Livro aborda os estigmas dos corpos gordos no Ocidente
Araras, Lagoa do Sino, Sorocaba, São Carlos
Obra de pesquisadora da UFSCar será lançada no dia 5 de outubro, em São Paulo
No próximo sábado, dia 5 de outubro, será realizado o lançamento do livro "Só a água sustenta o nosso peso", de Camila Fontenele, trabalhadora cultural e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos da Condição Humana (PPGECH-So) do Campus Sorocaba da UFSCar. A obra investiga corpos gordos e baleias, explorando seus parentescos e conflitos, além das violências que os atravessam. "Ser imensurável em um mundo tão 'humano' - normativo e, portanto, exterminador - pode parecer inadequado. Por isso, uma das proposições do livro é trair as expectativas sobre os estigmas da gordura e as fronteiras entre humanidade e monstruosidade", afirma a autora.
O livro é resultado da pesquisa de mestrado que Fontenele realizou na UFSCar sob orientação da professora Viviane de Melo Mendonça, do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE-So) do Campus Sorocaba. A investigação teve como principal objetivo imaginar radicalmente o corpo gordo através (e com) as baleias e foi a primeira dissertação do PPGECH-So a ser publicada em formato de livro.
"A pesquisa foi organizada em três tópicos moventes: Cauda, Barriga e Espiráculo. Neles, percorro a historicização da gordura no Ocidente sob uma perspectiva crítica, considerando e compreendendo o viés colonial que, posteriormente, contribuiu para a efetiva patologização desse corpo. Relaciono essas informações com as baleias, que também foram envolvidas nesse cenário racista, marcado por aniquilações, exploração, monstruosidade e até mesmo pela utilização de suas barbatanas na fabricação de espartilhos, destinados a moldar cinturas", descreve a autora.
Ainda de acordo com ela, a ideia foi entrelaçar os tópicos entre os seres aquáticos e as pessoas corpulentas, buscando desvendar as confluências e os conflitos entre essas corporeidades - ultrapassando a visão pejorativa, mas também abordando e nomeando as violências que atravessam a vida dessas pessoas e animais. "No entanto, procurei também traçar uma rota desviante que permitisse alcançar, mesmo que de forma efêmera, espaços fabulativos, onde a radicalidade da presença gorda é vida", completa.
O livro situa-se em um contexto no qual os estudos sobre o corpo gordo no Ocidente, principalmente nos dias atuais, muitas vezes são reduzidos a constatações apenas sobre a saúde e a beleza, escondendo uma herança colonial e imperial. "Oculta-se, por exemplo, que o ódio da gordura no Ocidente tem relação com as leituras que os europeus faziam dos povos não-ocidentais, especialmente africanos. A partir disso, vem a compreensão de que o desenvolvimento das políticas de anti-gordura caminham de mãos dadas com as políticas de anti-negritude", avalia Fontenele.
"Assim, acredito ser de extrema importância abordar as corporalidades gordas com a complexidade que lhes é devida, reconhecendo as ficções de poder que sustentam o projeto civilizatório de corpo. Dessa forma, poderemos tensionar os estigmas e normatividades que só servem para aniquilar corpos dissidentes e racializados. Por outro lado, a minha pesquisa - e esse é um ponto imprescindível - visa ir além das violências. Dessa forma, proponho um exercício fabulativo diante do debate, no qual essas vidas humanas e não humanas (como as baleias), em confluência, têm o potencial de moldar futuros", conclui ela.
O lançamento da obra acontece no Centro Cultural A Escrevedeira, localizado na Rua Isabel de Castela, 141, Vila Madalena, São Paulo, a partir das 15 horas.
O livro é resultado da pesquisa de mestrado que Fontenele realizou na UFSCar sob orientação da professora Viviane de Melo Mendonça, do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE-So) do Campus Sorocaba. A investigação teve como principal objetivo imaginar radicalmente o corpo gordo através (e com) as baleias e foi a primeira dissertação do PPGECH-So a ser publicada em formato de livro.
"A pesquisa foi organizada em três tópicos moventes: Cauda, Barriga e Espiráculo. Neles, percorro a historicização da gordura no Ocidente sob uma perspectiva crítica, considerando e compreendendo o viés colonial que, posteriormente, contribuiu para a efetiva patologização desse corpo. Relaciono essas informações com as baleias, que também foram envolvidas nesse cenário racista, marcado por aniquilações, exploração, monstruosidade e até mesmo pela utilização de suas barbatanas na fabricação de espartilhos, destinados a moldar cinturas", descreve a autora.
Ainda de acordo com ela, a ideia foi entrelaçar os tópicos entre os seres aquáticos e as pessoas corpulentas, buscando desvendar as confluências e os conflitos entre essas corporeidades - ultrapassando a visão pejorativa, mas também abordando e nomeando as violências que atravessam a vida dessas pessoas e animais. "No entanto, procurei também traçar uma rota desviante que permitisse alcançar, mesmo que de forma efêmera, espaços fabulativos, onde a radicalidade da presença gorda é vida", completa.
O livro situa-se em um contexto no qual os estudos sobre o corpo gordo no Ocidente, principalmente nos dias atuais, muitas vezes são reduzidos a constatações apenas sobre a saúde e a beleza, escondendo uma herança colonial e imperial. "Oculta-se, por exemplo, que o ódio da gordura no Ocidente tem relação com as leituras que os europeus faziam dos povos não-ocidentais, especialmente africanos. A partir disso, vem a compreensão de que o desenvolvimento das políticas de anti-gordura caminham de mãos dadas com as políticas de anti-negritude", avalia Fontenele.
"Assim, acredito ser de extrema importância abordar as corporalidades gordas com a complexidade que lhes é devida, reconhecendo as ficções de poder que sustentam o projeto civilizatório de corpo. Dessa forma, poderemos tensionar os estigmas e normatividades que só servem para aniquilar corpos dissidentes e racializados. Por outro lado, a minha pesquisa - e esse é um ponto imprescindível - visa ir além das violências. Dessa forma, proponho um exercício fabulativo diante do debate, no qual essas vidas humanas e não humanas (como as baleias), em confluência, têm o potencial de moldar futuros", conclui ela.
O lançamento da obra acontece no Centro Cultural A Escrevedeira, localizado na Rua Isabel de Castela, 141, Vila Madalena, São Paulo, a partir das 15 horas.
02/10/2024
13:00:00
17/10/2024
18:00:00
João Eduardo Justi
Sim
Não
Estudante, Foreign Visitor, Docente/TA, Pesquisador, Visitante
Obra de pesquisadora da UFSCar será lançada no dia 5 de outubro, em São Paulo (Imagem: CCS)
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