Estudos demonstram eficácia da terapia com células-tronco no tratamento de diabetes mellitus do tipo 2 em camundongos

São Carlos
Estudos realizados na UFSCar demonstraram melhorias no metabolismo de camundongos, induzidos a desenvolverem diabetes mellitus do tipo 2 apenas com uso de dieta, a partir do tratamento com células tronco mesenquimais. Os estudos são conduzidos pela docente Ângela Merice de Oliveira Leal do Departamento de Medicina (DMed) da Universidade, coordenadora do Laboratório de Investigação Endócrino-Metabólica (LIEM).

As células tronco mesenquimais têm a capacidade de originar outros tipos de células, além disso, produzem substâncias que atuam como modulador do sistema imunológico, secretam fatores anti-inflamatórios e controlam a apoptose, que é um processo de morte celular planejada. Diante dessas características, a aplicação de células-tronco mesenquimais são promissoras no tratamento do diabetes do tipo 2, pois a doença tem uma base fisiopatológica inflamatória. A professora Leal explica que as células-tronco mesenquimais são atraídas para locais inflamados e não sofrem rejeição pelo sistema imunológico e também apresentam propriedades interessantes para as pesquisas, pois são bem acessíveis, presentes na medula óssea e no tecido adiposo.

O diabetes tipo 2 é uma doença crônica que afeta o metabolismo da glicose, lipídios e proteínas, principal fonte de energia do corpo. A pessoa com diabetes tipo 2, embora produza a insulina, tem resistência aos efeitos do hormônio ou não o produz em quantidade suficiente para manter o nível normal de açúcar no sangue. A obesidade é um fator relevante para o desenvolvimento do diabetes do tipo 2. "A resistência à insulina é a barreira que ocorre à ação da insulina nos diversos tecidos. A obesidade é o principal fator que leva à resistência à insulina. O tecido adiposo libera vários agentes hormonais e inflamatórios que agem nas vias de sinalização intracelular da insulina, bloqueando a sua ação", salienta Leal.

Fisiologicamente, o corpo humano responde de diversas maneiras para manter o correto funcionamento dos sistemas e órgãos e mantém um equilíbrio metabólico. No caso do diabetes do tipo 2, a resistência à insulina leva ao aumento dos níveis de glicose no sangue, que não é absorvida pelos tecidos. Essa hiperglicemia estimula o pâncreas a produzir mais insulina e, consequentemente, o aumento da atividade e o “desgaste” das células beta-pancreáticas levam à apoptose. A professora Leal explica que a apoptose é um processo fisiológico de controle da proliferação celular para manter o correto desenvolvimento e funcionamento dos tecidos. No entanto, a ocorrência aumentada desse mecanismo compromete a integridade dos órgãos. “As células beta-pancreáticas no homem têm uma capacidade limitada de adaptação, com proliferação limitada na adolescência e na gravidez, e o aumento da apoptose leva a uma diminuição da quantidade de células do pâncreas”, afirma Leal.  A docente destaca ainda que o excesso de gordura e de glicose também atua na secreção de citocinas inflamatórias que lesam as células do pâncreas e comprometem a produção e secreção de insulina.

Para a elaboração dos estudos, camundongos foram submetidos a uma dieta hiperlipídica. Este é o modelo que mais se aproxima da doença humana, pois não utiliza drogas tóxicas ou animais transgênicos. A injeção de células tronco mesenquimais contribuiu para redução da glicemia de jejum, da resistência à insulina e da apoptose celular no pâncreas, glândula responsável pela produção de insulina. "No nosso estudo, houve diminuição da hiperglicemia e da resistência insulínica nos animais tratados. As células tronco mesenquimais têm um importante papel imunomodulador e anti-apoptótico. Acredita-se que estas células promovam os seus efeitos diminuindo a ação de células e mediadores inflamatórios nos diversos tecidos através de ação parácrina", explica a docente. Além disso, a terapia celular com essas células não provoca resposta rejeição imunológica, pois o organismo não reage contra a presença das células tronco mesenquimais.

Os resultados dos estudos foram publicados no artigo "Metabolic and Pancreatic Effects of Bone Marrow Mesenchymal Stem Cells Transplantation in Mice Fed High-Fat Diet", publicado no final de abril na revista Plos One e na tese "Efeitos da infusão das células-tronco mesenquimais em modelo animal de resistência insulínica e diabetes tipo 2", desenvolvida por Patricia de Godoy Bueno, no Programa Interinstitucional de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas UFSCar / Unesp-Araraquara, sob orientação da professora Leal. As pesquisas coordenadas por Leal apresentaram resultados muito positivos, pois demonstraram que a injeção de células tronco mesenquimais contribuem para menor resistência dos tecidos à insulina e diminuição da apoptose nas células pancreáticas. Atualmente os estudos analisam os mecanismos moleculares que ocorreram nos tecidos e levaram à diminuição da resistência insulínica. Em outro projeto também apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a pesquisadora avalia o uso das células tronco no tratamento da neuropatia diabética, que provoca dor, sensações de formigamento e perda da sensibilidade nas mãos e nos pés e é a complicação crônica do diabetes mais frequente.

Leal salienta que o diabetes é uma doença de efeitos amplos na sociedade, pois compromete a qualidade de vida do indivíduo e seus familiares, com a necessidade de alterações no cotidiano por causa de complicações da doença. Por isso, além das pesquisas, também não necessárias outras ações, como atendimentos de qualidade e campanhas informativas. Na UFSCar, a professora Leal também desenvolve ações no ambulatório na Unidade Saúde-Escola dedicadas ao atendimento de pessoas com diabetes e na Liga Acadêmica de Diabetes, formada por alunos da UFSCar, com projetos de educação em saúde e prevenção, além das atividades de ensino em graduação e pós-graduação.
29/05/2015
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01/08/2015
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Enzo Kuratomi
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