo normal para liberação desses documentos no Reino Unido é de 30 anos, mais algum tempo para processamento; como descobri documentos datados de 1978, posso dizer que, talvez, tenha sido o primeiro a pesquisá-los, e lá encontrei coisas até hoje desconhecidas", revela Martins Filho.
Hipóteses
O Reino Unido, nos anos 1970, era o sétimo parceiro comercial do Brasil e um dos principais fornecedores de equipamentos militares ao País. Além disso, o caso britânico é crucial também porque Londres era sede de órgãos de comunicação com influência mundial que realizavam campanhas contra aspectos da política ditatorial brasileira e de uma das organizações internacionais mais ativas na denúncia de violências contra presos políticos naquele momento, a Anistia Internacional.
A pesquisa de João Roberto Martins Filho visa, nesse contexto, verificar se os interesses comerciais e políticos preponderaram sobre as diferenças de regime entre Brasil e Reino Unido e qual era o peso das compras militares no conjunto das relações comerciais entre os dois países. Além disso, o pesquisador investigará, dentre outras questões, qual foi o papel dos meios de comunicação e de organizações como a Anistia Internacional e como o Foreign Office (órgão equivalente ao Itamaraty) administrou as pressões provenientes das campanhas contra a tortura ou o suposto genocídio de indígenas no Brasil.
Frente a essas questões, uma das hipóteses da pesquisa é que, independentemente da alternância dos partidos políticos no governo da Grã-Bretanha e da diferença de personalidade entre os embaixadores que serviram no Brasil de 1964 a 1979, a economia, e não a ideologia, teria dominado as considerações do Reino Unido em suas relações com o Brasil. Outra hipótese é a de que a diplomacia britânica atuou em conjunto com a brasileira no sentido de procurar diminuir os danos das pressões domésticas especialmente as campanhas já mencionadas , a fim de que estas não atrapalhassem as boas relações comerciais e políticas entre as duas nações.
Cátedra Rio Branco
A Cátedra Rio Branco de Relações Internacionais do Kings College London é destinada a proporcionar a pesquisadores, intelectuais e formuladores de políticas públicas ambiente propício para a análise da função desempenhada pelo Brasil no cenário mundial e das posições adotadas pelo País em temas globais. "A Cátedra Rio Branco coloca seu detentor em um terreno não apenas acadêmico, mas quase de representação do Brasil junto ao país que o recebe. É uma grande honra receber um prêmio como esse, já no final de minha carreira acadêmica, com 25 anos de trabalho apenas na UFSCar. No Kings College, as condições de trabalho serão excelentes, como pude comprovar em estadas anteriores no Reino Unido", destaca Martins Filho.
O pesquisador permanecerá em Londres de janeiro a junho de 2014, realizando pesquisa documental nos Arquivos Nacionais britânicos (National Archives), nos principais órgãos de comunicação britânicos, nos arquivos da Anistia Internacional e de outras associações civis envolvidas com o Brasil, dentre outras. Também deverá realizar entrevistas com diplomatas e correspondentes de imprensa presentes no Brasil na época a ser estudada, além de pesquisa bibliográfica em literatura relevante e não disponível no Brasil.
Para a realização da pesquisa, Martins Filho trabalhará com documentação diplomática dos anos 1970 somente recentemente liberada para consulta pelo governo britânico. O estudo acontece no marco dos 50 anos do Golpe de 1964. "Minhas pesquisas sobre o período militar datam de minha dissertação de mestrado, defendida em 1986. Estudei o tema por cerca de 15 anos, mas nunca o abandonei completamente. Nos anos seguintes, dediquei-me mais a estudar as Forças Armadas depois da Guerra Fria. Nos últimos anos, estudei a trajetória da Marinha brasileira, em sua eterna luta por se manter atualizada tecnologicamente. Nessas pesquisas, coletei muito material diplomático britânico referente ao Brasil. Então pensei: por que não aproveitar o aniversário do Golpe e voltar ao período ditatorial, desta vez estudando as relações entre Brasil e Reino Unido, uma ditadura e uma democracia?", relata o pesquisador. "Na pesquisa sobre a influência britânica sobre a Marinha brasileira depois da Segunda Guerra Mundial, encontrei nos Arquivos Nacionais britânicos os documentos diplomáticos recém-liberados, que abordam temas-chave como a política nuclear e política de armamentos. O prazo normal para liberação desses documentos no Reino Unido é de 30 anos, mais algum tempo para processamento; como descobri documentos datados de 1978, posso dizer que, talvez, tenha sido o primeiro a pesquisá-los, e lá encontrei coisas até hoje desconhecidas", revela Martins Filho.
Hipóteses
O Reino Unido, nos anos 1970, era o sétimo parceiro comercial do Brasil e um dos principais fornecedores de equipamentos militares ao País. Além disso, o caso britânico é crucial também porque Londres era sede de órgãos de comunicação com influência mundial que realizavam campanhas contra aspectos da política ditatorial brasileira e de uma das organizações internacionais mais ativas na denúncia de violências contra presos políticos naquele momento, a Anistia Internacional.
A pesquisa de João Roberto Martins Filho visa, nesse contexto, verificar se os interesses comerciais e políticos preponderaram sobre as diferenças de regime entre Brasil e Reino Unido e qual era o peso das compras militares no conjunto das relações comerciais entre os dois países. Além disso, o pesquisador investigará, dentre outras questões, qual foi o papel dos meios de comunicação e de organizações como a Anistia Internacional e como o Foreign Office (órgão equivalente ao Itamaraty) administrou as pressões provenientes das campanhas contra a tortura ou o suposto genocídio de indígenas no Brasil.
Frente a essas questões, uma das hipóteses da pesquisa é que, independentemente da alternância dos partidos políticos no governo da Grã-Bretanha e da diferença de personalidade entre os embaixadores que serviram no Brasil de 1964 a 1979, a economia, e não a ideologia, teria dominado as considerações do Reino Unido em suas relações com o Brasil. Outra hipótese é a de que a diplomacia britânica atuou em conjunto com a brasileira no sentido de procurar diminuir os danos das pressões domésticas especialmente as campanhas já mencionadas , a fim de que estas não atrapalhassem as boas relações comerciais e políticas entre as duas nações.
Cátedra Rio Branco
A Cátedra Rio Branco de Relações Internacionais do Kings College London é destinada a proporcionar a pesquisadores, intelectuais e formuladores de políticas públicas ambiente propício para a análise da função desempenhada pelo Brasil no cenário mundial e das posições adotadas pelo País em temas globais. "A Cátedra Rio Branco coloca seu detentor em um terreno não apenas acadêmico, mas quase de representação do Brasil junto ao país que o recebe. É uma grande honra receber um prêmio como esse, já no final de minha carreira acadêmica, com 25 anos de trabalho apenas na UFSCar. No Kings College, as condições de trabalho serão excelentes, como pude comprovar em estadas anteriores no Reino Unido", destaca Martins Filho.
O pesquisador permanecerá em Londres de janeiro a junho de 2014, realizando pesquisa documental nos Arquivos Nacionais britânicos (National Archives), nos principais órgãos de comunicação britânicos, nos arquivos da Anistia Internacional e de outras associações civis envolvidas com o Brasil, dentre outras. Também deverá realizar entrevistas com diplomatas e correspondentes de imprensa presentes no Brasil na época a ser estudada, além de pesquisa bibliográfica em literatura relevante e não disponível no Brasil.
08/11/2013
13:00:00
09/12/2013
10:00:00
Mariana Pezzo
Sim
Não
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