Pesquisas da UFSCar revelam que discriminação contra homossexuais está presente nas escolas e apontam como combatê-la
Lagoa do Sino
Recentemente, o tema da educação para a diversidade tomou conta de debates Brasil afora, sobretudo ao longo de 2015, por conta dos processos de formulação dos Planos Municipais de Educação que sistematizaram metas e estratégias educacionais para as cidades brasileiras nos próximos 10 anos. Em muitos municípios, a preocupação com uma educação que respeite as diferenças de gênero o que, afirmam os pesquisadores da área, nada tem a ver com desvalorização da família tradicional foi desconsiderada e retirada dos planos.
Embora haja muita resistência em se discutir o planejamento de uma educação para a diversidade, estudo realizado por docentes do Centro de Ciências Humanas e Biológicas (CCHB) do Campus Sorocaba da UFSCar revelou que, na escola, ainda são identificados muitos casos de discriminação, e que os educadores não sabem lidar de modo apropriado diante, por exemplo, das agressões físicas e verbais sofridas pelos homossexuais no ambiente escolar.
De acordo com levantamento conduzido pelas professoras Viviane Mendonça e Kelen Leite e pelo professor Marcos Garcia, do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE) e do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEd), 32% dos homossexuais entrevistados durante a 6ª edição da Parada LGBT de Sorocaba afirmaram sofrer preconceito dentro das salas de aula. Os dados convergem com os apresentados em pesquisa do Ministério da Educação que ouviu 8.283 estudantes na faixa etária de 15 a 29 anos, no ano letivo de 2013, em todo o país, e constatou que 20% dos alunos não quer colega de classe gay ou transexual. Para Mendonça, o entendimento desse cenário e a busca por estratégias capazes de revertê-lo não é uma questão do movimento LGBT, é uma questão da educação, que deve ser defendida e compreendida por todos os educadores.
A educação para a diversidade não é uma doutrinação capaz de converter as pessoas à homossexualidade, como se isso fosse possível. O objetivo é criarmos condições dentro das escolas para que professores e alunos possam aprender e ensinar o convívio com as diferenças que naturalmente existem entre todos, afirma Mendonça.
Nesse sentido, inclusive, a pesquisadora da UFSCar destaca que a educação para a diversidade não se preocupa apenas com o respeito às diferenças de gênero, mas busca por dinâmicas pedagógicas que deem conta de instaurar na escola um convívio democrático entre estudantes e professores de diferentes etnias, crenças e culturas. Essas práticas pedagógicas de respeito às diferenças são baseadas no diálogo e na pluralidade de opiniões e pontos de vista. A escola tem que ser um espaço aberto à reflexão e de acolhimento aos alunos em sua individualidade e liberdade de expressão, acredita a professora.
Os resultados encontrados pelos professores do CCHB apontam que os ambientes familiar e religioso também são palcos predominantes de discriminação por orientação sexual. Deste modo, os pesquisadores acreditam que a análise das questões familiares e religiosas como produtoras de violência homofóbica deve estar na agenda de proposições e ações para sua superação no cotidiano escolar.
A escola é o lugar privilegiado para a promoção da diversidade e dos direitos humanos, o que não tem ocorrido de forma suficiente no contexto local e no nacional. Evidencia-se, assim, uma lacuna e, ao mesmo tempo, a necessidade de ampliação no cotidiano escolar de espaços de trocas, redes, diálogos, de modo a se tornar um ambiente privilegiado de sociabilidade e lazer próprios de jovens LGBT e também de exercício da convivência social com afirmação das diferenças, atesta a pesquisadora.
No entanto, de acordo com o estudo, para que isto ocorra, é necessária a superação da indisposição de profissionais da educação para um diálogo sobre diversidade sexual e para o enfrentamento da discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, superação que deve já estar presente nos Projetos Político-Pedagógicos dos cursos de formação de professoras e professores. Hoje, nós assistimos quase que a inexistência de reflexões sobre diversidade dentro dos cursos de Pedagogia e das licenciaturas; e o resultado são professores despreparados para dar conta de uma sociedade em transformação, lamenta Mendonça.
Para finalizar, a pesquisadora enfatiza que é urgente que a escola, por meio de uma formação continuada de seus gestores e professores, se constitua como espaço onde sexismo e homofobia deixem de fazer parte de seu cotidiano, e se torne livre da obstinação da produção, reprodução e atualização dos parâmetros da heteronormatividade, entendida como um conjunto de discursos, valores e práticas por meio das quais a heterossexualidade é legitimada e instituída como única possibilidade de expressão sexual.
Grupo de pesquisa
As pesquisas sobre identidade de gênero e educação para a diversidade são realizadas no escopo do "Núcleo de Estudos de Gênero e Diversidade Sexual" (NEGDS-UFSCar), um grupo de pesquisa interdisciplinar do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE) do Campus Sorocaba da UFSCar. Criado em 2014, o NEGDS-UFSCar tem como objetivo produzir e divulgar estudos e pesquisas nas áreas de gênero e sexualidade, estudos feministas e diversidade sexual. Parte da premissa de que estudos de gênero e da diversidade sexual se constituem como uma prática acadêmica política, transformadora e necessariamente interdisciplinar. Discute também os aspectos ontológicos e epistemológicos, bem como éticos e estéticos, nos estudos de gênero e da diversidade sexual, analisados com os demais marcadores sociais das diferenças, tais como classe, raça/etnia, sexualidade e idade. As pesquisas desenvolvidas focam temáticas como memória e representação (identidades, fronteiras e pertencimento); participação política, educação, movimentos sociais e direitos humanos; trabalho e precariedade; mídia, tecnologias, ciência e cultura; e teorias de gênero e feministas contemporâneas.
Embora haja muita resistência em se discutir o planejamento de uma educação para a diversidade, estudo realizado por docentes do Centro de Ciências Humanas e Biológicas (CCHB) do Campus Sorocaba da UFSCar revelou que, na escola, ainda são identificados muitos casos de discriminação, e que os educadores não sabem lidar de modo apropriado diante, por exemplo, das agressões físicas e verbais sofridas pelos homossexuais no ambiente escolar.
De acordo com levantamento conduzido pelas professoras Viviane Mendonça e Kelen Leite e pelo professor Marcos Garcia, do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE) e do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEd), 32% dos homossexuais entrevistados durante a 6ª edição da Parada LGBT de Sorocaba afirmaram sofrer preconceito dentro das salas de aula. Os dados convergem com os apresentados em pesquisa do Ministério da Educação que ouviu 8.283 estudantes na faixa etária de 15 a 29 anos, no ano letivo de 2013, em todo o país, e constatou que 20% dos alunos não quer colega de classe gay ou transexual. Para Mendonça, o entendimento desse cenário e a busca por estratégias capazes de revertê-lo não é uma questão do movimento LGBT, é uma questão da educação, que deve ser defendida e compreendida por todos os educadores.
A educação para a diversidade não é uma doutrinação capaz de converter as pessoas à homossexualidade, como se isso fosse possível. O objetivo é criarmos condições dentro das escolas para que professores e alunos possam aprender e ensinar o convívio com as diferenças que naturalmente existem entre todos, afirma Mendonça.
Nesse sentido, inclusive, a pesquisadora da UFSCar destaca que a educação para a diversidade não se preocupa apenas com o respeito às diferenças de gênero, mas busca por dinâmicas pedagógicas que deem conta de instaurar na escola um convívio democrático entre estudantes e professores de diferentes etnias, crenças e culturas. Essas práticas pedagógicas de respeito às diferenças são baseadas no diálogo e na pluralidade de opiniões e pontos de vista. A escola tem que ser um espaço aberto à reflexão e de acolhimento aos alunos em sua individualidade e liberdade de expressão, acredita a professora.
Os resultados encontrados pelos professores do CCHB apontam que os ambientes familiar e religioso também são palcos predominantes de discriminação por orientação sexual. Deste modo, os pesquisadores acreditam que a análise das questões familiares e religiosas como produtoras de violência homofóbica deve estar na agenda de proposições e ações para sua superação no cotidiano escolar.
A escola é o lugar privilegiado para a promoção da diversidade e dos direitos humanos, o que não tem ocorrido de forma suficiente no contexto local e no nacional. Evidencia-se, assim, uma lacuna e, ao mesmo tempo, a necessidade de ampliação no cotidiano escolar de espaços de trocas, redes, diálogos, de modo a se tornar um ambiente privilegiado de sociabilidade e lazer próprios de jovens LGBT e também de exercício da convivência social com afirmação das diferenças, atesta a pesquisadora.
No entanto, de acordo com o estudo, para que isto ocorra, é necessária a superação da indisposição de profissionais da educação para um diálogo sobre diversidade sexual e para o enfrentamento da discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, superação que deve já estar presente nos Projetos Político-Pedagógicos dos cursos de formação de professoras e professores. Hoje, nós assistimos quase que a inexistência de reflexões sobre diversidade dentro dos cursos de Pedagogia e das licenciaturas; e o resultado são professores despreparados para dar conta de uma sociedade em transformação, lamenta Mendonça.
Para finalizar, a pesquisadora enfatiza que é urgente que a escola, por meio de uma formação continuada de seus gestores e professores, se constitua como espaço onde sexismo e homofobia deixem de fazer parte de seu cotidiano, e se torne livre da obstinação da produção, reprodução e atualização dos parâmetros da heteronormatividade, entendida como um conjunto de discursos, valores e práticas por meio das quais a heterossexualidade é legitimada e instituída como única possibilidade de expressão sexual.
Grupo de pesquisa
As pesquisas sobre identidade de gênero e educação para a diversidade são realizadas no escopo do "Núcleo de Estudos de Gênero e Diversidade Sexual" (NEGDS-UFSCar), um grupo de pesquisa interdisciplinar do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE) do Campus Sorocaba da UFSCar. Criado em 2014, o NEGDS-UFSCar tem como objetivo produzir e divulgar estudos e pesquisas nas áreas de gênero e sexualidade, estudos feministas e diversidade sexual. Parte da premissa de que estudos de gênero e da diversidade sexual se constituem como uma prática acadêmica política, transformadora e necessariamente interdisciplinar. Discute também os aspectos ontológicos e epistemológicos, bem como éticos e estéticos, nos estudos de gênero e da diversidade sexual, analisados com os demais marcadores sociais das diferenças, tais como classe, raça/etnia, sexualidade e idade. As pesquisas desenvolvidas focam temáticas como memória e representação (identidades, fronteiras e pertencimento); participação política, educação, movimentos sociais e direitos humanos; trabalho e precariedade; mídia, tecnologias, ciência e cultura; e teorias de gênero e feministas contemporâneas.
21/03/2016
10:42:00
28/03/2016
0:01:00
João Eduardo Justi
Sim
Não
Estudante, Docente/TA, Pesquisador, Visitante
Homossexuais ainda sofrem preconceito dentro das escolas, no Brasil.
8318