Pesquisador da UFSCar investiga logística urbana em cidades de médio e grande porte

Araras, Sorocaba, São Carlos
Tráfego intenso, poluição, transporte público deficitário e infraestrutura precária estão presentes na realidade da maioria das cidades de médio e grande porte no Brasil e em boa parte do mundo. O caos inerente aos grandes centros impacta não apenas a rotina do cidadão comum, mas também diretamente nas atividades de logística das empresas. Por sua vez, o transporte de cargas urbanas contribui para o agravamento das tensões sociais – mais poluentes, congestionamentos, barulhos e acidentes – e a consequente precarização da qualidade de vida urbana.

Atualmente, as entregas de mercadorias nos centros urbanos de cidades brasileiras de médio e grande porte enfrentam os transtornos gerados pelo aumento de veículos, pelo crescimento não planejado das economias locais e pelo baixo investimento do poder público com relação à mobilidade de carga e melhoramento das vias públicas com locais adequados para carga e descarga. As questões a serem enfrentadas na área de logística urbana, portanto, são complexas, demandam conhecimento especializado e envolvimento de diversos atores sociais, o poder público, empresas transportadoras, residentes e lojistas. Nessa direção, o professor José Geraldo Vidal Vieira, do Departamento de Engenharia de Produção (DEPS), do Centro de Ciências em Gestão e Tecnologia (CCGT) no Campus Sorocaba da UFSCar, tem desenvolvido uma série de pesquisas com o objetivo de compreender as dificuldades – e propor soluções – para a distribuição de mercadorias dentro das cidades.

O transporte constitui um fator importante para a maioria das atividades econômicas e sociais que ocorrem em áreas urbanas. Considerando desde o abastecimento de lojas e mercados – o transporte é a ligação vital entre o fornecimento e os pontos de consumo –, as entregas de encomendas nas casas até a remoção de lixo, um grande número de diferentes tipos de carga atravessa constantemente centros urbanos e, de acordo com Vieira, ocupa cerca de um quarto do tráfego das ruas de uma cidade típica. Além disso, o número de veículos de carga em movimento dentro das cidades é crescente em função das características atuais de produção e das práticas de distribuição baseadas em baixos níveis de estoques, maior número de veículos leves de carga, entregas frequentes e programadas e do crescimento explosivo do comércio eletrônico que gera significativos volumes de entregas pessoais.

Segundo o pesquisador da UFSCar, o problema da movimentação de cargas em centros urbanos pode ser visto sob diferentes óticas: sob a ótica da empresa distribuidora e do operador logístico, que têm sua eficiência prejudicada pelos congestionamentos e dificuldades de acesso, não conseguindo cumprir prazos e degradando sua produtividade; do varejista, que precisa receber suas mercadorias dentro dos prazos estipulados, para manter o seu negócio em funcionamento e lucrativo; sob a ótica do morador da cidade, que tem sua qualidade de vida prejudicada pela poluição e interferências dos caminhões nos locais onde reside e trabalha; e do poder público, que tem grande dificuldade em regulamentar e minimizar os impactos deste relacionamento carga-cidade e, ao mesmo tempo, garantir a continuidade das atividades econômicas dependentes destes fluxos.

Em recente estudo, Vieira investigou os principais atributos que interferem negativamente no transporte urbano de carga na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) sob o ponto de vista do operador logístico e transportador. “É fato que a distribuição de carga em grandes centros urbanos é um desafio para as empresas de transporte devido a vários fatores: a falta de local adequado para carga e descarga, a restrição de circulação de caminhões e apertada janela de tempo de entrega, filas, congestionamento e roubos de carga”, afirma o pesquisador.

Durante a pesquisa, foi realizado um levantamento de dados com 119 representantes de operadores logísticos e transportadoras que atuam na RMSP. Os atributos investigados dizem respeito aos regulamentos para o tráfego e entrega de mercadoria, risco na entrega, colaboração entre as empresas envolvidas no transporte de mercadoria, fatores logísticos e requisitos ambientais, além dos indicadores de desempenho logístico adotados por essas empresas. Para os respondentes, os atributos que mais dificultam a entrega de mercadorias são: congestionamento; roubo de carga; e restrição na circulação de veículo. As entregas sazonais durante o mês e longas filas para carga/descarga foram apontadas pelos operadores logísticos como o maior problema, enquanto que o local inadequado para carga/descarga e para estacionar veículos de carga foi apontado como a maior restrição para os transportadores.

De acordo com Vieira, todos esses aspectos negativos podem contribuir para a baixa competitividade das empresas em termos de desempenho logístico. “Outros aspectos podem agravar ainda mais a ineficiência operacional na entrega de mercadorias em grandes centros, como: a necessidade de diferentes veículos de carga para atendimento da demanda variada, o aumento da frequência de entregas com um volume menor, a dificuldade de roteirização de entregas, principalmente em locais de difícil acesso e com restrições de circulação”, enumera o pesquisador da UFSCar.

Na opinião do docente, os centros urbanos podem se valer desse levantamento à medida que os atributos apontados são passíveis de serem investigados com o objetivo de melhoria do fluxo de mercadorias em seus bairros. A pesquisa também contribui para as empresas no sentido de mostrar quais indicadores de desempenho logístico podem ser aprimorados, dada a diversidade de problemas que elas enfrentam para o atendimento dos varejistas na RMSP. Para os governantes, o estudo é importante porque dá diretrizes para planejamento e melhoria do acesso às regiões centrais da cidade. “Os dados sinalizam caminhos viáveis para que o planejamento urbano de carga possa ser incluído de forma sistemática nas políticas públicas de mobilidade”, acredita Vieira.

Quando se trata das soluções para que o transporte de cargas e a entrega de mercadorias não atrapalhem a mobilidade urbana, o fluxo de veículos leves e a rotina dos cidadãos, Vieira cita a necessidade de elaboração de soluções criativas e específicas de acordo com a realidade de cada local. Por exemplo, a organização dos varejistas junto ao poder público a partir do entendimento do cenário em que atuam; o estabelecimento de entregas em horários alternativos; a criação de vagas para carga e descarga a serem cobradas com preços diferenciados; a criação de centros de distribuição urbanos; e a distribuição de carga por meio de bicicletas ou minicarros desde pontos específicos localizados na área central. “O fundamental é a articulação entre os diferentes atores – poder público, empresas, residentes, transportadoras e varejistas – na busca por uma utilização harmônica do espaço e das vias públicas”, enfatiza o pesquisador.

Outras pesquisas
O professor José Geraldo Vidal Vieira, que atua desde 2012 na área de logística urbana, conduz e orienta outros trabalhos que buscam identificar as dificuldades de distribuição de cargas urbanas, considerando a estrutura urbana, as regras específicas de cada município e a eficiência logística das empresas. Um dos estudos em andamento analisa a realidade de Sorocaba, cidade onde está instalado um dos campi da UFSCar. O objetivo, nesse caso, é mapear as regras governamentais sobre o transporte de carga no centro de Sorocaba e aplicar questionários junto aos varejistas do centro, que são os recebedores das mercadorias, e com os transportadores que fazem as entregas. “Cruzando as informações dessas três fontes, poderemos identificar os pontos críticos particulares da cidade e propor ações para que tenhamos um melhor funcionamento do espaço urbano, sintonizando as necessidades de mobilidade urbana – facilidade de deslocamento das pessoas – com as da logística urbana, a movimentação de cargas, como mercadorias e produtos em geral. O estudo em Sorocaba também poderá servir de modelo a ser aplicado em outras cidades de mesmo porte”, afirma Vieira.

Outro trabalho em andamento investiga os Planos de Mobilidade Urbana (PlanMob), a serem implantados por 72 cidades brasileiras de médio e grande porte, sob o ponto de vista da logística urbana. O objetivo é investigar se esses Planos estão considerando as especificidades do transporte e mobilidade de cargas como ponto crítico a ser cuidado para proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano. “Nesse caso, vamos também fazer um levantamento de dados junto aos idealizadores dos Planos e buscar identificar se as estratégias e metas traçadas têm aderência com a realidade vivida nas cidades brasileiras”, explica Vieira. Há ainda pesquisa sobre centros de distribuição urbana para cidades históricas que, a partir de experiências de cidades europeias como Paris e Roma, irá analisar a possibilidade de implantação na cidade mineira de Ouro Preto. Nesse sentido, as pesquisas buscam contribuir com a otimização do sistema logístico em áreas urbanas, mitigando os problemas gerados pelo transporte de mercadorias no âmbito de uma economia de mercado.
16/05/2016
13:00:00
23/05/2016
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João Eduardo Justi
Sim
Não
Estudante, Docente/TA, Pesquisador, Visitante
Desafios na área de logística urbana são tema de pesquisa na UFSCar
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