Projeto da UFSCar apoia agricultores familiares de assentamentos rurais da região de Sorocaba
Sorocaba, São Carlos
Atividades diversificadas já envolvem cerca de 60 famílias dos municípios de Itapetininga e Iperó, dentre outras localidades
A implementação de práticas que levem ao uso adequado do solo e a um desenvolvimento rural sustentável, alcançados por meio da adequação ambiental dos sistemas produtivos. Estes são os principais objetivos do projeto "Desenvolvimento participativo de sistemas agroflorestais e agroecológicos em assentamentos rurais na Bacia do Médio-Tietê/Sorocaba", da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Iniciado em 2014 sob a coordenação do professor Fernando Silveira Franco, do Departamento de Ciências Ambientais (DCA) do Campus Sorocaba, a meta do projeto é gerar, sistematizar e oferecer auxílio e assessoria técnica a agricultores familiares dos assentamentos rurais de municípios da região de Sorocaba e, também, a órgãos de governo e conselhos municipais.
Os métodos utilizados baseiam-se nos princípios agroecológicos, que dispensam o uso de agrotóxicos e prezam por um sistema mais equilibrado e biodiverso, no qual ocorre o controle biológico natural de eventuais pragas. "Todos os princípios usados como base para essa proposta casam com o ideal de sustentabilidade dos sistemas de produção e, consequentemente, com a conservação e preservação ambiental, como, por exemplo, o respeito à biodiversidade do local, não usando herbicidas e sim o potencial das plantas herbáceas e arbóreas que nascem naturalmente e aproveitando-as como matéria orgânica que irá nutrir o solo e as plantas", explica o coordenador.
Demanda ecológica e social
A criação do projeto de extensão se deu em decorrência do baixo número de instituições locais voltadas à temática agroecológica, insuficientes para atender ao alto número de estabelecimentos de cultivo mantidos por famílias assentadas na região pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e pelo Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo). Essa demanda ficou evidente nas diversas ações realizadas pelo Núcleo de Agroecologia Apetê Caapuã da UFSCar desde 2009, entre elas o 1° Fórum Regional de Agroecologia, em 2011, quando houve grande procura por orientação e apoio técnico por parte dessas famílias.
Itapetininga e Iperó, onde estão localizados os assentamentos Horto Bela Vista e Fazenda Ipanema, têm sido os principais municípios de atuação do projeto, com 20 famílias participando em Itapetininga e 40 em Iperó, aproximadamente. "Nós trabalhamos geralmente com grupos organizados com os quais fazemos contato a partir da manifestação de interesse por parte dos próprios grupos. Vamos negociando e seguimos sempre respeitando o ritmo dos grupos, em um processo participativo. É um processo que chamamos de pesquisa-ação participativa, pois não vamos com a intenção somente de ensinar, e sim de construirmos junto o conhecimento. Para a agroecologia, este é um princípio forte e com o qual buscamos nos orientar sempre", destaca Fernando Franco.
Desse modo, são feitos diagnósticos prévios para entender os problemas de cada local e para que o próprio agricultor possa compreender as suas causas e possíveis soluções, e como as práticas agroecológicas podem ajudar a resolvê-los. "A partir dessa análise, entramos com nossas ideias e propostas técnicas, que convergem com o conhecimento que eles já possuem sobre as plantas, árvores, solo e o ambiente que manejam", explica o docente da UFSCar.
Os cultivos em Itapetininga e Iperó que contam com apoio do projeto são diversificados e produzem alimentos como alface, rúcula, cenoura, beterraba, tomate, mandioca, banana, goiaba, acerola e vagem, dentre outras variedades de hortaliças e frutas. Os resultados atingidos são tanto ambientais quanto socioeconômicos, já que os métodos implantados, além de contribuírem para a preservação do ambiente, trazem melhor qualidade aos alimentos, valorizando-os e contribuindo para o aumento da renda, geralmente baixa, desses agricultores. "A partir do apoio à produção agroecológica, que agrega valor aos produtos, eles estão vendendo, por exemplo, em feiras, diretamente ao consumidor, e também em mercados institucionais como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), destinados à merenda escolar", conta Fernando Franco.
As oficinas que são ministradas aos agricultores incluem temas que vão desde o manejo dos sistemas de base ecológica (capina seletiva, poda, cobertura de solo) até a produção autônoma de biofertilizantes, mudas e sementes. Os assuntos, porém, podem variar de acordo com a demanda específica de cada localidade. "Uma atividade que é importante no processo são as visitas de intercâmbio, nas quais eles vão conhecer experiências exitosas de outros agricultores como eles, que estão com resultados positivos, e observar o que poderia ser adaptado à realidade deles, já que a ideia não é simplesmente copiar ideias de outros locais, às vezes socioambientalmente diferentes", conta o professor. O objetivo, segundo ele, é que essas práticas sejam cada vez mais estimuladas entre os próprios agricultores e, posteriormente, passadas adiante, gerando um ciclo de irradiação das técnicas. Além da melhoria nos processos produtivos e de organização, o projeto também apoia alguns grupos na conquista da certificação participativa, importante selo emitido pelo Ministério da Agricultura.
Multiplicação
O projeto "Desenvolvimento participativo de sistemas agroflorestais e agroecológicos em assentamentos rurais na Bacia do Médio-Tietê/Sorocaba" conta com uma equipe de 35 pessoas, entre professores, estudantes de graduação, pós-graduação e técnicos em agroecologia. Está integrado ao Núcleo de Agroecologia Apetê Caapuã, também do Campus Sorocaba da UFSCar, e possui apoio das prefeituras de Sorocaba, Iperó e Araçoiaba da Serra, bem como de órgãos de fomento à pesquisa, do Itesp e de diversas cooperativas e instituições de ensino da região. "Sempre buscamos implantar áreas experimentais demonstrativas para que possamos analisar os processos na prática, por meio de monitoramento e usando indicadores e metodologias científicas, gerando teses e trabalhos científicos para validar os processos", conta Fernando Franco.
Entre as diversas ações conduzidas pelo projeto - que incluem seminários, palestras, cursos e outras atividades abertas ao público -, ocorreu em maio deste ano a Caravana Agroecológica, com roteiro de visitas aos agricultores familiares e assentados de Ibiúna, Iperó, Piedade, Araçoiaba da Serra e Itapetininga. O objetivo da atividade - que serviu de preparação para o 3° Encontro Nacional de Agroecologia, que aconteceu na Bahia - foi difundir as experiências agroecológicas e realizar observações em cada local acerca de suas dimensões sociais, ambientais e econômicas, e também dos entraves e dificuldades enfrentadas pelos camponeses. Além da troca de experiências e vivências entre a comunidade acadêmica que participou da caravana, gestores públicos e agricultores, foi produzido um documentário que será utilizado como material didático.
Outra atividade mantida é a Feira de Agroecologia, realizada no Campus Sorocaba UFSCar toda terça-feira, das 12 às 19 horas, onde os agricultores têm a oportunidade de vender seus produtos. "Temos quatro produtores na Feira, que oferecem hortaliças, frutas, raízes, algumas geleias caseiras, doces e bolo de banana, pães integrais, tortas, empadas e outros produtos de padaria, todos integrais e orgânicos", enumera Franco. "Os agricultores que estão participando estão muito satisfeitos pelo retorno financeiro", complementa. Também está sendo organizado um grupo de consumo coletivo chamado Comunidade que Sustenta Agricultura (CSA).
Os métodos utilizados baseiam-se nos princípios agroecológicos, que dispensam o uso de agrotóxicos e prezam por um sistema mais equilibrado e biodiverso, no qual ocorre o controle biológico natural de eventuais pragas. "Todos os princípios usados como base para essa proposta casam com o ideal de sustentabilidade dos sistemas de produção e, consequentemente, com a conservação e preservação ambiental, como, por exemplo, o respeito à biodiversidade do local, não usando herbicidas e sim o potencial das plantas herbáceas e arbóreas que nascem naturalmente e aproveitando-as como matéria orgânica que irá nutrir o solo e as plantas", explica o coordenador.
Demanda ecológica e social
A criação do projeto de extensão se deu em decorrência do baixo número de instituições locais voltadas à temática agroecológica, insuficientes para atender ao alto número de estabelecimentos de cultivo mantidos por famílias assentadas na região pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e pelo Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo). Essa demanda ficou evidente nas diversas ações realizadas pelo Núcleo de Agroecologia Apetê Caapuã da UFSCar desde 2009, entre elas o 1° Fórum Regional de Agroecologia, em 2011, quando houve grande procura por orientação e apoio técnico por parte dessas famílias.
Itapetininga e Iperó, onde estão localizados os assentamentos Horto Bela Vista e Fazenda Ipanema, têm sido os principais municípios de atuação do projeto, com 20 famílias participando em Itapetininga e 40 em Iperó, aproximadamente. "Nós trabalhamos geralmente com grupos organizados com os quais fazemos contato a partir da manifestação de interesse por parte dos próprios grupos. Vamos negociando e seguimos sempre respeitando o ritmo dos grupos, em um processo participativo. É um processo que chamamos de pesquisa-ação participativa, pois não vamos com a intenção somente de ensinar, e sim de construirmos junto o conhecimento. Para a agroecologia, este é um princípio forte e com o qual buscamos nos orientar sempre", destaca Fernando Franco.
Desse modo, são feitos diagnósticos prévios para entender os problemas de cada local e para que o próprio agricultor possa compreender as suas causas e possíveis soluções, e como as práticas agroecológicas podem ajudar a resolvê-los. "A partir dessa análise, entramos com nossas ideias e propostas técnicas, que convergem com o conhecimento que eles já possuem sobre as plantas, árvores, solo e o ambiente que manejam", explica o docente da UFSCar.
Os cultivos em Itapetininga e Iperó que contam com apoio do projeto são diversificados e produzem alimentos como alface, rúcula, cenoura, beterraba, tomate, mandioca, banana, goiaba, acerola e vagem, dentre outras variedades de hortaliças e frutas. Os resultados atingidos são tanto ambientais quanto socioeconômicos, já que os métodos implantados, além de contribuírem para a preservação do ambiente, trazem melhor qualidade aos alimentos, valorizando-os e contribuindo para o aumento da renda, geralmente baixa, desses agricultores. "A partir do apoio à produção agroecológica, que agrega valor aos produtos, eles estão vendendo, por exemplo, em feiras, diretamente ao consumidor, e também em mercados institucionais como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), destinados à merenda escolar", conta Fernando Franco.
As oficinas que são ministradas aos agricultores incluem temas que vão desde o manejo dos sistemas de base ecológica (capina seletiva, poda, cobertura de solo) até a produção autônoma de biofertilizantes, mudas e sementes. Os assuntos, porém, podem variar de acordo com a demanda específica de cada localidade. "Uma atividade que é importante no processo são as visitas de intercâmbio, nas quais eles vão conhecer experiências exitosas de outros agricultores como eles, que estão com resultados positivos, e observar o que poderia ser adaptado à realidade deles, já que a ideia não é simplesmente copiar ideias de outros locais, às vezes socioambientalmente diferentes", conta o professor. O objetivo, segundo ele, é que essas práticas sejam cada vez mais estimuladas entre os próprios agricultores e, posteriormente, passadas adiante, gerando um ciclo de irradiação das técnicas. Além da melhoria nos processos produtivos e de organização, o projeto também apoia alguns grupos na conquista da certificação participativa, importante selo emitido pelo Ministério da Agricultura.
O projeto "Desenvolvimento participativo de sistemas agroflorestais e agroecológicos em assentamentos rurais na Bacia do Médio-Tietê/Sorocaba" conta com uma equipe de 35 pessoas, entre professores, estudantes de graduação, pós-graduação e técnicos em agroecologia. Está integrado ao Núcleo de Agroecologia Apetê Caapuã, também do Campus Sorocaba da UFSCar, e possui apoio das prefeituras de Sorocaba, Iperó e Araçoiaba da Serra, bem como de órgãos de fomento à pesquisa, do Itesp e de diversas cooperativas e instituições de ensino da região. "Sempre buscamos implantar áreas experimentais demonstrativas para que possamos analisar os processos na prática, por meio de monitoramento e usando indicadores e metodologias científicas, gerando teses e trabalhos científicos para validar os processos", conta Fernando Franco.
Entre as diversas ações conduzidas pelo projeto - que incluem seminários, palestras, cursos e outras atividades abertas ao público -, ocorreu em maio deste ano a Caravana Agroecológica, com roteiro de visitas aos agricultores familiares e assentados de Ibiúna, Iperó, Piedade, Araçoiaba da Serra e Itapetininga. O objetivo da atividade - que serviu de preparação para o 3° Encontro Nacional de Agroecologia, que aconteceu na Bahia - foi difundir as experiências agroecológicas e realizar observações em cada local acerca de suas dimensões sociais, ambientais e econômicas, e também dos entraves e dificuldades enfrentadas pelos camponeses. Além da troca de experiências e vivências entre a comunidade acadêmica que participou da caravana, gestores públicos e agricultores, foi produzido um documentário que será utilizado como material didático.
Outra atividade mantida é a Feira de Agroecologia, realizada no Campus Sorocaba UFSCar toda terça-feira, das 12 às 19 horas, onde os agricultores têm a oportunidade de vender seus produtos. "Temos quatro produtores na Feira, que oferecem hortaliças, frutas, raízes, algumas geleias caseiras, doces e bolo de banana, pães integrais, tortas, empadas e outros produtos de padaria, todos integrais e orgânicos", enumera Franco. "Os agricultores que estão participando estão muito satisfeitos pelo retorno financeiro", complementa. Também está sendo organizado um grupo de consumo coletivo chamado Comunidade que Sustenta Agricultura (CSA).
16/09/2014
13:00:00
30/09/2014
18:00:00
Lucas Montenegro
Sim
Não
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