Pesquisa contribui para a compreensão das primeiras relações ecológicas
Lagoa do Sino
Em fósseis de mais de 500 milhões de anos, pesquisador encontrou evidências raríssimas de predação
Animais interagem entre si, competindo por espaço e alimento - e demais recursos - ou predando uns aos outros, dentre várias outras relações ecológicas, certo? Embora pareça óbvio, nem sempre foi assim. Datam do chamado Período Ediacarano (compreendido entre 635 e 541 milhões de anos atrás) os primeiros registros fósseis de animais e, também, de interações ecológicas como a competição e a predação. Também são do Ediacarano os primeiros seres biomineralizados - ou seja, com tecidos rígidos como conchas e carapaças, resultantes de processos de mineralização -, uma das inovações de maior impacto na história da vida. Estas novidades levaram à escalada e à organização sistemática de cadeias alimentares, comunidades e nichos no período seguinte - o Cambriano -, configurando a "alvorada da vida animal" em nosso planeta, como coloca o pesquisador Bruno Becker-Kerber, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais (PPGERN) da UFSCar.
Em sua pesquisa de mestrado - que resultou recentemente em artigo publicado no periódico Scientific Reports, do grupo Nature -, Becker-Kerber encontrou evidências importantes para a compreensão das origens dessas primeiras interações, incluindo o terceiro registro de marcas de predação (pequenos buracos nas carapaças dos animais estudados) feito em todo o mundo para o Ediacarano - antes, tais evidências haviam sido registradas para sítios paleontológicos na China e na Namíbia. A pesquisa foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Geoquímica e Geotectônica da Universidade de São Paulo (USP), sob a orientação de Juliana de Moraes Leme, com a colaboração de Mírian Liza Alves Forancelli Pacheco, docente do Departamento de Biologia (DBio-So) do Campus Sorocaba da UFSCar e, hoje, orientadora de Becker-Kerber no doutorado.
Em seus estudos, Becker-Kerber analisou 291 fósseis de Cloudina - um dos gêneros de animais com carapaça mais abundantes no final do Ediacarano - encontrados na Formação Tamengo do Grupo Corumbá, sítio paleontológico localizado no Mato Grosso do Sul. Todos estavam associados a biofilmes microbianos, em uma relação mais íntima do que jamais reportado anteriormente, configurando o primeiro registro de uma outra interação ecológica fundamental, a simbiose. Além disso, os resultados da pesquisa indicam que essa associação pode ter sido importante no desenvolvimento das carapaças na Cloudina. "No entanto, outros estudos são necessários para podermos falar que tipo de simbiose era esta. O que podemos dizer com certeza é que o cenário paleoecológico estava mudando e que as interações ecológicas eram mais complexas do que imaginávamos", explica o pesquisador. "Já as evidências de predação corroboram as teorias de coevolução entre predadores e presas, ou seja, a hipótese de que a pressão de predação teve papel essencial no desenvolvimento das estruturas rígidas, que serviriam de proteção", acrescenta ele.
O estudo também configura um dos raros registros de evidências de competição para o Ediacarano, o que mais uma vez indica que as interações ecológicas estavam ficando mais complexas no período. O que sugere essa competição são mudanças drásticas da direção de crescimento dos tubos de Cloudina na presença de outros indivíduos, o que indica competição intraespecífica por recursos e, também, uma capacidade sensorial - ou seja, de percepção do meio e alteração da direção de crescimento na presença de outra Cloudina - mais elevada do que a imaginada até agora para a vida macroscópica na transição entre o Ediacarano e o Cambriano.
Em seu doutorado, Becker-Kerber continua estudando o Ediacarano, mas em um sítio mais antigo, na Bacia do Itajaí. Paralelamente, o pesquisador também estuda processos de fossilização - ou seja, como organismos acabam se preservando nas rochas -, como os que ocorreram no período Devoniano na Bacia do Paraná. Este trabalho também já resultou em uma publicação, no periódico Palaios, em abril deste ano.
Legenda da ilustração: Reconstrução da Cloudina em vida. 1. Segmento em forma de funil dos tubos de Cloudina. 2. Perfurações feitas por predadores macrófagos. 3. Biofilmes desenvolvidos em associação com a superfície externa da Cloudina. 4. Mudanças na direção de crescimento associadas à competição por espaço. 5. Esteiras microbianas. 6. Estruturas semelhantes a tentáculos (conjectural).
Em sua pesquisa de mestrado - que resultou recentemente em artigo publicado no periódico Scientific Reports, do grupo Nature -, Becker-Kerber encontrou evidências importantes para a compreensão das origens dessas primeiras interações, incluindo o terceiro registro de marcas de predação (pequenos buracos nas carapaças dos animais estudados) feito em todo o mundo para o Ediacarano - antes, tais evidências haviam sido registradas para sítios paleontológicos na China e na Namíbia. A pesquisa foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Geoquímica e Geotectônica da Universidade de São Paulo (USP), sob a orientação de Juliana de Moraes Leme, com a colaboração de Mírian Liza Alves Forancelli Pacheco, docente do Departamento de Biologia (DBio-So) do Campus Sorocaba da UFSCar e, hoje, orientadora de Becker-Kerber no doutorado.
Em seus estudos, Becker-Kerber analisou 291 fósseis de Cloudina - um dos gêneros de animais com carapaça mais abundantes no final do Ediacarano - encontrados na Formação Tamengo do Grupo Corumbá, sítio paleontológico localizado no Mato Grosso do Sul. Todos estavam associados a biofilmes microbianos, em uma relação mais íntima do que jamais reportado anteriormente, configurando o primeiro registro de uma outra interação ecológica fundamental, a simbiose. Além disso, os resultados da pesquisa indicam que essa associação pode ter sido importante no desenvolvimento das carapaças na Cloudina. "No entanto, outros estudos são necessários para podermos falar que tipo de simbiose era esta. O que podemos dizer com certeza é que o cenário paleoecológico estava mudando e que as interações ecológicas eram mais complexas do que imaginávamos", explica o pesquisador. "Já as evidências de predação corroboram as teorias de coevolução entre predadores e presas, ou seja, a hipótese de que a pressão de predação teve papel essencial no desenvolvimento das estruturas rígidas, que serviriam de proteção", acrescenta ele.
O estudo também configura um dos raros registros de evidências de competição para o Ediacarano, o que mais uma vez indica que as interações ecológicas estavam ficando mais complexas no período. O que sugere essa competição são mudanças drásticas da direção de crescimento dos tubos de Cloudina na presença de outros indivíduos, o que indica competição intraespecífica por recursos e, também, uma capacidade sensorial - ou seja, de percepção do meio e alteração da direção de crescimento na presença de outra Cloudina - mais elevada do que a imaginada até agora para a vida macroscópica na transição entre o Ediacarano e o Cambriano.
Em seu doutorado, Becker-Kerber continua estudando o Ediacarano, mas em um sítio mais antigo, na Bacia do Itajaí. Paralelamente, o pesquisador também estuda processos de fossilização - ou seja, como organismos acabam se preservando nas rochas -, como os que ocorreram no período Devoniano na Bacia do Paraná. Este trabalho também já resultou em uma publicação, no periódico Palaios, em abril deste ano.
Legenda da ilustração: Reconstrução da Cloudina em vida. 1. Segmento em forma de funil dos tubos de Cloudina. 2. Perfurações feitas por predadores macrófagos. 3. Biofilmes desenvolvidos em associação com a superfície externa da Cloudina. 4. Mudanças na direção de crescimento associadas à competição por espaço. 5. Esteiras microbianas. 6. Estruturas semelhantes a tentáculos (conjectural).
16/08/2017
13:00:00
16/09/2017
23:59:00
Mariana Pezzo
Sim
Não
Estudante, Docente/TA, Pesquisador, Visitante
Reconstrução da Cloudina em vida. Imagem: Bruno Becker-Kerber.
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