Projeto da UFSCar transforma escolas públicas envolvendo toda a comunidade

Araras, Sorocaba, São Carlos
Transformar social e culturalmente uma escola com a participação de gestores, estudantes, familiares e da comunidade de entorno, além dos agentes educativos e professores é a proposta das Comunidades de Aprendizagem, um projeto de pesquisa e extensão da UFSCar. "É um projeto político pedagógico que a escola escolhe seguir buscando sempre a máxima aprendizagem necessária para conseguirmos uma sociedade da informação para todas as pessoas", explica Fabiana Marini Braga, professora do Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas (DTPP) da UFSCar e uma das integrantes do projeto.

O princípio básico do projeto é a aprendizagem dialógica que, como o próprio nome diz, está embasada no diálogo aberto e respeitoso da escola com a comunidade, de forma que todos possam colaborar para a melhoria da instituição de ensino. Atualmente, são 95 comunidades e 266 escolas brasileiras que desenvolvem uma ou mais ações do projeto, que são chamadas de atuações educativas de êxito. Na América Latina (Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru) são 102 Comunidades e 151 escolas desenvolvendo atuações educativas de êxito". A escola de São Carlos, a EMEB Arthur Natalino Deriggi, é uma das instituições de ensino que realiza o projeto. Ela adotou em 2010 a proposta para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), tornando-se a primeira Comunidade de Aprendizagem de EJA no Brasil.

O projeto Comunidades de Aprendizagem foi criado em 1990 pelo Centro Especial de Investigación em Teorías y Practicas Superadoras de Desigualdades (CREA), localizado na Universidade de Barcelona, na Espanha, grupo que tem por objetivo gerar pesquisa científica capaz de identificar as teorias e práticas para superar as desigualdades e para capacitar profissionais de excelência máxima em ensino e pesquisa.

Fabiana conta que o projeto foi trazido para o Brasil em 2002 pela professora Roseli Rodrigues de Mello, também do DTPP, que estava realizando pós-doutorado na universidade espanhola. Na UFSCar, o projeto Comunidades de Aprendizagem é desenvolvido por um grupo de dez professores, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação do Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa (NIASE).

Em 2012, o Instituto Natura conheceu o projeto realizado pela UFSCar e em 2013 incorporou a ideia como uma de suas metas. "Como o projeto Comunidades de Aprendizagem seguia a linha de atuação do Instituto, eles resolveram abraçar a ideia e investir no processo de difusão, formação e execução do mesmo. O projeto ganhou uma dimensão nacional e internacional com a participação do Instituto", conta Fabiana. Com o Instituto o alcance do projeto aumentou. A UFSCar também tem a mesma atuação do Instituto na divulgação, formação e execução do projeto, mas de forma mais pontual, enquanto o Instituto consegue atender uma quantidade maior de instituições de ensino. "Além disso, um diferencial do Instituto é que ele também forma pessoas das secretarias de Educação para acompanhar a implantação e desenvolvimento do projeto nas escolas", relata Fabiana.

Ela comenta que a proposta das Comunidades de Aprendizagem é oferecer o caminho teórico-metodológico para efetivar um modelo comunitário de escola, com a intenção de alcançar a aprendizagem de máxima qualidade para crianças, jovens e adultos que estudam na escola. "É um projeto de transformação social e cultural que se desenvolve a partir de uma organização que fomenta o diálogo entre comunidades e agentes educativos e professores, no planejamento da escola e de ações que serão realizadas entre todos”.

Para que este objetivo seja realizado são propostas atuações educativas de êxito que, reconhecidas pela comunidade científica internacional, alcançam excelentes resultados em contextos diversos por meio da aprendizagem dialógica, ou seja, do diálogo. As atuações educativas de êxito incluem: Tertúlias Dialógicas, Grupos Interativos, Biblioteca Tutorada, Formação de Familiares, Modelo Dialógico de Resolução de Conflitos, Participação Educativa da Comunidade e Formação Pedagógica Dialógica.

Tertúlias Literárias Dialógicas são encontros semanais em torno da leitura de obras clássicas da literatura de produção nacional e internacional relacionando as histórias com a realidade da vida dos participantes. A Biblioteca Tutorada representa a expansão do horário de atendimento da biblioteca com a participação de voluntariado. Os Grupos Interativos caracterizam-se pela organização da aula em grupos heterogêneos que são acompanhados por pessoas voluntárias para dinamizar a interação dos estudantes em torno de uma atividade elaborada pelo professor. Formação de Familiares é a oferta de atividades formativas para os familiares (aulas de idiomas, palestras, orientação e formação profissional, tertúlias etc). A Participação Educativa da Comunidade é uma ação que envolve este grupo em tomadas de decisão consensuada sobre ações e decisões. O Modelo Dialógico de Resolução de Conflitos é uma iniciativa preventiva que envolve toda a comunidade na elaboração das normas de convivência. E a Formação Pedagógica Dialógica é a capacitação científica e teórica de evidências validadas pela comunidade científica internacional.

Qualquer escola pode adotar o projeto Comunidades de Aprendizagem ou uma ou mais atuações educativas de êxito. O processo de implantação passa por algumas fases. Após tomar conhecimento das bases teóricas e de funcionamento do projeto, os agentes educacionais, professores, estudantes, familiares e comunidade de entorno decidirão se querem ou não iniciar um processo de transformação. Sinalizando positivamente, é o momento de idealizar a escola que querem. A partir dos meios e recursos com os quais a escola já conta, planos a curto, médio e longo prazos são traçados e prioridades estabelecidas. Depois é o momento de planejar, traçando um plano de transformação e estabelecendo a melhor maneira de concretizá-lo. Na sequência entra a fase de consolidação, buscando fomentar a aceleração da aprendizagem com mudanças nos processos educativos, realizando atividades com voluntários em sala de aula e em outros espaços da escola. "Neste momento também se prioriza o desenvolvimento das atuações educativas de êxito mencionadas anteriormente. Cada escola escolhe aquelas que mais se aproxima de suas demandas", diz Fabiana.

Sucesso do projeto

A docente conta que não é possível transformar uma escola sem que todos os envolvidos nela e a comunidade estejam de acordo com as mudanças. "Uma escola que não quer se abrir para a comunidade ou que esta última não queira se envolver com a escola não pode aderir ao projeto", relata.

Osmair Benedito da Silva, assessor pedagógico da EJA da Escola EMEB Arthur Natalino Deriggi, no Bairro Cidade Aracy II, em São Carlos, é responsável pela execução da proposta na escola. Ele trabalha lá desde 2002 e conta que em 2010 a escola aderiu ao Comunidades de Aprendizagem. "No começo o desafio foi grande na organização de todos os envolvidos, visto que é difícil romper com o paradigma da educação formal, mesmo a nossa proposta sempre ter sido baseada no diálogo. Demorou três anos para que pudéssemos começar a executar o projeto com o envolvimento dos professores, estudantes e comunidade", comenta.

A escola tem 180 alunos de 15 a 65 anos, 16 professores e conta com cerca de 30 voluntários entre familiares, ex-alunos e pessoas da UFSCar. Osmair diz que eles realizam todas as atuações de êxito do projeto e que percebeu uma significativa mudança na escola antes e depois do Comunidades de Aprendizagem. "Tivemos uma diminuição da evasão escolar, uma melhor convivência entre os mais novos e mais velhos em sala de aula, e ótimos resultados quantitativos e qualitativos no aprendizado", aponta.

Qualquer escola pode adotar o projeto Comunidades de Aprendizagem. Mais informações podem ser obtidas pelos sites www.comunidadedeaprendizagem.com ou www.niase.ufscar.br/comunidades-de-aprendizagem, pelo email niase@ufscar.br ou pelo telefone (16) 3351-8277.
13/06/2016
13:00:00
20/06/2016
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Mariana Ignatios
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Estudante, Docente/TA, Pesquisador, Visitante
Para transformar uma escola, toda a comunidade deve participar do projeto. Foto: Mariana Ignatios
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