Docente e alunas da UFSCar participam de atividade interdisciplinar na Bahia
Lagoa do Sino
Vivenciar para aprender. Esta foi a definição da aluna Gabriela Contieri, do segundo ano do curso de Química no Campus Araras da UFSCar, para a atividade de extensão realizada na cidade de Barra Grande, na Bahia, juntamente com Marcella Chini, também aluna de Química, e o professor responsável, Ronaldo Pelegrini, do Departamento de Ciências da Natureza, Matemática e Educação (DCNME) da UFSCar. A atividade foi realizada no escopo de um Programa de Educação Tutorial (PET) da Universidade, que objetiva integrar ações de ensino, pesquisa e extensão e realizar, assim, atividades extracurriculares que complementam a formação acadêmica do estudante e atendam às necessidades do próprio curso de graduação.
Nesta ação, as duas alunas e o professor permaneceram 10 dias na Península de Maraú, localizada em Barra Grande, sul da Bahia, com o intuito de lecionar aulas no Colégio Municipal Maria Amélia Gême Pirajá. A proposta inicial também envolvia ações que incluíam filmagens para a produção de um documentário e atividades para que as alunas conhecessem o lado cultural da cidade. Os encontros, porém, foram muito mais intensos e diversificados do que previam. Dentre as atividades realizadas ao longo dos dias, destacam-se vivências gastronômicas, a primeira experiência com o mergulho, conversas no Centro Cultural Aquerê, debates sobre questões raciais e conversas com pessoas marcantes da região como o Seu Edi, morador mais velho de Barra Grande; o Seu Paciência, artesão que realiza um trabalho único manual; e proprietários de hotéis e restaurantes de comidas típicas como o acarajé, a moqueca e a tapioca , como o Seu Manoel e a Tapioca da Raquel. Entrevistaram, também, integrantes do Grupo de Dança Cucumbi e representantes da Escola Quilombola.
Segundo as alunas, todas as ações foram de muito aprendizado a mais impactante, porém, foi a visita ao lixão. Até aquele momento, nós só tínhamos conhecido as belezas de Barra Grande. Quando chegamos ao lixão, enxergamos todo o seu tamanho e o quanto o local prejudica o ecossistema. O vilarejo produz, diariamente, 10 toneladas de lixo em baixa temporada, o que é um absurdo. Foi um verdadeiro choque de realidade, pontua Gabriela. A aluna ainda lembra que, ao longo dos dias, sentiu uma mudança nítida em seu jeito de pensar. Como vivemos em áreas urbanas, muitas vezes não nos damos conta do quanto o meio ambiente precisa de nossa máxima atenção. Lá, como há um misto entre modernização causada pelo turismo e área preservada, foi possível notar esse equilíbrio sendo danificado com mais facilidade, algo que em nosso dia a dia passa despercebido, afirma.
Para Marcella, a visita ao lixão a impactou emocionalmente. Cheguei no lugar com uma visão e saí com outra totalmente diferente. Esse fato me fez abrir a cabeça para questões sociais e ambientais. Percebi que precisamos fazer mais e que muitas questões precisam ser debatidas e melhoradas. Tive uma verdadeira aula e fiquei espantada: realmente é enorme a quantidade de lixo gerada por gente que sequer mora lá, gente que chega, consome e vai embora. No fundo, é como o 'Seu Edi' disse: 'Barra é uma mãe para os filhos dela; a partir do momento em que recebe muito mais pessoas de fora, essa capacidade é extinguida e acaba-se gerando todos esses danos'. Parece que as pessoas já se conformaram com determinadas situações, algo que prejudica muitas vidas, ressalta.
Outra atividade de grande destaque da vivência das alunas em uma nova comunidade foram as aulas realizadas para duas turmas do oitavo ano, nas quais foram trabalhadas temáticas na área de química. As alunas da UFSCar também tiveram a oportunidade de participar da Semana da Consciência Negra no Colégio Maria Amélia. Eu nunca tinha lecionado antes, então já foi uma experiência totalmente enriquecedora. Nós tivemos contato com alunos de várias faixas etárias e exercemos a criatividade e a didática para falar de assuntos novos para eles. Percebemos que eram estudantes com desejo de aprender. Isso enriqueceu muito minha área acadêmica e me trouxe a sensação de dever cumprido, pois foi uma grande troca: ensinei e aprendi, conta Gabriela, que ministrou aulas sobre clonagem de plantas. Ensinei técnicas de clonagem e sua importância para a indústria rural. Realizei com eles o plantio de sementes no fundo da escola, o que foi bem interessante, relata.
Já Marcella abordou em suas aulas o assunto Química do cacau, que tratava os efeitos do chocolate no corpo humano e suas fases da sua preparação. Expliquei todo o processo do cacau, desde a sua colheita matéria prima que já foi responsável por mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) baiano até a fabricação final do chocolate e o que acontece em nosso corpo quando o ingerimos, ou seja, as substâncias geradas e enzimas liberadas. Falamos sobre assuntos relacionados à vassoura de bruxa, fungo que devastou grande parte das plantações de cacau na Bahia. Também expliquei as fórmulas das substâncias e foquei nas funções orgânicas, explica Marcella. Segundo a aluna, a interação com os alunos nas aulas foi um fato que a deixou confortável e o local onde ela mais gostou de permanecer. Ficar dentro da sala de aula, conversando com os alunos e conhecendo um pouco de cada um, foi de um crescimento imensurável para mim como professora. A forma como eles estavam atentos e participavam foi gratificante. Se apenas um deles que estava ali dentro levar consigo as coisas que dissemos já será motivo de grande alegria para mim.
Para Davi Maia, aluno do Colégio Maria Amélia, o contato direto com a comunidade acadêmica da UFSCar foi uma experiência importante. Com as atividades realizadas por eles no colégio, pude ver o futuro. Meus colegas e eu enxergamos que podemos ser alguém na vida, com uma profissão, uma carreira formada e estabelecida. Muitos aqui têm na cabeça que, quando acaba o Ensino Médio, acabam também os estudos e a vida, quando na verdade há muito pela frente é aí, inclusive, que tudo começa, reforça. Na opinião da diretora do Colégio Maria Amélia, Carla Bittencourt, a realização de atividades práticas, envolvendo a Universidade e uma comunidade de alunos de um colégio e de realidades bem diferentes, é de essencial importância. Além da troca cultural, os alunos se sentiram importantes, como parte de um projeto em que puderam vivenciar o conhecimento de forma prática, sabendo a utilidade de aprender determinados conteúdos. As aulas relacionadas à clonagem de plantas foram bem significativas e as alunas da UFSCar utilizaram metodologias lúdicas, o que facilitou a compreensão, afirma.
De acordo com o professor Ronaldo, também coordenador do PET, dentre tantos aprendizados, o maior deles foi entender como funciona, em sua totalidade de significado, um projeto de extensão dentro e fora da Universidade. Nós, como professores da UFSCar, devemos desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão. Eu, particularmente, tinha muita dificuldade de entender como fazer um projeto de ensino com extensão. Hoje tenho este conceito mais claro e o que me deixa mais entusiasmado em trabalhar na parte de extensão é a atividade, que se mostra sempre surpreendente, pontua Ronaldo. Na opinião do docente, a atividade de extensão acaba sendo muito maior do que o seu próprio planejamento. Por mais que nós planejemos todas as ações, ao desenvolvê-las elas acabam crescendo e o que trazemos de fora para a Universidade é um conhecimento muito maior do que o planejado, ressalta.
Para Gabriela, a experiência em sala de aula lhe deu a certeza de querer seguir o caminho como futura professora. Percebi que eu conheço muito pouco do Brasil e tenho um longo caminho de aprendizado, mas passar esse tempo com os estudantes me deixou mais certa de que eu realmente quero ser professora e de que eu quero transformar as pessoas por meio da educação. Pretendo continuar com projetos como esse e espero que esse ano mais alunos tenham a oportunidade de conhecer e conviver esse choque de cultura e realidade que eu tive. Para a aluna, comumente a Universidade dá enfoque em teorias e estudos, mas é importante mostrar a importância da parte prática no cotidiano. A UFSCar é uma universidade diferenciada por proporcionar esse tipo de interação. Acredito que a extensão proporciona essa saída da sala de aula, esse vivenciar para aprender. Indo até à Bahia e tendo aprendizados interdisciplinares envolvendo, ao mesmo tempo, questões raciais, cultura, gastronomia, ecologia, química, biologia e meio ambiente em geral eu entendi o que é a extensão de verdade, ressalta.
Esta vivência da comunidade da UFSCar na Bahia se transformou no documentário Os Sons do Aquerê, que está disponível para divulgação na UFSCar e em outras instituições de ensino. Os interessados em assistir o vídeo podem entrar em contato pelo email ronaldopelegrini@gmail.com. Segundo Ronaldo, para 2016, a ideia é produzir, ainda mais, verdadeiras atividades de extensão tão interdisciplinares e intensas como esta. Como nós dependemos de verba do próprio Programa, esperamos que os recursos saiam este ano para que consigamos cumprir todas as atividades programadas e, assim, continuar fortalecendo o aprendizado em suas múltiplas maneiras, finaliza o docente.
Nesta ação, as duas alunas e o professor permaneceram 10 dias na Península de Maraú, localizada em Barra Grande, sul da Bahia, com o intuito de lecionar aulas no Colégio Municipal Maria Amélia Gême Pirajá. A proposta inicial também envolvia ações que incluíam filmagens para a produção de um documentário e atividades para que as alunas conhecessem o lado cultural da cidade. Os encontros, porém, foram muito mais intensos e diversificados do que previam. Dentre as atividades realizadas ao longo dos dias, destacam-se vivências gastronômicas, a primeira experiência com o mergulho, conversas no Centro Cultural Aquerê, debates sobre questões raciais e conversas com pessoas marcantes da região como o Seu Edi, morador mais velho de Barra Grande; o Seu Paciência, artesão que realiza um trabalho único manual; e proprietários de hotéis e restaurantes de comidas típicas como o acarajé, a moqueca e a tapioca , como o Seu Manoel e a Tapioca da Raquel. Entrevistaram, também, integrantes do Grupo de Dança Cucumbi e representantes da Escola Quilombola.
Segundo as alunas, todas as ações foram de muito aprendizado a mais impactante, porém, foi a visita ao lixão. Até aquele momento, nós só tínhamos conhecido as belezas de Barra Grande. Quando chegamos ao lixão, enxergamos todo o seu tamanho e o quanto o local prejudica o ecossistema. O vilarejo produz, diariamente, 10 toneladas de lixo em baixa temporada, o que é um absurdo. Foi um verdadeiro choque de realidade, pontua Gabriela. A aluna ainda lembra que, ao longo dos dias, sentiu uma mudança nítida em seu jeito de pensar. Como vivemos em áreas urbanas, muitas vezes não nos damos conta do quanto o meio ambiente precisa de nossa máxima atenção. Lá, como há um misto entre modernização causada pelo turismo e área preservada, foi possível notar esse equilíbrio sendo danificado com mais facilidade, algo que em nosso dia a dia passa despercebido, afirma.
Para Marcella, a visita ao lixão a impactou emocionalmente. Cheguei no lugar com uma visão e saí com outra totalmente diferente. Esse fato me fez abrir a cabeça para questões sociais e ambientais. Percebi que precisamos fazer mais e que muitas questões precisam ser debatidas e melhoradas. Tive uma verdadeira aula e fiquei espantada: realmente é enorme a quantidade de lixo gerada por gente que sequer mora lá, gente que chega, consome e vai embora. No fundo, é como o 'Seu Edi' disse: 'Barra é uma mãe para os filhos dela; a partir do momento em que recebe muito mais pessoas de fora, essa capacidade é extinguida e acaba-se gerando todos esses danos'. Parece que as pessoas já se conformaram com determinadas situações, algo que prejudica muitas vidas, ressalta.
Outra atividade de grande destaque da vivência das alunas em uma nova comunidade foram as aulas realizadas para duas turmas do oitavo ano, nas quais foram trabalhadas temáticas na área de química. As alunas da UFSCar também tiveram a oportunidade de participar da Semana da Consciência Negra no Colégio Maria Amélia. Eu nunca tinha lecionado antes, então já foi uma experiência totalmente enriquecedora. Nós tivemos contato com alunos de várias faixas etárias e exercemos a criatividade e a didática para falar de assuntos novos para eles. Percebemos que eram estudantes com desejo de aprender. Isso enriqueceu muito minha área acadêmica e me trouxe a sensação de dever cumprido, pois foi uma grande troca: ensinei e aprendi, conta Gabriela, que ministrou aulas sobre clonagem de plantas. Ensinei técnicas de clonagem e sua importância para a indústria rural. Realizei com eles o plantio de sementes no fundo da escola, o que foi bem interessante, relata.
Já Marcella abordou em suas aulas o assunto Química do cacau, que tratava os efeitos do chocolate no corpo humano e suas fases da sua preparação. Expliquei todo o processo do cacau, desde a sua colheita matéria prima que já foi responsável por mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) baiano até a fabricação final do chocolate e o que acontece em nosso corpo quando o ingerimos, ou seja, as substâncias geradas e enzimas liberadas. Falamos sobre assuntos relacionados à vassoura de bruxa, fungo que devastou grande parte das plantações de cacau na Bahia. Também expliquei as fórmulas das substâncias e foquei nas funções orgânicas, explica Marcella. Segundo a aluna, a interação com os alunos nas aulas foi um fato que a deixou confortável e o local onde ela mais gostou de permanecer. Ficar dentro da sala de aula, conversando com os alunos e conhecendo um pouco de cada um, foi de um crescimento imensurável para mim como professora. A forma como eles estavam atentos e participavam foi gratificante. Se apenas um deles que estava ali dentro levar consigo as coisas que dissemos já será motivo de grande alegria para mim.
Para Davi Maia, aluno do Colégio Maria Amélia, o contato direto com a comunidade acadêmica da UFSCar foi uma experiência importante. Com as atividades realizadas por eles no colégio, pude ver o futuro. Meus colegas e eu enxergamos que podemos ser alguém na vida, com uma profissão, uma carreira formada e estabelecida. Muitos aqui têm na cabeça que, quando acaba o Ensino Médio, acabam também os estudos e a vida, quando na verdade há muito pela frente é aí, inclusive, que tudo começa, reforça. Na opinião da diretora do Colégio Maria Amélia, Carla Bittencourt, a realização de atividades práticas, envolvendo a Universidade e uma comunidade de alunos de um colégio e de realidades bem diferentes, é de essencial importância. Além da troca cultural, os alunos se sentiram importantes, como parte de um projeto em que puderam vivenciar o conhecimento de forma prática, sabendo a utilidade de aprender determinados conteúdos. As aulas relacionadas à clonagem de plantas foram bem significativas e as alunas da UFSCar utilizaram metodologias lúdicas, o que facilitou a compreensão, afirma.
De acordo com o professor Ronaldo, também coordenador do PET, dentre tantos aprendizados, o maior deles foi entender como funciona, em sua totalidade de significado, um projeto de extensão dentro e fora da Universidade. Nós, como professores da UFSCar, devemos desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão. Eu, particularmente, tinha muita dificuldade de entender como fazer um projeto de ensino com extensão. Hoje tenho este conceito mais claro e o que me deixa mais entusiasmado em trabalhar na parte de extensão é a atividade, que se mostra sempre surpreendente, pontua Ronaldo. Na opinião do docente, a atividade de extensão acaba sendo muito maior do que o seu próprio planejamento. Por mais que nós planejemos todas as ações, ao desenvolvê-las elas acabam crescendo e o que trazemos de fora para a Universidade é um conhecimento muito maior do que o planejado, ressalta.
Para Gabriela, a experiência em sala de aula lhe deu a certeza de querer seguir o caminho como futura professora. Percebi que eu conheço muito pouco do Brasil e tenho um longo caminho de aprendizado, mas passar esse tempo com os estudantes me deixou mais certa de que eu realmente quero ser professora e de que eu quero transformar as pessoas por meio da educação. Pretendo continuar com projetos como esse e espero que esse ano mais alunos tenham a oportunidade de conhecer e conviver esse choque de cultura e realidade que eu tive. Para a aluna, comumente a Universidade dá enfoque em teorias e estudos, mas é importante mostrar a importância da parte prática no cotidiano. A UFSCar é uma universidade diferenciada por proporcionar esse tipo de interação. Acredito que a extensão proporciona essa saída da sala de aula, esse vivenciar para aprender. Indo até à Bahia e tendo aprendizados interdisciplinares envolvendo, ao mesmo tempo, questões raciais, cultura, gastronomia, ecologia, química, biologia e meio ambiente em geral eu entendi o que é a extensão de verdade, ressalta.
Esta vivência da comunidade da UFSCar na Bahia se transformou no documentário Os Sons do Aquerê, que está disponível para divulgação na UFSCar e em outras instituições de ensino. Os interessados em assistir o vídeo podem entrar em contato pelo email ronaldopelegrini@gmail.com. Segundo Ronaldo, para 2016, a ideia é produzir, ainda mais, verdadeiras atividades de extensão tão interdisciplinares e intensas como esta. Como nós dependemos de verba do próprio Programa, esperamos que os recursos saiam este ano para que consigamos cumprir todas as atividades programadas e, assim, continuar fortalecendo o aprendizado em suas múltiplas maneiras, finaliza o docente.
28/03/2016
11:33:00
04/04/2016
0:01:00
Adriana Arruda
Sim
Não
Estudante, Docente/TA, Pesquisador, Visitante
Alunas da UFSCar se reúnem com estudantes do Colégio Maria Amélia, na Bahia. Foto: Divulgação
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