UFSCar debate a visibilidade de travestis e transexuais na Rádio UFSCar
Araras, Lagoa do Sino, Sorocaba, São Carlos
Conversa aconteceu no marco do Dia da Visibilidade Trans
No dia 29 de janeiro, é celebrado no Brasil o Dia da Visibilidade Trans, criado em 2004 justamente para promover essa visibilidade e lembrar a luta de pessoas transgêneras (travestis e transexuais) pelo respeito à identidade de gênero e aos direitos fundamentais que são cotidianamente negados a essa população. Inspirada pela data, a Secretaria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (Saade) da UFSCar promoveu debate na Rádio UFSCar que contou com a participação de Gustavo Nazareth, homem trans que é estudante no curso de Ciências Sociais da Universidade; Ângela Lopes, transativista, integrante do Fórum Paulista de Travestis e Transexuais e Diretora de Políticas para a Diversidade Sexual da Prefeitura Municipal de São Carlos de 2013 a 2015; e Natália Cristina, estudante de Enfermagem na UFSCar e Presidente da Liga de Diversidade e suas Implicações na Saúde do curso. A entrevista foi realizada em uma parceria com a Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) e contou também com a participação de Natália Rejane Salim, docente do Departamento de Enfermagem que está responsável pela área de Gênero e Diversidade na Saade, e de Djalma Ribeiro Junior, Secretário de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade.
Ângela Lopes iniciou a conversa contrapondo a visibilidade cotidiana das pessoas transgêneras à sua invisibilidade perante o poder público. "Existe a visibilidade diária, porque eu sou um corpo que afronta diariamente. Uma ida à padaria, ao supermercado, é a possibilidade de sofrer uma ofensa, um olhar de reprovação Portanto, eu sou visível socialmente, existe essa visibilidade que é diária, e na mesma proporção eu sou invisível no que diz respeito às políticas públicas", compartilhou Lopes com ouvintes da Rádio UFSCar. "Existe um conflito social e o poder público endossa esse conflito na medida da sua omissão. Há uma rejeição social que é endossada e perpetuada por essa omissão. Assim, falar de visibilidade e invisibilidade é falar desse paradoxo, do quanto eu sou visível e, na mesma proporção, invisível na questão das políticas públicas", concluiu.
Gustavo Nazareth, ao refletir sobre visibilidade e invisibilidade na Universidade, lembrou da espera e de dificuldades para conseguir que seu nome social fosse usado em documentos de identificação estudantil, bem como da relevância da construção coletiva com a Saade. "[Nessa situação], você acaba falando 'poxa, aqui não é o meu lugar', e a vontade de sair é muito grande. É exatamente por isso que as meninas e os meninos trans saem das escolas e não estão dentro das universidades. Parece um pedacinho de papel bobo Mas quando você está dentro da universidade e os seus direitos são garantidos, fica muito mais fácil de continuar, se formar, fazer um doutorado e conseguir mudar a realidade de tantas outras pessoas, de falar 'isto é possível, eu estou aqui', que a Instituição tem órgãos que vão te dar a mão e falar 'olha, é esse o caminho que você tem de seguir'", avaliou.
Também falando sobre o papel da Saade, o Secretário Djalma Ribeiro Junior destacou como ela surgiu como respostas às demandas presentes na Universidade e com o papel de garantir direitos, sempre na perspectiva participativa e dialógica. "A Universidade cada vez mais está se tornando um espaço em que a diversidade está presente, e é preciso olhar e cuidar para que a convivência com essa diversidade seja harmoniosa. No ano passado, avançamos muito ao conseguir construir a nossa Política de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade, com a participação de toda a comunidade universitária e um grande destaque para os coletivos que militam em todas as áreas que a Saade trabalha. A gente tem agora uma política, aprovada pelo Conselho Universitário em outubro do ano passado, com uma série de diretrizes. O desafio é colocar essas diretrizes na prática e, se a gente construiu junto, vamos ter de colocar em prática junto", afirmou, destacando o papel dos processos de formação na convivência com a diversidade e, assim, para a garantia de direitos.
Este olhar para os processos de formação foi justamente o que motivou a criação da Liga de Diversidade e suas Implicações na Saúde, como relatou a sua Presidente. "Apesar de a gente ter essa visibilidade, principalmente no momento em que uma pessoa trans, por exemplo, chega na unidade de Saúde e é visível, ao mesmo tempo ela é invisível para aquele sistema de Saúde. [A partir dessa reflexão], a gente identificou uma falha no nosso currículo, já que em geral essas questões de diversidade e gênero não são abordadas. Nós estamos formando profissionais de Saúde com essa fragilidade, e foi a partir disso [dessa identificação] que a gente começou as atividades", contou Natália Cristina. Ao desafio da formação destacado pela estudante, a professora Natália Salim acrescentou o desafio da produção de conhecimento. "Temos um desafio acadêmico importante, que é o desenvolvimento de estudos, a realização de pesquisas, produzir cientificamente para levar para fora evidências e, também, as vozes dessas pessoas, para construir políticas, novas diretrizes, e para a gente mudar a realidade cada vez mais, com isto que a gente está fazendo aqui hoje, com este compartilhar", registrou.
A íntegra da entrevista, com uma duração total de 34 minutos, pode ser conferida no site da Rádio UFSCar. Mais informações sobre a Política de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade da UFSCar e as atividades da Saade como um todo podem ser conferidas no Blog da Secretaria.
Ângela Lopes iniciou a conversa contrapondo a visibilidade cotidiana das pessoas transgêneras à sua invisibilidade perante o poder público. "Existe a visibilidade diária, porque eu sou um corpo que afronta diariamente. Uma ida à padaria, ao supermercado, é a possibilidade de sofrer uma ofensa, um olhar de reprovação Portanto, eu sou visível socialmente, existe essa visibilidade que é diária, e na mesma proporção eu sou invisível no que diz respeito às políticas públicas", compartilhou Lopes com ouvintes da Rádio UFSCar. "Existe um conflito social e o poder público endossa esse conflito na medida da sua omissão. Há uma rejeição social que é endossada e perpetuada por essa omissão. Assim, falar de visibilidade e invisibilidade é falar desse paradoxo, do quanto eu sou visível e, na mesma proporção, invisível na questão das políticas públicas", concluiu.
Gustavo Nazareth, ao refletir sobre visibilidade e invisibilidade na Universidade, lembrou da espera e de dificuldades para conseguir que seu nome social fosse usado em documentos de identificação estudantil, bem como da relevância da construção coletiva com a Saade. "[Nessa situação], você acaba falando 'poxa, aqui não é o meu lugar', e a vontade de sair é muito grande. É exatamente por isso que as meninas e os meninos trans saem das escolas e não estão dentro das universidades. Parece um pedacinho de papel bobo Mas quando você está dentro da universidade e os seus direitos são garantidos, fica muito mais fácil de continuar, se formar, fazer um doutorado e conseguir mudar a realidade de tantas outras pessoas, de falar 'isto é possível, eu estou aqui', que a Instituição tem órgãos que vão te dar a mão e falar 'olha, é esse o caminho que você tem de seguir'", avaliou.
Também falando sobre o papel da Saade, o Secretário Djalma Ribeiro Junior destacou como ela surgiu como respostas às demandas presentes na Universidade e com o papel de garantir direitos, sempre na perspectiva participativa e dialógica. "A Universidade cada vez mais está se tornando um espaço em que a diversidade está presente, e é preciso olhar e cuidar para que a convivência com essa diversidade seja harmoniosa. No ano passado, avançamos muito ao conseguir construir a nossa Política de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade, com a participação de toda a comunidade universitária e um grande destaque para os coletivos que militam em todas as áreas que a Saade trabalha. A gente tem agora uma política, aprovada pelo Conselho Universitário em outubro do ano passado, com uma série de diretrizes. O desafio é colocar essas diretrizes na prática e, se a gente construiu junto, vamos ter de colocar em prática junto", afirmou, destacando o papel dos processos de formação na convivência com a diversidade e, assim, para a garantia de direitos.
Este olhar para os processos de formação foi justamente o que motivou a criação da Liga de Diversidade e suas Implicações na Saúde, como relatou a sua Presidente. "Apesar de a gente ter essa visibilidade, principalmente no momento em que uma pessoa trans, por exemplo, chega na unidade de Saúde e é visível, ao mesmo tempo ela é invisível para aquele sistema de Saúde. [A partir dessa reflexão], a gente identificou uma falha no nosso currículo, já que em geral essas questões de diversidade e gênero não são abordadas. Nós estamos formando profissionais de Saúde com essa fragilidade, e foi a partir disso [dessa identificação] que a gente começou as atividades", contou Natália Cristina. Ao desafio da formação destacado pela estudante, a professora Natália Salim acrescentou o desafio da produção de conhecimento. "Temos um desafio acadêmico importante, que é o desenvolvimento de estudos, a realização de pesquisas, produzir cientificamente para levar para fora evidências e, também, as vozes dessas pessoas, para construir políticas, novas diretrizes, e para a gente mudar a realidade cada vez mais, com isto que a gente está fazendo aqui hoje, com este compartilhar", registrou.
A íntegra da entrevista, com uma duração total de 34 minutos, pode ser conferida no site da Rádio UFSCar. Mais informações sobre a Política de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade da UFSCar e as atividades da Saade como um todo podem ser conferidas no Blog da Secretaria.
06/02/2017
14:53:00
17/02/2017
23:59:00
Mariana Pezzo
Não
Não
Estudante, Docente/TA, Pesquisador, Visitante
Entrevista marcou o Dia da Visibilidade Trans. Foto: Matheus M. Ramos/CCS.
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