Professor da UFSCar estuda os efeitos da Meditação Integrativa em idosos

Araras, Sorocaba, São Carlos
Adilson Sanches Marques, professor visitante do Departamento de Metodologia de Ensino (DME) da UFSCar, realiza pesquisa de pós-doutorado sobre os efeitos da Meditação Integrativa em idosos (acima de 60 anos) que se consideram médiuns. A pesquisa tem supervisão da docente do DME Maria Waldenez de Oliveira, coordenadora do Projeto Mapeamento de Práticas de Educação Popular e Saúde (MaPEPS), que faz parte do Grupo de Pesquisa Práticas Sociais e Processos Educativos do Departamento.

O pesquisador estudou as práticas sociais promovidas pela ONG Círculo de São Francisco, que foi criada em 2003, cujo trabalho começou a se delinear em 1999. A ONG atua na pesquisa e difusão de terapias naturais, complementares e integrativas. "Eu fui convidado em 2001 para participar de um estudo que resultou na criação da ONG, quando me tornei voluntário. E, dentre as várias atividades da entidade, resolvi estudar no pós-doutorado a prática da Meditação Integrativa com idosos, criada e realizada desde 2003".

Este tipo de meditação se difere de outras, pois por meio de referencial simbólico, adapta-se as induções às crenças do grupo participante, seja ateu ou com alguma religião, e visa "integrar" o ego (parte da consciência voltada ao mundo exterior) e o self (parte da consciência voltada ao mundo interior). Adilson explica que é uma meditação guiada que busca unir as duas polaridades da consciência - o ego e o self - diferente de alguns tipos de meditação que buscam mais um ou o outro. "Quem é muito preso ao ego é mais ativo, mais voltado à transformação social; e quem é muito voltado ao self é focado no mundo interior e, em alguns casos, se isolando das pessoas, do mundo exterior. Ao unir estas duas dimensões conscienciais, a pessoa consegue vivenciar o mundo interior de uma forma plena, e também o mundo exterior", explica.

E, para tanto, as induções durante a prática meditativa são feitas para relaxar a mente e conseguir, sem perder o estado de vigília, abrir-se para o self, de forma que sua energia propicie equilíbrio mental, emocional e físico. "O equilíbrio na relação com os mundos exterior e interior favorece um bem-estar físico, mental e espiritual, e, consequentemente, propicia mais felicidade", relata o pesquisador.

Adilson é educador da Universidade Aberta da Terceira Idade (UATI), em São Carlos, na área temática "Cultura e Memória", onde inseriu a prática da Meditação Integrativa a partir de 2004. Para a pesquisa de pós-doutorado, Adilson decidiu analisar as narrativas orais de idosos que afirmavam serem médiuns, ou seja, que são clarividentes, intuitivos e sensitivos, e que praticam a Meditação Integrativa na ONG Círculo de São Francisco e na UATI. "Com o tempo, alguns idosos começaram a relatar após a prática o que chamo de "narrativas visionárias", termo que Immanuel Kant utilizou para se referir às narrativas metafísicas de Swedenborg, no século XVIII”. Ele descobriu que os idosos que afirmavam serem médiuns eram os que apresentavam as narrativas mais curiosas e que diziam também sentir os benefícios da prática para seu equilíbrio. "As informações que eles relataram são de que sentem um bem-estar após a meditação, um alívio de sintomas como tontura, dor de cabeça ou dor de estômago, sintomas comuns entre os idosos que se dizem sensitivos".

A pesquisa não visa discutir se a mediunidade é fraude ou não. Usando o referencial teórico do grupo de pesquisa, Adilson estuda uma prática social que a ONG realiza, que é de saúde popular, a Meditação Integrativa e seus efeitos psíquicos e fisiológicos entre os idosos que se dizem médiuns. "O objetivo é estudar seus relatos de possíveis curas com a prática", explica o pesquisador.

Ele acredita que essas pessoas são capazes de acessar o Mundus Imaginalis, conceito do estudioso francês chamado Henry Corbin, não se tratando de mera alucinação. Além dos relatos, Adilson registrou algumas fotografias com uma câmera termográfica, para observar se havia mudanças fisiológicas antes e após a prática meditativa. "Um exemplo que trago na pesquisa, utilizando as imagens, é de uma idosa que relata dor de cabeça do lado direito. De fato, pela imagem, vemos uma mancha branca (concentração de maior calor) do lado direito e no meio da testa, marcando a tensão e a dor nestes pontos. Depois da prática, ela relata que a dor passou e na imagem vemos que o calor se concentrou em uma região central da cabeça, entre o nariz e a boca, ou seja, uma distribuição mais homogênea e simétrica entre as faces, demonstrando uma mudança fisiológica significativa", comenta.

A N.A.C., que pratica a meditação há cinco anos, diz que as sensações são muito diferentes em cada prática meditativa. Ela conta que as dores no joelho, causadas por desgaste nas articulações, diminuem quando medita. “Durante a meditação costumo ‘sair do ar’ e ver luzes coloridas. Em uma ocasião, vi um furacão de cor lilás claro que descia em direção à Terra e um roxo escuro em frente ao meu rosto. Neste dia terminei a prática muito relaxada. Quase dormi durante a meditação! Sempre me sinto bem após a prática”, relata.

Adilson concluiu na pesquisa, que começou em maio de 2015 e deve terminar em novembro deste ano, que a meditação integrativa traz benefícios nos níveis físico, emocional e mental para qualquer pessoa que pratica, porém, com este público que se considera médium, o equilíbrio ainda é mais evidente, pois são os que mais reclamam de "perturbações psíquicas" no cotidiano, causadas, segundo afirmam, pelo contato com "energias negativas" de ambientes e pessoas, sugerindo que a prática da meditação seja inserida nos centros espíritas, de umbanda e outros que realizam práticas mediúnicas.

O pesquisador apresentou seu trabalho em maio deste ano em um evento em Portugal, o Encontro Umbanda, Cultura de Paz e Educação Popular. Em setembro participará do Simpósio Internacional de Práticas Tradicionais e Contemplativas, na Unifesp; no Congresso Paulo Freire, no Chile; e na Jornada de Educação e Espiritualidade que acontecerá na UFSCar, no dia 24 de setembro. Mais informações podem ser obtidas no blog da pesquisa.
15/08/2016
13:00:00
22/08/2016
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Mariana Ignatios
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Estudante, Docente/TA, Pesquisador, Visitante
Usando referencial teórico, Adilson estuda uma prática social (Foto: Matheus Mazini)
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