Estudantes da UFSCar participam do Fórum Permanente da ONU para Questões Indígenas
São Carlos
A UFSCar foi representada pela primeira vez na Organização das Nações Unidas (ONU), durante a 14ª Sessão do Fórum Permanente para Questões Indígenas, realizada entre os dias 20 de abril e 1º de maio na sede da ONU, em Nova Iorque. Ariabo Kezo, da etnia Balatiponé e estudante do curso de Letras, Marcondy Maurício de Souza, da etnia Kambeba e estudante de Biotecnologia, e Roseli Rodrigues de Mello, docente do Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas (DTPP) da UFSCar, participaram das atividades do Fórum, que é realizado anualmente. O objetivo da Sessão foi fazer um balanço entre governos e organizações, verificando o cumprimento de acordos mundiais relacionados às questões indígenas e fazendo o acompanhamento das relações entre Estados, entidades e indivíduos.
A participação dos representantes da UFSCar foi viabilizada a partir do credenciamento da Universidade como instituição observadora da ONU, e a participação de Kezo foi financiada pelo Centro para Documentação, Pesquisa e Informação de Pessoas Indígenas (doCip) da ONU, o que permitiu que o estudante integrasse as atividades de formação para se tornar observador do Fórum e tivesse direito a pronunciamento durante as reuniões.
O estudante valoriza o aprendizado nas duas semanas de atividades, e destaca a importância de reunir lideranças no debate sobre as questões indígenas. "Pudemos ver como o nosso país ainda está bastante atrasado no que diz respeito aos direitos dos povos indígenas, que são constantemente violados pelo Estado. Na UFSCar, desde o ingresso dos primeiros estudantes indígenas pelo Programa de Ações Afirmativas, vimos construindo nossa formação acadêmica e, também, enquanto lideranças para lutarmos pelos nossos direitos. Estar na ONU discutindo as grandes questões de povos indígenas do mundo todo é uma oportunidade muito importante de ouvir outras pessoas e entender todos os processos dentro da Organização, como denúncias e construção de documentos", afirma Kezo. O vídeo com a fala completa de Kezo em nome dos 29 povos indígenas presentes na UFSCar e dos 305 povos do País está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=yb_zIWYkT7s.
Os debates e pronunciamentos dos representantes do Brasil motivaram uma audiência com a relatoria do Fórum para abordar de forma aprofundada a situação do País e apresentar um conjunto de demandas e propostas organizadas pelos participantes. A reunião, por sua vez, resultou no agendamento de visita de representante da ONU ao Brasil. Outra reivindicação, que partiu dos representantes da UFSCar, foi a de inclusão de pronunciamento de lideranças indígenas após pronunciamentos de governos, de forma que a posição dos países não seja apenas a do Estado, mas também dos indivíduos diretamente envolvidos.
Souza explica que apesar de esta ter sido uma oportunidade ímpar, não deseja ser a exceção no cenário mundial, mas sim contribuir para que outras minorias tenham espaço para falar para o mundo. "Nossa presença na ONU faz parte de um contexto de fortalecimento da presença dos indígenas na Universidade. Foi a partir da formação do Centro de Culturas Indígenas da UFSCar, do Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas e, mais recentemente, da Semana dos Estudantes Indígenas da UFSCar, que promovemos a união entre os 29 povos presentes na Universidade e estabelecemos o diálogo com os não-indígenas. Isso tudo é essencial para que possamos nos desenvolver, ajudar nossos povos, e também contribuir para a produção de conhecimento na Universidade. Quando estamos na ONU lutando por nossos povos, trazemos uma responsabilidade que não é só nossa, é com o passado e com o futuro. Levei comigo meus antepassados, lembrando que usufruo dos direitos que eles conquistaram com muita luta, e quero deixar conquistas também para as próximas gerações. É uma dívida com uma história de luta que me antecedeu, e não dar continuidade seria renegar meu povo", afirma o estudante. Ele destaca o papel mediador da ONU e a importância de conhecer os meandros da política internacional para avançar na conquista de direitos. "Tivemos a oportunidade de entender profundamente como funciona a Organização, que é um lugar de articulação política e de criação de novas redes entre pessoas e entre organizações. É uma luta constante não só para a conquista de direitos, mas também para que não se retroceda. Conhecer a realidade de outros países coloca essas lutas em perspectiva, podemos avaliar onde estamos avançados e bons exemplos para nos espelharmos. Somente por meio da nossa formação e capacitação para atuar em diferentes fóruns é que temos condições de ocupar novos espaços nos debates, sejam em nível regional, nacional ou mundial", complementa.
Mello, que coordenou o Programa de Ações Afirmativas da UFSCar entre os anos de 2012 e 2013, evidencia a necessidade do protagonismo dos indígenas nos debates sobre os direitos de seus povos, bem como os desafios que enfrentam para conquistar reconhecimento. "Até pouco tempo atrás, antes das políticas de ações afirmativas, os indígenas estavam na universidade como objeto de estudo. Agora, constroem novos rumos e consolidam espaços para falarem por si e para que nós, não-indígenas, falemos com eles, e não por eles. Ainda precisamos avançar bastante no debate sobre a produção de conhecimento pelos indígenas, que podem contribuir sobremaneira na articulação entre conhecimentos tradicionais e científicos. Termos dois de nossos estudantes, que são lideranças dentro da Universidade, construindo seus espaços como lideranças na ONU é uma responsabilidade enorme, e uma oportunidade muito preciosa. Durante o Fórum, chamou muita atenção a presença de estudantes representado o País, e isso revela o potencial que eles têm de propor políticas e cobrar mudanças", afirma a docente.
Os vídeos das conferências realizadas durante a 14ª Sessão do Fórum Permanente para Questões Indígenas da ONU, documentos produzidos e outras informações estão disponíveis em Inglês no site da ONU. Na próxima semana, os representantes da UFSCar realizarão um evento para compartilhar as experiências do Fórum com a comunidade. A data será divulgada nos próximos dias.
Legenda da foto: Da direita para a esquerda, Ariabo Kezo e Marcondy Maurício de Souza, durante o evento na sede da ONU em Nova Iorque. (Crédito: Divulgação)
A participação dos representantes da UFSCar foi viabilizada a partir do credenciamento da Universidade como instituição observadora da ONU, e a participação de Kezo foi financiada pelo Centro para Documentação, Pesquisa e Informação de Pessoas Indígenas (doCip) da ONU, o que permitiu que o estudante integrasse as atividades de formação para se tornar observador do Fórum e tivesse direito a pronunciamento durante as reuniões.
O estudante valoriza o aprendizado nas duas semanas de atividades, e destaca a importância de reunir lideranças no debate sobre as questões indígenas. "Pudemos ver como o nosso país ainda está bastante atrasado no que diz respeito aos direitos dos povos indígenas, que são constantemente violados pelo Estado. Na UFSCar, desde o ingresso dos primeiros estudantes indígenas pelo Programa de Ações Afirmativas, vimos construindo nossa formação acadêmica e, também, enquanto lideranças para lutarmos pelos nossos direitos. Estar na ONU discutindo as grandes questões de povos indígenas do mundo todo é uma oportunidade muito importante de ouvir outras pessoas e entender todos os processos dentro da Organização, como denúncias e construção de documentos", afirma Kezo. O vídeo com a fala completa de Kezo em nome dos 29 povos indígenas presentes na UFSCar e dos 305 povos do País está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=yb_zIWYkT7s.
Os debates e pronunciamentos dos representantes do Brasil motivaram uma audiência com a relatoria do Fórum para abordar de forma aprofundada a situação do País e apresentar um conjunto de demandas e propostas organizadas pelos participantes. A reunião, por sua vez, resultou no agendamento de visita de representante da ONU ao Brasil. Outra reivindicação, que partiu dos representantes da UFSCar, foi a de inclusão de pronunciamento de lideranças indígenas após pronunciamentos de governos, de forma que a posição dos países não seja apenas a do Estado, mas também dos indivíduos diretamente envolvidos.
Souza explica que apesar de esta ter sido uma oportunidade ímpar, não deseja ser a exceção no cenário mundial, mas sim contribuir para que outras minorias tenham espaço para falar para o mundo. "Nossa presença na ONU faz parte de um contexto de fortalecimento da presença dos indígenas na Universidade. Foi a partir da formação do Centro de Culturas Indígenas da UFSCar, do Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas e, mais recentemente, da Semana dos Estudantes Indígenas da UFSCar, que promovemos a união entre os 29 povos presentes na Universidade e estabelecemos o diálogo com os não-indígenas. Isso tudo é essencial para que possamos nos desenvolver, ajudar nossos povos, e também contribuir para a produção de conhecimento na Universidade. Quando estamos na ONU lutando por nossos povos, trazemos uma responsabilidade que não é só nossa, é com o passado e com o futuro. Levei comigo meus antepassados, lembrando que usufruo dos direitos que eles conquistaram com muita luta, e quero deixar conquistas também para as próximas gerações. É uma dívida com uma história de luta que me antecedeu, e não dar continuidade seria renegar meu povo", afirma o estudante. Ele destaca o papel mediador da ONU e a importância de conhecer os meandros da política internacional para avançar na conquista de direitos. "Tivemos a oportunidade de entender profundamente como funciona a Organização, que é um lugar de articulação política e de criação de novas redes entre pessoas e entre organizações. É uma luta constante não só para a conquista de direitos, mas também para que não se retroceda. Conhecer a realidade de outros países coloca essas lutas em perspectiva, podemos avaliar onde estamos avançados e bons exemplos para nos espelharmos. Somente por meio da nossa formação e capacitação para atuar em diferentes fóruns é que temos condições de ocupar novos espaços nos debates, sejam em nível regional, nacional ou mundial", complementa.
Mello, que coordenou o Programa de Ações Afirmativas da UFSCar entre os anos de 2012 e 2013, evidencia a necessidade do protagonismo dos indígenas nos debates sobre os direitos de seus povos, bem como os desafios que enfrentam para conquistar reconhecimento. "Até pouco tempo atrás, antes das políticas de ações afirmativas, os indígenas estavam na universidade como objeto de estudo. Agora, constroem novos rumos e consolidam espaços para falarem por si e para que nós, não-indígenas, falemos com eles, e não por eles. Ainda precisamos avançar bastante no debate sobre a produção de conhecimento pelos indígenas, que podem contribuir sobremaneira na articulação entre conhecimentos tradicionais e científicos. Termos dois de nossos estudantes, que são lideranças dentro da Universidade, construindo seus espaços como lideranças na ONU é uma responsabilidade enorme, e uma oportunidade muito preciosa. Durante o Fórum, chamou muita atenção a presença de estudantes representado o País, e isso revela o potencial que eles têm de propor políticas e cobrar mudanças", afirma a docente.
Os vídeos das conferências realizadas durante a 14ª Sessão do Fórum Permanente para Questões Indígenas da ONU, documentos produzidos e outras informações estão disponíveis em Inglês no site da ONU. Na próxima semana, os representantes da UFSCar realizarão um evento para compartilhar as experiências do Fórum com a comunidade. A data será divulgada nos próximos dias.
Legenda da foto: Da direita para a esquerda, Ariabo Kezo e Marcondy Maurício de Souza, durante o evento na sede da ONU em Nova Iorque. (Crédito: Divulgação)
07/05/2015
13:00:00
04/06/2015
23:00:00
Mariana Pezzo
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