Grupo de Estudos da UFSCar discute o futebol como projeto profissional de meninos e meninas

São Carlos
ProFut aborda aspectos sociais do futebol, como os mitos associados à carreira de jogador e o preconceito contra as mulheres
Goste ou não, ninguém passa ileso quando o assunto é futebol. Alguém sempre tem um palpite para dar ou um comentário a fazer. Para ir além da "conversa de boteco" sobre o esporte, o professor Osmar de Souza Junior, do Departamento de Educação Física e Motricidade Humana (DEFMH) da UFSCar, juntamente com estudantes e ex-alunos do curso de graduação em Educação Física da Universidade, criaram o piloto de um grupo de estudos chamado ProFut, formado a partir da própria demanda dos estudantes, que desejavam discutir o futebol de forma mais aprofundada.O principal debate do grupo está relacionado à carreira profissional de meninos e meninas no futebol. No ProFut, são abordados aspectos sociais do futebol, como a profissionalização e carreira de um jogador e o preconceito contra mulheres nesse esporte, bem como questões pedagógicas. A partir de documentários e livros, dentre outros materiais, os integrantes do grupo interpretam e desconstroem alguns mitos históricos e analisam o que é considerado ou desconsiderado no processo de formação de jovens que sonham em se tornar jogadores de futebol profissionais.

Segundo o professor Osmar de Souza Junior, a preocupação do grupo é entender os investimentos que os jovens fazem em seu projeto de se tornarem jogadores. "Os jovens têm a ilusão de que uma carreira no futebol pode ser fácil. Basta ser descoberto por um grande empresário. Mas não é assim que funciona. Muitos focam apenas no futebol e acabam deixando de lado qualquer outro tipo de formação", relata o docente. Bruno Martins Ferreira, aluno do curso de Educação Física e integrante do ProFut, avalia que a ilusão de uma carreira fácil no futebol está muito vinculada ao que é divulgado nos meios de comunicação. "O jovem associa ao futebol a ideia de uma melhora de vida, de ascensão social, e se deslumbra com uma carreira que parece ser de fácil acesso. As referências são de jogadores muito expostos, bem remunerados, que supostamente têm uma vida tranquila", afirma o graduando.

Porém, esta não é a realidade. Segundo os pesquisadores, sabe-se que o futebol hoje praticado no Brasil, principalmente nas categorias de base, recruta jovens de 13 anos que às vezes treinam por dois períodos diariamente e são obrigados a ficar longe da família sem nenhum tipo de remuneração. Souza Junior acrescenta que, no Brasil, é muito difícil se tornar um profissional do futebol porque a oferta é muito alta para poucos postos de trabalho. "Os jovens também não querem jogar em clubes pequenos, mas os clubes da elite brasileira são restritos. São 20 grandes clubes que podem oferecer 400 postos de trabalho apenas. É uma carreira muito difícil, é quase ganhar na loteria", compara.

Partindo de uma análise do que acontece em outros países, Souza Junior afirma que, no Brasil, tira-se o atleta da escola com muita facilidade, o que faz com que o jovem não tenha uma formação que garanta seu futuro. Já na Europa, por exemplo, jovens apenas ingressam na carreira esportiva se tiverem uma formação escolar de qualidade. "No Brasil, os jovens pensam que para ser médico o investimento é muito alto, para ser professor tem de estudar muito, então acabam caindo na ilusão de que o futebol seria uma carreira fácil, e assim, todo investimento fica parecendo alto perto deste", analisa o coordenador do ProFut.

Se já é difícil para os meninos, Osmar Souza Junior alerta que a cultura machista faz com que, para as meninas, o projeto seja uma missão quase impossível. Para as mulheres não há referência e nem um circuito oficial. O professor, que pesquisou a participação da mulher no futebol durante seu doutorado, afirma que o preconceito começa com mecanismos sutis de discriminação. "No caso de jogos femininos, na mídia se discute quem é a musa do campeonato, e não o maior salário, como acontece com os homens. Assim como não entra a discussão de quem é a jogadora que tem mais técnica ou a mais inteligente." O professor complementa dizendo que as pessoas falam que a qualidade do futebol feminino é pior que a do masculino, mas não pensam no que está por trás disso. "As meninas não têm a mesma estrutura, não podem dedicar tempo exclusivo pra treinar, não ganham salário pra viver apenas do futebol", ressalta Souza Júnior.

Outro aspecto social do futebol que é alvo de estudos do ProFut é a carreira do jogador, que se desenvolve de maneira diferente dos outros profissionais, já que, por volta dos 35 anos, o atleta já está no fim da carreira, enquanto outros trabalhadores alcançam o êxito profissional com essa idade. Já no aspecto pedagógico, os integrantes do grupo de estudos defendem que o futebol deve ser tratado como conteúdo educacional não apenas na educação física escolar, mas também nas escolas de futebol e nos centros de formação de atletas. Para eles, o futebol deve ser ensinado para o aluno jogar e apreciar, para formar jogadores, espectadores e consumidores de futebol, e não apenas praticantes. "É necessário levar o futebol para um discussão crítica e não fanática. Futebol deve ser tratado como conhecimento e não como lazer", afirma Souza Júnior.

O estudante Bruno Ferreira pondera que o ProFut não defende que as pessoas não sonhem e não se tornem jogadores profissionais de futebol, mas sim que elas se conscientizem das possibilidades. Para contribuir nesse sentido, Osmar Souza Junior pretende levar essa discussão do grupo às escolas de Ensino Fundamental da rede pública, para ampliar o alcance da informação. A participação no ProFut é aberta a todos os interessados. As reuniões acontecem quinzenalmente às sextas-feiras, no DEFMH, localizado na área Sul do campus São Carlos da UFSCar. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail osmar@ufscar.br.
19/11/2013
16:00:00
29/11/2013
15:00:00
Mariana Pezzo
Não
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