Professor do Departamento de Letras da UFSCar descobre nove textos inéditos de José de Alencar

São Carlos
O professor Wilton Marques, do Departamento de Letras (DL) da UFSCar, que há quatro meses descobriu o poema inédito “O grito do Ipiranga” de Machado de Assis, encontrou nove textos inéditos do escritor romântico José de Alencar. Os escritos também foram descobertos no jornal Correio Mercantil e um deles é o primeiro artigo de crítica literária do autor que foi publicado no impresso, em 1851. Os outros oito restantes são folhetins (crônicas) da coluna que Alencar teve no mesmo Correio Mercantil – entre 1854 e 1855 – e que se chamava “Ao correr da pena”.

Segundo Marques, os textos dessa coluna foram reunidos em um livro que tem servido, desde 1874, de parâmetro para as edições posteriores. No entanto, “os oito folhetins encontrados nunca foram publicados em livro, embora tenham sido publicados nesta coluna”, ressalta. O professor conta que a descoberta dos textos de Alencar se deu em função de sua atual pesquisa para um livro que está escrevendo justamente sobre o poema inédito de Machado de Assis, também encontrado por ele. “Antes mesmo de Machado aparecer no Correio Mercantil, outros escritores românticos já tinham passado pelo jornal, como Joaquim Manuel de Macedo, Gonçalves Dias, Manuel Antônio de Almeida e José de Alencar. Quando fiz o levantamento no próprio jornal da contribuição de Alencar na coluna 'Ao correr da pena' é que os oito textos apareceram. Posteriormente, aprofundando a pesquisa, encontrei também o primeiro texto que Alencar publicou no Correio Mercantil, um estudo crítico-biográfico sobre o poeta português Augusto Emilio Zaluar, em 1851”, relata.

Em seus estudos sobre o material descoberto, o docente ressaltou o trecho de uma crônica de outubro de 1854 que, em sua opinião, é “bem atual nos dias de hoje, já que Alencar comenta sobre a invenção da 'máquina-deputado'”. O trecho da crônica pode ser conferido abaixo:

“Viva o progresso! Não há nada como as máquinas. Dizem que Pascal inventou uma de somar. Não estamos muito longe de ver por aí surgir qualquer dia alguma máquina de comer, de ler, de escrever, e até de fazer folhetim, do que não gostarei nada. Os Americanos sobretudo, gente que anda sempre ruminando um invento qualquer, são muito capazes de apresentar quando menos o esperarem alguma máquina-homem, que sirva para todos os misteres a que se presta o bípede implume. Teremos então máquina-negociante, máquina-advogado, máquina-médico, e uma variedade de máquinas políticas e sociais para o uso dos governos.
Ora, isto não será muito de admirar, visto que alguns países já descobriram uma espécie muito importante daquele melhoramento: a máquina-deputado. Todos sabem a organização de semelhante maquinismo. A máquina-deputado é movida pelo interesse, agente de maior força que o vapor, e o mais poderoso que se conhece hoje. O maquinista chama-se ministro, e quando a máquina se enferruja um pouco, aplica-lhe, em vez de azeite, pão-de-ló. Esta máquina serve para votar, levantando-se e sentando-se para dar apartes, fazer cauda aos ministros nas ocasiões necessárias, preencher o número de deputados que as constituições exigem, e finalmente para resistir aos deputados-homem, gente de consciência, que tem a balda de só apoiar os governos ilustres. Bem se vê, que para semelhante fim era escusado nesses países empregar-se um homem livre e inteligente, e que basta uma máquina, a qual não possa opor tropeços à marcha da administração”.

Na opinião de Marques, a descoberta dos textos é importante para a literatura brasileira. “Além de ter encontrado o primeiro texto de crítica literária publicado por Alencar no Correio Mercantil, a descoberta das oito crônicas poderá ajudar nas pesquisas sobre a importância do Alencar cronista, sobretudo como observador privilegiado da vida cotidiana do Rio de Janeiro oitocentista”, ressalta. Devido ao caráter inédito dos textos, Marques está preparando uma edição comentada de tais crônicas, que deverá ser produzida nos próximos meses.
05/08/2015
13:45:00
31/08/2015
22:00:00
Adriana Arruda
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