Cursinhos populares da UFSCar fortalecem relação entre Universidade e comunidades de baixa renda
Lagoa do Sino
A cada ano, a UFSCar é reconhecida não apenas por sua excelência em pesquisa, ensino e extensão, mas também por iniciativas que promovem a inclusão social de pessoas pertencentes a comunidades de baixa renda nas cidades de seus campi e municípios ao seu entorno. Um desses projetos que vem ganhando destaque nos últimos anos são os cursos pré-vestibulares populares instituídos na Universidade. Presentes nos campi São Carlos, Araras e Sorocaba, os cursinhos buscam ensinamento multidisciplinar, acesso à informação e democratização do conhecimento. Seu principal objetivo é oferecer um aprendizado de qualidade às pessoas que não possuem condições de arcar com os custos de um cursinho de iniciativa privada e que estão interessadas pelo ingresso no Ensino Superior, especialmente no ensino público. Para isso, contam com um corpo docente composto por alunos da própria Universidade.
Pioneiro entre os três, o Cursinho de São Carlos, intitulado Cursinho UFSCar São Carlos, iniciou suas atividades em 1999. Anualmente oferece um total de 250 vagas e tem 50 alunos da UFSCar envolvidos no projeto, sendo 25 professores e 25 monitores. Neste último ano, contou um total de 39 aprovados em vestibulares do País. Já no ano de 2009, foi criado o curso pré-vestibular no Campus Sorocaba, chamado de Cursinho Educação e Cidadania (CEC), que conta atualmente com 16 docentes e ofertou 90 vagas em 2015. Até o início deste ano, 11 alunos foram aprovados em universidades públicas do Brasil o número total, envolvendo universidades particulares, ainda não foi contabilizado. Mais recentemente, em 2011, o método de implantação de cursinho foi iniciado também em Araras com o nome de UFSCurso, que totaliza 18 professores e teve uma oferta de 130 vagas em 2015. Neste último ano, contou com o total de 50 aprovações em universidades.
O processo seletivo em todos eles é baseado em uma análise socioeconômica e no desempenho em provas de conhecimentos gerais. É feito, portanto, somente com estudantes de escolas públicas, ou contemplados com bolsas de estudo em escolas privadas, e de acordo com a renda familiar. A existência desses cursinhos em três campi da Universidade revela seu compromisso com a democratização do acesso ao Ensino Superior público e cria outras oportunidades formativas. Ao mesmo tempo, a UFSCar reafirma seu compromisso com a formação de profissionais futuros professores e outros comprometidos com os segmentos da população historicamente discriminados e alijados do direito à educação superior, ressalta a professora Ana Luiza Perdigão, do Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas (DTPP) e coordenadora do Cursinho UFSCar São Carlos.
Na opinião do professor Gilberto Cunha Franca, do Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades (DGTH) do Campus Sorocaba da UFSCar e coordenador do CEC, esta oportunidade é muito importante aos alunos ingressantes, visto que não existe ainda igualdade de oportunidade no ensino pré-universitário em nosso País, o que traz as piores consequências sobre jovens de baixa renda, negros, jovens de periferias urbanas e oriundos de escola pública, afirma o professor. Para ele, a UFSCar se destaca com a implementação e o fortalecimento dos cursinhos populares em três campi. Isso reforça ainda mais o compromisso da Universidade com o ensino, com a igualdade social e com a diversidade humana.
De modo geral, os cursos pré-vestibulares têm mantido, nos últimos anos, uma média de aprovação entre 25 e 30% em vestibulares das universidades públicas dos estudantes que cursam até o final do ano letivo. O foco para a preparação das aulas é norteado pelas habilidades e competências exigidas na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), sendo a interdisciplinaridade uma questão essencial para que os alunos tenham uma visão mais ampla e real da ciência. Na opinião de Gilberto, o diferencial destes projetos é a convivência dos alunos do Cursinho com alunos da UFSCar no ambiente da própria Universidade. O principal benefício que o CEC proporciona é a vivência com realidades diferentes e o crescimento crítico, uma vez que existe uma boa troca de experiências entre alunos e professores, afirma.
Inclusão social, benefícios mútuos
Desde as implantações nos três campi da Universidade, o curso pré-vestibular da UFSCar vem gerando benefícios mútuos. Gabriella Corona faz parte dos índices de aprovação do UFSCurso. A aluna participou do Cursinho Popular do Campus Araras em 2015 e foi aprovada no curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com bolsa Prouni, e ficou na lista de espera em Economia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A escolha foi pela UFMG e hoje ela comemora as vitórias. O UFSCurso foi muito importante na conquista da minha vaga na universidade. Por meio do cursinho, eu tive um maior contato com as matérias e questões que são cobradas no Enem. Além disso, os professores sempre estiveram disponíveis e interessados em nos ajudar a esclarecer quaisquer dúvidas a respeito dos exercícios, vestibulares ou sobre o ambiente universitário, lembra Gabriella. Para o futuro, as expectativas são as melhores. Estou amando a vivência num ambiente universitário e o meu curso. Os professores são ótimos, os conteúdos estudados me despertam grande interesse e há oportunidades para participar de grupos de estudo, extensão, palestras, debates e aulas diversificadas, comemora.
Já para Bianca Cristina Pupo Cruz, a influência do CEC Sorocaba em sua vida acadêmica foi decisiva para os seus rumos profissionais. Estudante do segundo ano do curso de graduação em Geografia pela UFSCar, Bianca foi aluna do CEC no ano de 2014 e atualmente leciona no Cursinho. Eu tinha dificuldade em compreender as matérias de Exatas e nisso o CEC me ajudou muito. Os professores têm vontade de ensinar e, como ainda são estudantes, conhecem as dificuldades dos alunos. Matérias como Ética e Filosofia foram as que mais me motivaram a entrar em Geografia e me abriram os olhos para questões que a escola, muitas vezes, não aborda. O CEC fez com que eu me apaixonasse por esta Universidade!, relata Bianca. Segundo a estudante, seu sonho era passar numa universidade pública, mas tinha consciência de ser um grande desafio. As pressões familiar, escolar e os conteúdos exaustivos me causaram um medo terrível de não passar. Quando o resultado saiu, me senti vitoriosa. Eu estudei toda a minha vida em escola pública e minha mãe sempre me motivou muito; foi uma conquista para a família toda, se orgulha Bianca. Na opinião da aluna, estar num cursinho já dentro da Universidade fez toda a diferença para a sua aprovação. Eu pude conversar com alunos de vários cursos e os próprios professores me orientaram. Passei a gostar cada vez mais do ambiente e a me interessar pelo curso de Geografia. Hoje meus professores da graduação são fantásticos!, comemora.
Depois de toda a luta e com a entrada na Universidade, Bianca teve a ideia de se tornar professora do CEC. Sinto que devia isso ao projeto, então logo que passei já tive o intuito de lecionar. Pretendo seguir na área e defender uma educação pública de qualidade. Procuro ir além de simplesmente ensinar os conteúdos; quero aconselhar e aproximar o contato com os alunos, assim como fizeram comigo, lembra. O conselho de Bianca aos alunos ingressantes no CEC é direto: digo a eles para não desistirem. É difícil, cansativo; às vezes a vontade é de jogar tudo para o alto, mas vale a pena se esforçar até o fim. Afinal, só nós, jovens, podemos nos mover para melhorarmos o sistema de educação brasileira. É muito importante termos cada vez mais jovens, de diferentes lugares, classes sociais e raças, dentro das universidades e que busquem modificar a maneira como vemos o mundo, finaliza a estudante. Gabriella complementa: o ideal é desfrutar de todos os momentos e manter o foco nos estudos. Apesar de ser um ano cansativo, ele é ótimo para aprender conceitos novos, fazer amizades, reconsiderar as suas opiniões e ideias e amadurecer, opina.
Além de ter concretizado sonhos de jovens estudantes do Ensino Médio, os cursinhos populares promovem aprendizados aos seus docentes, que são compostos por estudantes da própria UFSCar. Matheus Navi e Sérgio Imamura são alunos do curso de licenciatura em Física da Universidade e lecionam no UFSCurso Matheus dá aula desde 2013 e atualmente leciona Física; Sérgio faz parte do time UFSCurso desde 2011, primeiro ano de funcionamento do cursinho em Araras, e ensina Matemática. Tivemos a ideia de participar como professores do cursinho na intenção de nos inserirmos e compreendermos o contato da docência e sua prática. Nesse sentido, o UFSCurso nos ajudou a atingir o objetivo de nos tornarmos professores, relata Matheus.
A professora Ana Luiza ressalta que, no Campus São Carlos, o desenvolvimento dos alunos da UFSCar que lecionavam no projeto foi muito grande ao longo dos anos. Com o cursinho, eles têm a oportunidade de vivenciar uma experiência sistematizada, de longa duração e completa, em que são responsáveis por todo o processo de ensino, desde o seu planejamento, desenvolvimento, avaliação da aprendizagem dos alunos e de seu próprio processo de ensino e replanejamento. Esse processo completo envolve compromisso, análise, reflexão, tomada de posição, tomadas de decisão, solução de problemas, entre muitas outras ações, lembra.
Na opinião de Sérgio, o UFSCurso também traz várias vantagens aos alunos da UFSCar que lecionam no projeto. Ele dá oportunidade ao licenciando de estar à frente de uma sala de aula e cumprir o papel de professor. Essa experiência é de extrema importância na formação docente para o entendimento concreto da prática pedagógica, ressalta. No aspecto das relações interpessoais existentes entre os indivíduos envolvidos sejam eles professor-aluno, aluno-aluno e até entre os professores de uma mesma turma , ministrar aulas oportuniza a familiaridade com essas relações. A atividade nos prepara para lidar melhor com as demandas da sala de aula. Gerir conflitos, pessoas e situações complexas que envolvem todo o processo são vivências importantes na formação de educadores, que devem estar preparados para além da teoria, enfatiza Matheus.
Desafios e perspectivas
Na opinião da professora Tathiane Milaré, do Departamento de Ciências da Natureza, Matemática e Educação (DCNME) do Campus Araras e coordenadora do UFSCurso, o maior desafio enfrentado pelo projeto é a alta taxa de evasão dos alunos, fato comum nos cursinhos populares do País. Esta taxa fica em torno de 65% e os principais motivos são a dificuldade em conciliar trabalho com o cursinho muitos deles fazem esta dupla jornada exaustiva e o cansaço, tendo em vista que vários estudantes consideram a rotina de estudo bem exaustiva. Nesse sentido, tentamos planejar novas ações a fim de evitar esta evasão, avalia.
Dentre as ações concretizadas estão a redução do número de aulas por semana de cinco para dois dias e a realização de aulas em local de fácil acesso a transporte coletivo e comércio para que os alunos consigam almoçar nas proximidades. Em 2016, o cursinho voltou a ser oferecido no Campus para aproximar os estudantes do ambiente universitário. Também tem investido na elaboração de materiais didáticos que prendam a atenção dos ingressantes. Em 2015, os professores gravaram cinco vídeo-aulas das disciplinas de Ciências da Natureza, Matemática, Ciências Humanas e Língua Portuguesa, além de dois com interpretação em Libras, que estão em fase de avaliação, informa. Além disso, a coordenadora prevê mais perspectivas: a meta é aumentar o número de aprovações em universidades públicas a cada ano e em programas governamentais como o Prouni, com bolsa de 100% de desconto nas mensalidade. Também em 2016 ampliamos o projeto com novas vagas de 130, em 2015, foi para 210 em 2016 e aulas dinâmicas, inclusive com uso de experimentação e discussão de filmes, informa a professora.
A professora Ana Luiza, coordenadora do CPV, afirma que, apesar do corte de verbas feito em 2016 e das dificuldades de ampliação, o Cursinho pretende continuar com os seus diferenciais, que abarcam seis vertentes: uma gestão participativa; avaliação permanente do trabalho e consequente preocupação com o seu aperfeiçoamento; inovação curricular, que mostra a preocupação não apenas com os vestibulares, mas também com a vida dos alunos e suas futuras permanências bem-sucedidas em universidades em que ingressarem; o trabalho em sala de aula e a interação professor-monitor, que propicia melhor atendimento às necessidades dos alunos; a preparação pedagógica de seu corpo docente; e a existência de mecanismo para que os ingressantes se manifestem, sempre que possível, na condução dos trabalhos.
Já o docente Gilberto adianta que as perspectivas do CEC para os próximos anos vão além da relação ingressante-docente de um só Campus. Existe a ideia de aproximar os alunos do CEC com os demais cursinhos populares da UFSCar. Pensamos em ampliar a participação dos alunos e projetos que visam essa aproximação. Além disso, estamos nos organizando para receber alunos indígenas. Também temos o intuito de realizar aulas abertas no Núcleo de Extensão ETC, localizado na região central da cidade. A ideia é oferecer aulas a outros cursinhos, possivelmente uma vez ao mês. Isso ajudaria o CEC a se expandir em Sorocaba e região, ultrapassando as fronteiras da Universidade, prevê Gilberto.
Os processos seletivos dos cursos pré-vestibulares da UFSCar acontecem no início de cada ano. Mais informações podem ser obtidas nos sites do Cursinho UFSCar São Carlos, do UFSCurso e do CEC. Também é possível acompanhar as notícias nas páginas no Facebook do Cursinho UFSCar São Carlos, UFSCurso e CEC.
Pioneiro entre os três, o Cursinho de São Carlos, intitulado Cursinho UFSCar São Carlos, iniciou suas atividades em 1999. Anualmente oferece um total de 250 vagas e tem 50 alunos da UFSCar envolvidos no projeto, sendo 25 professores e 25 monitores. Neste último ano, contou um total de 39 aprovados em vestibulares do País. Já no ano de 2009, foi criado o curso pré-vestibular no Campus Sorocaba, chamado de Cursinho Educação e Cidadania (CEC), que conta atualmente com 16 docentes e ofertou 90 vagas em 2015. Até o início deste ano, 11 alunos foram aprovados em universidades públicas do Brasil o número total, envolvendo universidades particulares, ainda não foi contabilizado. Mais recentemente, em 2011, o método de implantação de cursinho foi iniciado também em Araras com o nome de UFSCurso, que totaliza 18 professores e teve uma oferta de 130 vagas em 2015. Neste último ano, contou com o total de 50 aprovações em universidades.
O processo seletivo em todos eles é baseado em uma análise socioeconômica e no desempenho em provas de conhecimentos gerais. É feito, portanto, somente com estudantes de escolas públicas, ou contemplados com bolsas de estudo em escolas privadas, e de acordo com a renda familiar. A existência desses cursinhos em três campi da Universidade revela seu compromisso com a democratização do acesso ao Ensino Superior público e cria outras oportunidades formativas. Ao mesmo tempo, a UFSCar reafirma seu compromisso com a formação de profissionais futuros professores e outros comprometidos com os segmentos da população historicamente discriminados e alijados do direito à educação superior, ressalta a professora Ana Luiza Perdigão, do Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas (DTPP) e coordenadora do Cursinho UFSCar São Carlos.
Na opinião do professor Gilberto Cunha Franca, do Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades (DGTH) do Campus Sorocaba da UFSCar e coordenador do CEC, esta oportunidade é muito importante aos alunos ingressantes, visto que não existe ainda igualdade de oportunidade no ensino pré-universitário em nosso País, o que traz as piores consequências sobre jovens de baixa renda, negros, jovens de periferias urbanas e oriundos de escola pública, afirma o professor. Para ele, a UFSCar se destaca com a implementação e o fortalecimento dos cursinhos populares em três campi. Isso reforça ainda mais o compromisso da Universidade com o ensino, com a igualdade social e com a diversidade humana.
De modo geral, os cursos pré-vestibulares têm mantido, nos últimos anos, uma média de aprovação entre 25 e 30% em vestibulares das universidades públicas dos estudantes que cursam até o final do ano letivo. O foco para a preparação das aulas é norteado pelas habilidades e competências exigidas na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), sendo a interdisciplinaridade uma questão essencial para que os alunos tenham uma visão mais ampla e real da ciência. Na opinião de Gilberto, o diferencial destes projetos é a convivência dos alunos do Cursinho com alunos da UFSCar no ambiente da própria Universidade. O principal benefício que o CEC proporciona é a vivência com realidades diferentes e o crescimento crítico, uma vez que existe uma boa troca de experiências entre alunos e professores, afirma.
Inclusão social, benefícios mútuos
Desde as implantações nos três campi da Universidade, o curso pré-vestibular da UFSCar vem gerando benefícios mútuos. Gabriella Corona faz parte dos índices de aprovação do UFSCurso. A aluna participou do Cursinho Popular do Campus Araras em 2015 e foi aprovada no curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com bolsa Prouni, e ficou na lista de espera em Economia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A escolha foi pela UFMG e hoje ela comemora as vitórias. O UFSCurso foi muito importante na conquista da minha vaga na universidade. Por meio do cursinho, eu tive um maior contato com as matérias e questões que são cobradas no Enem. Além disso, os professores sempre estiveram disponíveis e interessados em nos ajudar a esclarecer quaisquer dúvidas a respeito dos exercícios, vestibulares ou sobre o ambiente universitário, lembra Gabriella. Para o futuro, as expectativas são as melhores. Estou amando a vivência num ambiente universitário e o meu curso. Os professores são ótimos, os conteúdos estudados me despertam grande interesse e há oportunidades para participar de grupos de estudo, extensão, palestras, debates e aulas diversificadas, comemora.
Já para Bianca Cristina Pupo Cruz, a influência do CEC Sorocaba em sua vida acadêmica foi decisiva para os seus rumos profissionais. Estudante do segundo ano do curso de graduação em Geografia pela UFSCar, Bianca foi aluna do CEC no ano de 2014 e atualmente leciona no Cursinho. Eu tinha dificuldade em compreender as matérias de Exatas e nisso o CEC me ajudou muito. Os professores têm vontade de ensinar e, como ainda são estudantes, conhecem as dificuldades dos alunos. Matérias como Ética e Filosofia foram as que mais me motivaram a entrar em Geografia e me abriram os olhos para questões que a escola, muitas vezes, não aborda. O CEC fez com que eu me apaixonasse por esta Universidade!, relata Bianca. Segundo a estudante, seu sonho era passar numa universidade pública, mas tinha consciência de ser um grande desafio. As pressões familiar, escolar e os conteúdos exaustivos me causaram um medo terrível de não passar. Quando o resultado saiu, me senti vitoriosa. Eu estudei toda a minha vida em escola pública e minha mãe sempre me motivou muito; foi uma conquista para a família toda, se orgulha Bianca. Na opinião da aluna, estar num cursinho já dentro da Universidade fez toda a diferença para a sua aprovação. Eu pude conversar com alunos de vários cursos e os próprios professores me orientaram. Passei a gostar cada vez mais do ambiente e a me interessar pelo curso de Geografia. Hoje meus professores da graduação são fantásticos!, comemora.
Depois de toda a luta e com a entrada na Universidade, Bianca teve a ideia de se tornar professora do CEC. Sinto que devia isso ao projeto, então logo que passei já tive o intuito de lecionar. Pretendo seguir na área e defender uma educação pública de qualidade. Procuro ir além de simplesmente ensinar os conteúdos; quero aconselhar e aproximar o contato com os alunos, assim como fizeram comigo, lembra. O conselho de Bianca aos alunos ingressantes no CEC é direto: digo a eles para não desistirem. É difícil, cansativo; às vezes a vontade é de jogar tudo para o alto, mas vale a pena se esforçar até o fim. Afinal, só nós, jovens, podemos nos mover para melhorarmos o sistema de educação brasileira. É muito importante termos cada vez mais jovens, de diferentes lugares, classes sociais e raças, dentro das universidades e que busquem modificar a maneira como vemos o mundo, finaliza a estudante. Gabriella complementa: o ideal é desfrutar de todos os momentos e manter o foco nos estudos. Apesar de ser um ano cansativo, ele é ótimo para aprender conceitos novos, fazer amizades, reconsiderar as suas opiniões e ideias e amadurecer, opina.
Além de ter concretizado sonhos de jovens estudantes do Ensino Médio, os cursinhos populares promovem aprendizados aos seus docentes, que são compostos por estudantes da própria UFSCar. Matheus Navi e Sérgio Imamura são alunos do curso de licenciatura em Física da Universidade e lecionam no UFSCurso Matheus dá aula desde 2013 e atualmente leciona Física; Sérgio faz parte do time UFSCurso desde 2011, primeiro ano de funcionamento do cursinho em Araras, e ensina Matemática. Tivemos a ideia de participar como professores do cursinho na intenção de nos inserirmos e compreendermos o contato da docência e sua prática. Nesse sentido, o UFSCurso nos ajudou a atingir o objetivo de nos tornarmos professores, relata Matheus.
A professora Ana Luiza ressalta que, no Campus São Carlos, o desenvolvimento dos alunos da UFSCar que lecionavam no projeto foi muito grande ao longo dos anos. Com o cursinho, eles têm a oportunidade de vivenciar uma experiência sistematizada, de longa duração e completa, em que são responsáveis por todo o processo de ensino, desde o seu planejamento, desenvolvimento, avaliação da aprendizagem dos alunos e de seu próprio processo de ensino e replanejamento. Esse processo completo envolve compromisso, análise, reflexão, tomada de posição, tomadas de decisão, solução de problemas, entre muitas outras ações, lembra.
Na opinião de Sérgio, o UFSCurso também traz várias vantagens aos alunos da UFSCar que lecionam no projeto. Ele dá oportunidade ao licenciando de estar à frente de uma sala de aula e cumprir o papel de professor. Essa experiência é de extrema importância na formação docente para o entendimento concreto da prática pedagógica, ressalta. No aspecto das relações interpessoais existentes entre os indivíduos envolvidos sejam eles professor-aluno, aluno-aluno e até entre os professores de uma mesma turma , ministrar aulas oportuniza a familiaridade com essas relações. A atividade nos prepara para lidar melhor com as demandas da sala de aula. Gerir conflitos, pessoas e situações complexas que envolvem todo o processo são vivências importantes na formação de educadores, que devem estar preparados para além da teoria, enfatiza Matheus.
Desafios e perspectivas
Na opinião da professora Tathiane Milaré, do Departamento de Ciências da Natureza, Matemática e Educação (DCNME) do Campus Araras e coordenadora do UFSCurso, o maior desafio enfrentado pelo projeto é a alta taxa de evasão dos alunos, fato comum nos cursinhos populares do País. Esta taxa fica em torno de 65% e os principais motivos são a dificuldade em conciliar trabalho com o cursinho muitos deles fazem esta dupla jornada exaustiva e o cansaço, tendo em vista que vários estudantes consideram a rotina de estudo bem exaustiva. Nesse sentido, tentamos planejar novas ações a fim de evitar esta evasão, avalia.
Dentre as ações concretizadas estão a redução do número de aulas por semana de cinco para dois dias e a realização de aulas em local de fácil acesso a transporte coletivo e comércio para que os alunos consigam almoçar nas proximidades. Em 2016, o cursinho voltou a ser oferecido no Campus para aproximar os estudantes do ambiente universitário. Também tem investido na elaboração de materiais didáticos que prendam a atenção dos ingressantes. Em 2015, os professores gravaram cinco vídeo-aulas das disciplinas de Ciências da Natureza, Matemática, Ciências Humanas e Língua Portuguesa, além de dois com interpretação em Libras, que estão em fase de avaliação, informa. Além disso, a coordenadora prevê mais perspectivas: a meta é aumentar o número de aprovações em universidades públicas a cada ano e em programas governamentais como o Prouni, com bolsa de 100% de desconto nas mensalidade. Também em 2016 ampliamos o projeto com novas vagas de 130, em 2015, foi para 210 em 2016 e aulas dinâmicas, inclusive com uso de experimentação e discussão de filmes, informa a professora.
A professora Ana Luiza, coordenadora do CPV, afirma que, apesar do corte de verbas feito em 2016 e das dificuldades de ampliação, o Cursinho pretende continuar com os seus diferenciais, que abarcam seis vertentes: uma gestão participativa; avaliação permanente do trabalho e consequente preocupação com o seu aperfeiçoamento; inovação curricular, que mostra a preocupação não apenas com os vestibulares, mas também com a vida dos alunos e suas futuras permanências bem-sucedidas em universidades em que ingressarem; o trabalho em sala de aula e a interação professor-monitor, que propicia melhor atendimento às necessidades dos alunos; a preparação pedagógica de seu corpo docente; e a existência de mecanismo para que os ingressantes se manifestem, sempre que possível, na condução dos trabalhos.
Já o docente Gilberto adianta que as perspectivas do CEC para os próximos anos vão além da relação ingressante-docente de um só Campus. Existe a ideia de aproximar os alunos do CEC com os demais cursinhos populares da UFSCar. Pensamos em ampliar a participação dos alunos e projetos que visam essa aproximação. Além disso, estamos nos organizando para receber alunos indígenas. Também temos o intuito de realizar aulas abertas no Núcleo de Extensão ETC, localizado na região central da cidade. A ideia é oferecer aulas a outros cursinhos, possivelmente uma vez ao mês. Isso ajudaria o CEC a se expandir em Sorocaba e região, ultrapassando as fronteiras da Universidade, prevê Gilberto.
Os processos seletivos dos cursos pré-vestibulares da UFSCar acontecem no início de cada ano. Mais informações podem ser obtidas nos sites do Cursinho UFSCar São Carlos, do UFSCurso e do CEC. Também é possível acompanhar as notícias nas páginas no Facebook do Cursinho UFSCar São Carlos, UFSCurso e CEC.
11/04/2016
13:00:00
17/04/2016
0:01:00
Adriana Arruda
Sim
Não
Estudante, Docente/TA, Pesquisador, Visitante
Alunos assistem aula no UFCurso. Foto: Samantha Camargo Daroque
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